A pandemia da COVID-19 deixou o mundo do futebol em suspenso, mas muito foi feito nos últimos meses para ajudar quem mais precisa. Milhões de euros foram gastos em material médico, toneladas produtos alimentares e outros bens de primeira necessidade foram distribuídos pelos mais necessitados, sem esquecer também a cedência de instalações e apoio direto aos hospitais, e a ajuda financeira aos clubes e jogadores mais afetados pela suspensão do futebol.
São, portanto, inúmeros os exemplos de figuras do futebol nacional e internacional que deixaram a sua marca neste período crítico. Infelizmente, só podemos dar conta de alguns.
Em Portugal, a FPF decidiu criar um fundo de apoio ao futebol e futsal não-profissionais de seniores masculinos e femininos, no valor de 4,7 milhões de euros. A medida visa auxiliar os emblemas que viram a Federação decidir o cancelamento dos campeonatos seniores não profissionais de futebol e futsal da época 2019/20 devido à pandemia, depois de já ter feito o mesmo nos escalões de formação, numa decisão tomada a 27 de março.
Este fundo de apoio soma-se "à linha de crédito de um milhão de euros que a FPF abriu em 19 de março, também destinada aos clubes não profissionais de futebol e de futsal".
Uma das notícias mais faladas foi o facto de a Seleção Nacional - jogadores, equipa técnica, staff e dirigentes de topo - ter abdicado de 50 por cento do prémio de qualificação para o Euro 2020, entretanto adiado para 2021, no valor de um pouco mais de um milhão de euros, na totalidade, para ajudarem as ligas não profissionais. Este montante junta-se aos já referidos 4,7 milhões de euros (chega aos seis milhões, sensivelmente) disponibilizados pela FPF.
A Federação juntou-se ainda à SIC para desenvolver a campanha ‘Unidos por Portugal’. A iniciativa recolheu 594.567 euros, montante que resultou de donativos privados, mas também da contribuição de marcas e empresas que se associaram à campanha, e que servirão para a compra de material para combater a pandemia da COVID-19.
Entre os clubes profissionais, também foram vários os exemplos de solidariedade. O Benfica doou cerca de um milhão de euros para a aquisição de equipamentos para o Serviço Nacional de Saúde (SNS), nomeadamente, ventiladores, máscaras e outro material de proteção. O clube da Luz adquiriu ainda três ventiladores, através da Fundação Benfica, que foram colocados à disposição do SNS, tendo ainda prestado, em parceria com a GNR, um "apoio social de emergência a cerca de 3 mil idosos isolados e já sinalizados ao abrigo do 'Programa Apoio 65 - Idosos em Segurança'".
Com o arranque da Telescola, Haris Seferovic decidiu comproar vários computadores portáteis e doá-los à plataforma Student Keep, que trabalha com o Ministério da Educação e "fornece dispositivos aos alunos necessitados".
Também o SC Braga anunciou ter adquirido 10 ventiladores, 15.500 máscaras e 500 fatos de proteção hospitalar para doar ao Hospital de Braga, num valor que "ronda os 270.000 euros". O presidente do Moreirense, Vítor Magalhães, também ofereceu 10 ventiladores, no valor de cerca de 250 mil euros, ao Hospital Senhora da Oliveira, no concelho de Guimarães.
No Sporting, Frederico Varandas voltou ao ativo como militar e médico para ajudar na luta contra a pandemia, durante o estado de emergência. O clube 'leonino' disponibilizou ainda ao Governo o pavilhão João Rocha e o relvado sintético junto a este recinto, para a instalação de hospitais de campanha. A Juventude Leonina, através dos seus núcleos do Norte, de Odivelas e Braga, também levou a cabo um conjunto de doações a hospitais e bombeiros.
A jogadora Carolina Mendes, da equipa de futebol feminino dos 'leões', realizou um leilão solidário de camisolas com outros futebolistas, através da rede social Instagram. As verbas reverteram para a associação Comunidade Vida e Paz, que se dedica ao apoio aos sem-abrigo.
Também o FC Porto ofereceu o seu pavilhão para que sirva de hospital de campanha ou de local onde os profissionais de saúde possam descansar, tendo ainda ajudado no fornecimento de refeições para o pessoal hospitalar. Tiquinho Soares adquiriu uma centena de cabazes com produtos alimentares para distribuir nos bairros onde cresceu, no Brasil.
A claque 'Super Dragões' também distribuiu bens essenciais a idosos e famílias com crianças, que se encontram em isolamento devido à COVID-19. A claque 'azul e branca' estendeu a sua ajuda para fora das 'fronteiras' da cidade do Porto, chegando mesmo a Braga e Famalicão, onde tinha visto serem sinalizados casos urgentes de idosos e famílias a precisarem de alimentos.
Destaque, ainda, para o contributo de Cristiano Ronaldo, em conjunto com Jorge Mendes, para equipar duas unidades de cuidados intensivos do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e do Hospital de Santo António, no Porto. O avançado da Juventus e o empresário doaram ainda cinco ventiladores ao Serviço de Saúde da Região Autónoma da Madeira.
Importa referir, também, a iniciativa solidária "Do Futebol para a Vida", criada por um pequeno grupo de jogadores do Campeonato de Portugal, que já reuniu mais 33 mil euros para apoiar jogadores ou treinadores dos campeonatos não profissionais que estejam a passar por dificuldades por causa da pandemia.
À causa responderam Bruno Fernandes, Silas, Carlos Vinícius, Chiquinho e Wilson Eduardo, entre outras figuras do desporto português. Rúben Amorim,treinador do Sporting, associou-se ao movimento e fez questão de pagar a renda de casa a um antigo jogador seu no Casa Pia, pois este estava em dificuldades e em vias de ser despejado.
Mais recentemente, doze atuais e antigos futebolistas portugueses doaram 50 mil máscaras cirúrgicas, 10 mil fatos de proteção e 100 mil luvas, a diferentes unidades de saúde em Portugal. A iniciativa foi proposta por Adrien Silva e contou com a adesão de Ruben Macedo, Ricardo Pereira, João Mário, Éder, João Pereira, William Carvalho, Nuno Gomes, Gelson Martins, Gil Dias, João Moutinho e José Bosingwa.
A título individual, Cédric Soares decidiu oferecer material médico e de apoio ao serviço de urgência básica do Montijo. Num vídeo disponibilizado nas redes sociais, é explicado que o internacional português, atualmente ao serviço do Arsenal, disponibilizou dois monitores cardíacos, uma marquesa elétrica, um carro multifuncional, um carro de urgência, dois bancos de punção, dois suportes de braço para punção, quatro termómetros, uma televisão, dois cadeirões de pausa, três cadeiras de apoio, seis cadeiras de secretária, uma máquina de água quente e 50 socas aos profissionais serviço de urgência básica do Montijo, no distrito de Setúbal.
Exemplos de solidariedade lá fora
Dietmar Hopp, presidente do Hoffenheim e o dirigente mais odiado do futebol da Alemanha, fez saber que a sua empresa biofarmacêutica CureVac está na fase final do desenvolvimento de uma vacina para acabar com a pandemia da COVID-19.
Outro dos (muitos) exemplos foi dado pelos futebolistas da seleção nacional alemã, que doaram 2,5 milhões de euros para ajudar a combater a pandemia. A iniciativa partiu dos atletas liderados pelo capitão Manuel Neuer, com a ajuda de Mathias Ginter e Leon Goretzka.
Em Itália, um dos países mais afetados pela COVID-19, o futebol uniu-se igualmente para ajudar quem mais precisa. O AC Milan, através da sua fundação, doou 250 mil euros aos hospitais da região da Lombardia, uma das mais atingidas pela doença. A título individual, Zlatan Ibrahimovic, avançado dos 'rossoneri' decidiu angariar fundos para os hospitais Humanitas nas cidades de Milão, Turim, Bérgamo, Catânia e Castellanza. "Se o vírus não vai ao Zlatan, o Zlatan vai ao vírus”, escreveu o sueco nas redes sociais.
Já a Juventus, Inter Milão e Roma desenvolveram campanhas de angariação de fundos para auxiliar os hospitais. O emblema romano chegou a distribuir comida e material de proteção aos seus sócios com mais de 75 anos, e ainda angariou mais de 250 mil euros, com a ajuda do treinador Paulo Fonseca, que além do donativo participou na campanha de sensibilização promovida pelo clube.
Francesco Totti, antiga estrela da Roma e da seleção italiana, lançou também uma campanha de fundos, através do site GoFundMe, para ajudar o Hospital Spallanzani na construção de novas salas de Cuidados Intensivos. O antigo avançado, através de uma parceria com uma marca de sabão em pó, doou ainda 15 dispositivos para monitorizar os sinais vitais dos doentes.
José Mourinho também esteve ligado a várias iniciativas em Inglaterra. O treinador português juntou-se à associação "Age UK Enfield, Love Your DoorStep" para comprar e distribuir bens essenciais a idosos, numa altura em que a pandemia começava a crescer em Inglaterra. O 'Special One' também ajudou no transporte de comida a partir da horta do Tottenham para o posto de distribuição criado pelo clube no seu estádio, para depois entregar a quem mais precisa.
Com os profissionais de saúde a trabalharem horas a fio para controlar a pandemia, o Chelsea tomou uma atitude de apoio a médicos, enfermeiros e auxiliares ao disponibilizar-lhes todos os quartos do hotel do seu estádio Stamford Bridge, o Millennium Hotel, para descansarem, com as despesas a serem suportadas pelo proprietário do clube, Roman Abramovich.
Também os ex-futebolistas Gary Neville e Ryan Giggs, antigas ‘estrelas’ do Manchester United, colocaram à disposição do sistema nacional de saúde britânico os hotéis de que são coproprietários em Manchester. Sadio Mané, avançado do Liverpool, enviou 45 mil euros para as autoridades sanitárias do Senegal, enquanto Paul Pogba aproveitou o dia do seu 27.º aniversário para lançar uma campanha, em parceria com a UNICEF, para angariar 30 mil euros para comprar luvas descartáveis, máscaras cirúrgicas e óculos destinados aos profissionais de saúde.
Em Espanha, o Valladolid foi destaque por ter prescindido da possibilidade de testar todo o seu plantel, já que no seu entender havia quem precisasse mais do que os seus jogadores. "Nenhum jogador apresenta sintomas e acreditamos que há quem tenha menos benefícios e mais necessidades. São eles quem deve ter prioridade", explicou David Espinar, diretor do gabinete de presidência do clube.
A título individual, Lionel Messi doou um milhão de euros que foram repartidos pelo Hospital Clínic, em Barcelona, e por uma outra unidade hospitalar na Argentina, seu país natal. O jogador do Barcelona doou ainda 500 mil euros à campanha ‘Juntos pela Saúde Argentina' para ajudar na compra de materiais de proteção destinados aos profissionais de saúde e de equipamentos para fazer face à COVID-19.
"Estamos muito agradecidos por este reconhecimento ao nosso trabalho, que nos permite manter o nosso compromisso com a saúde pública argentina", explicou Silvia Kassab, diretora executiva da Fundação Garrahan, responsável pela campanha, depois da doação da Fundação Messi.
Vítor Pereira, treinador do Shanghai SIPG, pagou do seu próprio bolso 30 mil toucas de proteção e 20 mil mascaras médicas para dois hospitais da cidade onde trabalha, Xangai, na China.
A cúpula do futebol também fez questão de ajudar no combate à pandemia, com a FIFA a doar cerca de 9 milhões de euros a um fundo da Organização Mundial de Saúde. Gianni Infantino, presidente do organismo, anunciou ainda a criação de um Fundo Mundial de Assistência ao Futebol para "ajudar os membros da comunidade futebolística afetados por esta crise".
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