No futebol a rivalidade entre Portugal e Espanha tem mais 100 anos, já na História são mais de nove séculos.

"O facto de sermos países vizinhos implica que haja sempre rivalidade, mas creio que é mais que positiva, ainda para mais tendo em conta os projetos futuros que temos juntos em querer organizar o Mundial [em 2030]. Estou certo de que será um grande espetáculo", disse Luis Enrique, selecionador espanhol na conferência de antevisão da partida ibérica que se disputou esta quinta-feira à noite.

O 42.º encontro entre Portugal e Espanha, e 10.º oficial, disputado na quinta-feira no Estádio Benito Villamarín, em Sevilha, terminou com um empate. Portugal não vence em casa dos espanhóis há 85 anos, mas também não perde um jogo em Espanha há cerca de 64 anos.

Portugal-Espanha: uma rivalidade com mais de 100 anos

A seleção portuguesa de futebol jogou o seu tão ansiado primeiro encontro internacional há quase 101 anos. Em Madrid, contra Espanha, a derrota por por 3-1 mais pareceu uma odisseia inimaginável, com intrigas à boa maneira portuguesa.

Além da secular rivalidade, a proximidade geográfica, que facilitava deslocações por via ferroviária, amparou as relações criadas entre Real Federação Espanhola, fundada em 1913, e União Portuguesa de Futebol (UPF), de 1914, na segunda década do século XX.

O primeiro duelo esteve para acontecer em 1912, não fossem divergências sobre quem suportaria as despesas da viagem, numa altura em que a competição lusa se limitava a partidas entre as equipas de Lisboa e Porto e aos campeonatos regionais nessas cidades, com clubes que também já iam ao estrangeiro.

Oito anos mais tarde e depois da Grande Guerra, o assunto voltou à ribalta e foram retomadas as diligências para a realização do jogo amigável a 18 de dezembro de 1921, na mesma cidade onde, quase meio ano antes, a seleção militar de Madrid tinha batido a congénere de Lisboa, por 4-1.

Se a data do embate conheceu algumas mudanças até ser realizado em Manzanares, no antigo campo do Atlético de Madrid, sob arbitragem do belga Barrette Cazelle, Portugal enfrentou na preparação os tradicionais conflitos entre as suas duas principais cidades.

Raul Nunes, secretário da UPF, sugeriu como método de escolha dos melhores atletas a observação por uma comissão especializada das partidas de cartaz dos campeonatos de Lisboa e Porto, cujas equipas regionais eventualmente mediriam forças antes de Madrid.

Desagradada com a inclusão de apenas dois jogadores nortenhos - Lino Moreira e Artur Augusto, ambos do FC Porto - no conjunto de suplentes, contrariada pelo predomínio de lisboetas, a Associação de Futebol do Porto boicotou a preparação da seleção nacional.

Artur Augusto, nascido na capital, desobedeceu às diretivas dos dragões sobre um jogo visto na cidade Invicta como “Espanha-Lisboa”, e juntou-se aos trabalhos sob alçada de Augusto Sabbo, então treinador do Sporting, que foi bem menos resistente à polémica.

Aposta da UPF para compor o primeiro ‘onze’ da seleção, o técnico viu a convocatória de Francisco Pereira ser criticada pela imprensa, levando à renúncia do então atleta do Belenenses, tal como do seu irmão Artur José Pereira, à época o melhor jogador luso.

Alberto Rio, também do clube do Restelo, retirou-se por motivo de doença, numa fase em que Augusto Sabbo se demitia e era apressadamente substituído por um vasto comité, liderado por Carlos Vilar, no qual estava o avançado António Ribeiro dos Reis (Benfica).

Picardias à parte, Portugal iniciou em Santa Apolónia uma longa e custosa excursão de comboio até Madrid, onde utilizou equipamentos (camisola e meia pretas, calção branco e escudo nacional ao peito) emprestados pelo Casa Pia, na época recém-campeão regional de Lisboa e que em 2022/23 regressa ao escalão principal do futebol português.

Os gansos, fundados no ano anterior, foram o clube o mais representado no onze luso, com quatro atletas, entre os quais o ‘capitão’ Cândido de Oliveira, que trocou de forma simbólica coroas de flores com o homólogo espanhol Mariano Arrate, da Real Sociedad.

A esse momento assistiram os representantes da República Portuguesa em Madrid Vasco Quevedo e Melo Barreto, além do rei de Espanha Afonso XIII e da sua esposa Vitória Eugénia, ilustres convidados entre mais de 12 mil espectadores presentes no Estádio Martínez Campos.

Espanha-Portugal
Espanha-Portugal Foto de arquivo de 18 de dezembro de 1921 de um dos representantes da República Portuguesa em Madrid, Melo Barreto (E) a ser recebido pelas entidades oficiais espanholas antes do inicio do primeiro jogo de futebol entre as seleções de Espanha e de Portugal no Estádio Martínez Campos em Madrid. No final do jogo a Espanha venceu o jogo por 3-1. EFE / LUSA créditos: © 2021 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.

Em ‘2-3-5’, os lusos utilizaram os dois defesas António Pinho (Casa Pia) e Jorge Vieira (Sporting) à frente do guarda-redes Carlos Guimarães (Internacional) e atrás dos três médios João Francisco Maia (Sporting), Vítor Gonçalves (Benfica) e Cândido de Oliveira (Casa Pia).

Já o quinteto ofensivo, padrão tático vigente até à reconversão da lei do fora de jogo, em 1925, juntou os casapianos José Maria Gralha e António Augusto Lopes e os benfiquistas António Ribeiro dos Reis e Alberto Augusto, que alinhou ao lado do irmão Artur Augusto.

Sob orientação de Manuel Castro González e Julián Ruete, a Espanha subiu ao pelado com Ricardo Zamora, Pololo, Mariano Arrate, Balbino, Manuel Meana, Desiderio Fajardo, Francisco Pagaza, Eduardo Arbide, Félix Sesúmaga, Paulino Alcántara e Luis Olaso.

Indiferente às queixas lusas sobre um terreno muito estreito, com zonas arenosas e até desnivelado, a ‘roja’ teve um início demolidor, graças aos golos de Meana, do Sporting Gijón, aos seis minutos, e de Alcántara, do Barcelona, aos 10, que bisaria aos 66.

Os receios de um pesado desaire foram atenuados aos 75 minutos, quando Pagaza fez penálti e Alberto Augusto, conhecido por ‘Batatinha’, bateu o lendário Zamora, do FC Barcelona, apelidado de ‘El Divino’ e então considerado o melhor guardião do mundo.

A comitiva voltaria três dias depois a Lisboa e foi recebida por centenas de pessoas, moralizada pelo decisivo passo da UPF - que, em 1926, mudou a sua designação para a atual Federação Portuguesa de Futebol - no progresso de popularização do desporto-rei.

Depois de acenar à elite diante da vice-campeã olímpica em Antuérpia1920, com a qual mediu forças por mais 40 vezes e venceu pela primeira vez à 13.ª tentativa, em 1937, o organismo atenuou dissonâncias internas e acolheu mais associações, substituindo os campeonatos regionais por uma prova de dimensão nacional comum em outros países.

Inspirado no modelo primordial espanhol, o Campeonato de Portugal estreou-se com eliminatórias na época 1921/22 e passou a coexistir com o Campeonato Nacional da I Divisão desde 1934/35, até dar lugar à contemporânea Taça de Portugal, em 1938/39.

O massacre português de 1934

A derrota de 3-1 diante da Espanha ainda estava bem presente - na altura o número de jogos era bem menor ao de atualmente - e a 11 de março de 1934 a comitiva lusa partia novamente de comboio de Lisboa para Madrid.

Animação e apoio não faltou à seleção, que despedia-se de terras lusas perante uma multidão em Santa Apolónia, em Lisboa. A missão era de muita responsabilidade, pois em jogo estava um lugar no Mundial de Itália.

Portugal, sob o Estado Novo, queria estabelecer-se como uma potência no futebol, querendo demonstrar essa força perante os vizinhos espanhóis. A rivalidade estendia-se para lá do relvados, uma vez que em Portugal vivia-se um direita conservadora e ao lado, em Madrid, uma esquerda republicana.

A esta altura, Portugal e Espanha já tinham medido força por oito vezes com sete triunfos para os espanhóis e um empate (2-2 em 1928) em Lisboa.

O jogo foi disputado em Chamartín, com cinquenta mil pessoas a assistirem ao duelo ibérico, e a expetativa lusa começou a desmoronar-se logo aos cinco minutos. Aos 15', Portugal perdia por 3-0, resultado que se manteve até ao intervalo.

Na segunda parte, a Espanha marcou mais seis golos e a partida traduziu-se num massacre de 9-0. Só Lángarra marcou cinco golos, uma 'manita'.

Na imprensa lisboeta, e segundo uma publicação do ZeroZero, "Ricardo Ornelas não foi poupado, o onze foi ridicularizado e Ribeiro dos Reis alvo de críticas duríssimas. O país não queria acreditar na vergonha do resultado e ninguém do governo queria estar presente na segunda mão em Lisboa".

Um resultado tão escandaloso que até a atriz Beatriz Costa cantou "se a seleção trabalha como eu quero, agora é que não falha, nove a zero!", num dos espetáculo de revista em Lisboa.

Na segunda mão, na capital portuguesa, a derrota por 1-2 acabou por ser um mal menor.

Em Itália, no Mundial de 1934, Espanha atingiu os quartos de final.

Portugal só venceu uma vez em Espanha

A seleção portuguesa de futebol só venceu uma vez no reduto da seleção espanhola, em 17 encontros, mas não perde um jogo em Espanha há cerca de 64 anos, mais precisamente desde 14 de abril de 1958.

Nesse dia, em Madrid, um golo de ‘Dom’ Alfredo Di Stéfano, avançado nascido em Buenos Aires, em 1926, e falecido em 2014, aos 88 anos, selou aquele que ainda é o derradeiro triunfo, e 11.º, da Espanha na receção a Portugal.

Depois desse embate, seguiram-se cinco jogos e outras tantas igualdades, todas em jogos particulares: 1-1 em 1979 (Vigo), 1-1 em 1991 (Castellón), 2-2 em 1994 (Vigo), 1-1 em 2002 (Barcelona) e 0-0 em encontro disputado no ano passado (Madrid), em vésperas do Euro2020.

Quanto à vitória lusa, aconteceu há quase 85 anos, a 28 de novembro de 1937, em Vigo, onde Portugal venceu por 2-1, com tentos de Pinga e Valadas, mas o jogo nem é reconhecido pela FIFA, devido à Guerra Civil espanhola (entre 1936 e 1939).

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O único triunfo sem ser em jogos particulares data de 20 de junho de 2004, dia em que Portugal superou os espanhóis por 1-0, no Estádio José Alvalade, em Lisboa, na terceira jornada da fase de grupos do Euro2004. Depois de um desaire com a Grécia (1-2) e de um triunfo sobre a Rússia (2-0), Portugal estava obrigado a vencer os espanhóis para não cair na fase de grupos do 'seu' Europeu e conseguiu-o, graças a um golo de Nuno Gomes, que bateu Casillas aos 57 minutos.

Naquele que foi o primeiro jogo de Cristiano Ronaldo como titular da seleção principal em jogos oficiais, o então avançado do Benfica resolveu com um remate de fora da área, num embate em que entrou apenas ao intervalo, em substituição de Pauleta.

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FBL-EUR2004-MATCH29 Nuno Gomes festeja após vitória sobre a Espanha. AFP PHOTO JAVIER SORIANO (Photo by Javier SORIANO / AFP) créditos: AFP

O conjunto comandado pelo brasileiro Luiz Felipe Scolari qualificou-se, assim, para os quartos de final e acabou por atingir a final, a primeira de sempre da seleção portuguesa de futebol, para voltar a perder com os gregos (0-1).

Nos restantes jogos oficiais, registaram-se cinco empates e quatro triunfos espanhóis.

Além do encontro de apuramento para o Mundial de 1934, Portugal somou um triunfo (5-1 em casa) e um empate (2-2 fora) no duelo de qualificação para o Campeonato do Mundo de 1950.

Mais de três décadas depois, em 1984, os dois conjuntos encontraram-se pela primeira vez numa fase final e registou-se um empate 1-1, na fase de grupos, com António Sousa a adiantar a formação das ‘quinas’ e Santillana a resgatar o empate. Acabaram por seguir ambos para as meias-finais.

Contando jogos oficiais e particulares, portugueses e espanhóis vão numa série de cinco empates consecutivos, sendo que é preciso recuar a 2010 para encontrar vitórias.

Em termos globais, a vantagem é clara dos espanhóis, que somam 17 triunfos, contra oito, e 79 golos marcados, contra 48, isto num duelo com 17 igualdades.

Em 42 partidas disputadas entre Portugal e Espanha, apenas dez tiveram ‘carimbo’ oficial, já que todas as outras serviram de preparação.

Portugal e Espanha em Sochi, um grande espetáculo de futebol no Mundial2018

Era considerado o ‘prato quente’ da primeira ronda do campeonato do mundo e as expetativas foram correspondidas. Os campeões europeus começavam o campeonato do mundo com um empate (3-3). Os lusos estiveram a vencer desde os quatro minutos, só ficaram em desvantagem aos 58', até que Ronaldo marcou o golo do empate aos 88 minutos. O capitão da seleção nacional foi mesmo a figura do encontro ao apontar um hat-trick.

Nesse embate, a 15 de junho de 2018, o terceiro do Mundial2018, Fernando Santos decidiu chamar à equipa inicial o médio Bruno Fernandes e o avançado Gonçalo Guedes. Desta forma, este foi o onze de Portugal: Rui Patrício, Cédric, Pepe, José Fonte, Raphael Guerreiro, Wiliam Carvalho, João Moutinho Bruno Fernandes, Bernardo Silva, Gonçalo Guedes e Cristiano Ronaldo.

Num ambiente espetacular, com temperatura a rondar os 26 graus, em Sochi, o espetáculo começou cedo. Jogo pressionante de ambas partes e o primeiro golo pendeu para Portugal. Cristiano Ronaldo seguia com a bola na área e foi derrubado por Nacho. O árbitro recorreu ao vídeo-árbitro e confirmou a decisão inicial. Na conversão, o capitão da seleção levou a melhor sobre David De Gea, com bola para um lado e guarda-redes para o outro.

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A seleção espanhola foi fazendo aquilo que mais gosta, agarrando a bola, conseguindo uma posse de bola de 66%. Mesmo assim, os espanhóis tiveram muitas dificuldades em ultrapassar o esquema defensivo luso.

Antes da Espanha marcar, por intermédio de Diego Costa aos 24 minutos, Gonçalo Guedes podia ter marcado o segundo, numa bola atrasado que Ronaldo ofereceu, mas o avançado do Valência foi surpreendido e acabou por não conseguir o remate.

Já perto do intervalo, Pepe atirou em profundidade para Guedes, este amorteceu para Cristiano Ronaldo, que atirou rasteiro, e com força, batendo De Gea. O remate parecia fácil, mas o guarda-redes espanhol deixou fugir uma bola que parecia estar controlada.

Portugal vs Espanha
Portugal vs Espanha O famoso gesto de Ronaldo no jogo em Sochi. EPA/PAULO NOVAIS EDITORIAL USE ONLY créditos: LUSA

O início do segundo tempo foi demolidor por partes dos espanhóis, tendo marcado aos 55’ e 58’, sendo um balde água fria para os portugueses. Primeiro foi Diego Costa a bisar e depois Nacho colocou a Espanha, campeã do mundo em 2010 e europeia em 2008 e 2012, em vantagem pela primeira vez.

Fernando Santos ainda tentou, com as entradas de Quaresma e André Silva, mas foi mesmo Cristiano Ronaldo que resolveu na conversão de um livre irrepreensivelmente bem marcado aos 88 minutos.

Às portas da final, Portugal despedia-se do Euro2012 e a culpa era espanhola

A 27 de junho de 2012, a equipa de Portugal dizia adeus ao Euro2012 (Polónia e Ucrânia) ao ser eliminada pela seleção espanhola na marcação das grandes penalidades, depois de um empate sem golos no tempo regulamentar.

Ao contrário da Batalha de Aljubarrota, em que os portugueses enfrentaram os espanhóis em inferioridade numérica, na Donbass Arena, em Donetsk, foram 11 contra 11 na disputa por um lugar na final do Euro2012.

Um dos maiores perigos ao defrontar a Espanha era permitir aos campeões da Europa e do Mundo na altura ter posse de bola. Portugal entrou com a lição bem estudada, e esteve exemplar neste capítulo durante a primeira parte. O carrossel "catalão" do meio-campo pareceu encravado durante largos períodos do primeiro tempo, com Miguel Veloso, Pepe, João Moutinho e Raul Meireles a conseguirem anular a tendência dominante dos espanhóis.

Arbeloa deu o primeiro sinal de perigo aos 9’ minutos, com um remate por cima da baliza de Rui Patrício, seguido por Iniesta, aos 29’ minutos, com um remate muito bem colocado. Portugal respondeu aos 31’ minutos por intermédio de Cristiano Ronaldo, com um remate rasteiro de pé esquerdo a rasar o poste esquerdo de Casillas.

No final do primeiro tempo, o resultado 0-0 refletia o equilíbrio entre as equipas com a estatística de jogo dar uma ligeira vantagem à Espanha na posse de bola (57% contra 43% de Portugal) mas com mais remate para a seleção portuguesa, quatro contra três.

O segundo tempo começou sem alterações nas equipas. A Espanha, sempre fiel ao seu jogo, tentou aumentar a posse de bola, mas sem conseguir chegar junto à baliza de Rui Patrício. Aos 54’, Vicente Del Bosque operou a primeira substituição do jogo lançando Fàbregas e tirando Álvaro Negredo.

A entrada de Cesc Fàbregas deu outra dinâmica ao jogo da Espanha com a luta pela posse de bola a ser gradualmente ganha pelos espanhóis. Portugal ameaçou por várias vezes de contra-ataque com Hugo Almeida a desferir vários remates à baliza de Casillas.

Aos 89’, Bruno Alves intercetou, de cabeça, um livre de Xavi dando inicio a um contra-ataque muito perigoso com Portugal a ter superioridade numérica junta à baliza de Casillas. Raul Meireles desmarcou depois Cristiano Ronaldo na esquerda, mas o remate do capitão de Portugal saiu por cima.

Terminado o tempo regulamentar com o resultado empatado, o jogo teve de seguir para prolongamento com a Espanha a esgotar as três substituições. No primeiro tempo do prolongamento, a equipa espanhola apresentou-se mais perigosa, valendo mesmo a Portugal uma grande defesa de Rui Patrício aos 104’ ao defender um remate de Iniesta.

As melhores imagens da partida

Nos derradeiros 15 minutos de jogo não houve golos, apesar da seleção espanhola ter mostrado as credenciais de campeã do mundo e da Europa da altura. Rui Patrício voltou a ser determinante, ao manter a baliza de Portugal inviolável, mas o jogo seguiu para grandes penalidades, em que a Espanha foi mais feliz.

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Na África do Sul, Villa afundou Portugal

Portugal despedia-se do Mundial2010 nos oitavos de final, recuando assim face ao quarto lugar alcançado em Alemanha2006. Um golo solitário do mortífero David Villa foi suficiente para Espanha vencer.

A seleção espanhola entrou melhor na partida e muito cedo podia ter chegado ao golo, não fosse a boa exibição de Eduardo - o melhor português desta noite e um dos que mais brilhou nesta prova -, que salvou três golos nos primeiros 10 minutos.

A dinâmica do ‘tiki-taka’, com o seu poderoso meio-campo a ditar a lei e o ritmo da partida, não deixava Portugal respirar no arranque do jogo. E a selecção parecia ainda acusar a titularidade de Ricardo Costa como lateral direito e Pepe à frente da defesa.

Portugal só declarou independência ao domínio da selecção de Vicente del Bosque aos 20’, com um remate de Tiago, para uma defesa apertada de Casillas. Esse tiro mudou a face do jogo e os Navegadores acertaram as suas coordenadas, começando a equilibrar a contenda.

Ronaldo tentou também a sua sorte de livre, mas a bola voltou a parar nas mãos do guardião espanhol. Hugo Almeida e Tiago ensaiaram igualmente bons cabeceamentos, mas ambos ao lado, desperdiçando assim a oportunidade de assumir o controlo do jogo em absoluto.

O calculismo começou a vingar no início da segunda parte, onde Portugal até entrou bem, com Queiroz e del Bosque a marcarem-se nas substituições, mas o golo de Villa reescreveu a história do jogo. Xavi desmarcou o avançado espanhol, em posição muito duvidosa, que atirou para uma primeira defesa de Eduardo, mas não perdoou na recarga, num lance onde a defesa portuguesa consentiu demasiado espaço ao goleador deste Mundial.

Com a vantagem alcançada, Espanha encontrou-se em posição confortável para realizar o seu jogo rápido e perigoso. Por outro lado, a equipa portuguesa deu provas de desagregação e viu a sua estratégia de contenção e contra-ataque ser desarmada. Aliás, os campeões da Europa estiveram mais perto do segundo golo do que Portugal de chegar ao empate, apesar dos esforços de Queiroz com as entradas de Danny, Liedson e Pedro Mendes.

O jogo não terminaria sem Ricardo Costa ver o vermelho directo por suposta agressão a Capdevilla (89’).

Todos os olhos espanhóis estavam postos em Ronaldo, mas o português passou ao lado do jogo e saiu do Mundial sem glória. Desta feita, as lágrimas da eliminação foram de Eduardo, que não merecia tal desfecho.

Espanha seguia assim para os quartos de final. O (Cidade do) Cabo voltou a ser das tormentas para os portugueses.

Em 2010, CR7 marcou o melhor golo de sempre na seleção (e foi contra a Espanha)... mas não contou

Pouco meses depois de Portugal ser eliminado, houve duelo ibérico na Luz, num amigável memorável para os lusos, menos para Cristiano Ronaldo. Não que CR7 não tenha gostado de golear (4-0) Espanha, a seleção que lhe roubou o sonho na África do Sul.

Após esse jogo, questionado sobre o que correu mal a Portugal, Cristiano Ronaldo mandou perguntar a Carlos Queiroz, o selecionador da altura. A Espanha com a espinha dorsal do Barcelona, a equipa que impedia Ronaldo de vencer títulos no Real Madrid naquele momento, ia ser colocada na ordem.

Em novembro de 2010 o ambiente já era outro. Queiroz tinha sido afastado, entrou Paulo Bento na seleção e na Luz, ao terceiro encontro frente a Espanha, Cristiano Ronaldo tinha finalmente conseguido a sua vingança. Ou teria, não fosse Nani.

Cristiano Ronaldo irritado, durante um amigável entre Portugal e Espanha, ganho pelos lusos por 4-0
Cristiano Ronaldo irritado, durante um amigável entre Portugal e Espanha, ganho pelos lusos por 4-0 Cristiano Ronaldo irritado, durante um amigável entre Portugal e Espanha, ganho pelos lusos por 4-0 créditos: Miguel Riopa

Ainda com o jogo sem golos, Carlos Martins lançou o avançado pela direita. Cristiano Ronaldo colou a bola no pé direito, correu para a área em velocidade. Piquè veio disparado para o corte, de carrinho. Ronaldo esperou pelo momento certo, 'sentou-o' e simulou rematar, criando depois o seu melhor golo na seleção e um dos melhores da carreira. À saída de Iker Casillas, CR7 picou a bola, fazendo-a passar por cima do guardião espanhol e de Puyol. Um golaço, até aparecer Nani em cena.

Quando Ronaldo já preparava festa rija com aquele golo diante da melhor seleção do mundo num momento de inspiração contra o país onde jogava, apareceu Nani para lhe estragar a pintura. Um Nani que achou que devia dar o toque final onde não se exigia toque algum. Veja o vídeo abaixo.

Correu mundo aquelas imagens de Cristiano Ronaldo, exasperado, irritado, a vociferar sabe-se lá o que. Não se sabe que nomes feios terá chamado Ronaldo ao colega por aquele toque desnecessário. Os 4-0 caíam para segundo plano. A conversa era em torno da obra de Cristiano Ronaldo, e que Nani estragou.

Claro que se fosse hoje e o jogo tivesse vídeo-árbitro, todos estariam a celebrar a goleada de Portugal ao campeão do Mundo e da Europa e o melhor golo da carreira de Cristiano Ronaldo na seleção.

O golo foi anulado pelo árbitro francês Antony Gautier, mas não devia, por dois motivos: primeiro, Nani não está posição irregular quando toca na bola, já que Piqué estava a colocá-lo em jogo; segundo, quando Nani toca na bola, esta já havia passado a linha de golo.

Passados dez anos, é claro que os dois já fizeram as pazes. Nani apressou-se a pedir desculpas, ciente dos estragos provocados no amigo logo  no momento.

"Pensei que não estava em fora de jogo. Vinha muito embalado e, na altura, não consegui pensar em parar. Depois vi que não devia ter interferido no lance e já pedi desculpas ao Cristiano Ronaldo por isso", disse Nani, na altura.

Cristiano Ronaldo marcou três golos à Espanha, todos num jogo

FOTOS - Frustrado, irritado, sozinho e em esforço: as 'mil e uma faces' de Cristiano Ronaldo no regresso à Espanha
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Cristiano Ronaldo enfrentou a Espanha pela primeira vez ainda era um 'menino'. No Euro2004, de má memória para Portugal, CR7 deixou o relvado aos 85 minutos, dando lugar a Luís Figo. Portugal, orientado por Luiz Felipe Scolari, acabou por vencer por 1-0, com golo de Nuno Gomes. Era o dia 20 de junho e o jogo correspondia à fase de grupos do Europeu de futebol, organizado por Portugal.

Seis anos depois, a história mudou, com a Espanha a eliminar Portugal nos oitavos de final do Mundial2010. Cristiano Ronaldo ficou em branco, tal como aconteceu no tal amigável do 4-0. Em 2012 voltou a não conseguir marcar ao país onde jogava (Real Madrid).

A 'vingança' chegaria no Mundial2018. Aí, rebentou com a 'tampa do ketchup': hat-trick no empate 3-3 com a Espanha, em jogo do Grupo B do Mundial, um deles de livre direto.

Seguiram mais dois amigáveis (2020 e 2021) e o jogo de ontem da Liga das Nações entre os dois países, mas Cristiano Ronaldo não marcou.

Agora os dois países são muito amigos e querem organizar, junto, um Mundial

Cerimónia de apresentação da candidatura conjunta de Portugal e Espanha para organizar o Mundial de futebol de 2030
Cerimónia de apresentação da candidatura conjunta de Portugal e Espanha para organizar o Mundial de futebol de 2030 @FPF créditos: Pedro Gonzalez

Há precisamente um ano, Portugal e Espanha apresentaram oficialmente a “candidatura Ibérica” ao campeonato do mundo de futebol de 2030, em cerimónia realizada em Madrid na presença dos chefes de Estado e de Governo dos dois países.

"Dois países, uma única forma de ver futebol". Veja a promo da candidatura de Portugal e Espanha ao Mundial2030
"Dois países, uma única forma de ver futebol". Veja a promo da candidatura de Portugal e Espanha ao Mundial2030
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O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa e o Rei Felipe VI trocaram simbolicamente as camisolas nacionais das duas equipas com o seu nome inscrito, na cerimónia de apresentação da candidatura que teve lugar no estádio de futebol Wanda Metropolitano, do Atlético de Madrid, antes de um jogo de preparação entre as seleções principais de Portugal e da Espanha.

Os presidentes das federações de futebol dos dois países, Fernando Gomes e Luís Rubiales, assinaram o acordo para candidatura da organização do Mundial de 2030, enquanto que os primeiros-ministros António Costa e Pedro Sánchez firmaram a declaração de apoio governamental a essa candidatura ibérica.

“Vamos lutar agora para que o campeonato do mundo de 2030 possa acontecer na Península Ibérica”, assegurou Fernando Gomes, acrescentando que a “viagem” da candidatura “começa agora” e os dois países estarão “unidos com uma só voz”.

Por seu lado, Luís Rubiales fez questão de enviar “mensagens a todas as federações” de futebol para terem confiança na organização conjunta de Portugal e Espanha e assumiu, numa mensagem à FIFA, que o “êxito” dos dois países será também o da associação de futebol internacional.

O Mundial de 2030 vai marcar o centenário desta competição e os dois países ibéricos terão ainda de enfrentar a candidatura à organização do torneio, pelo menos, da Argentina e do Uruguai.

*Este artigo contou com o material de apoio da Agência Lusa, nomeadamente no texto "Portugal-Espanha: um confronto com mais de 100 anos".