Um dia depois de anunciar a realização de uma Assembleia Geral Extraordinária para 28 de julho, a direção do Boavista, liderada por Rui Garrido Pereira, enviou uma carta aberta aos associados, onde assume sem rodeios que “o projeto do futebol profissional falhou”.

O líder axadrezado sublinha, no entanto, que a responsabilidade não é do clube, mas sim da SAD, liderada até há poucos meses por Gérard Lopez, agora em processo de insolvência e envolvida numa investigação judicial.

Na carta, à qual a Sportinforma teve acesso, Garrido Pereira deixa claro que o Boavista não fechará portas e que a direção está a “assumir a responsabilidade de garantir que o futebol sénior continua a existir, independentemente do futuro da SAD”. A solução será um recomeço com meios próprios, com a criação de uma equipa sénior inscrita nos campeonatos distritais, apoiada num plano de recuperação que será apresentado aos sócios na Assembleia Geral.

“Vamos começar de forma limpa, com as nossas próprias decisões, sem dependências externas, com os nossos valores”, lê-se no documento.

Uma nova fase, um novo modelo

Entre perguntas e respostas dirigidas aos sócios, a carta explica os pilares do Plano Especial de Revitalização (PER) que está a ser desenvolvido e garante que este é liderado pelo clube e não pela SAD. O objetivo é claro: preservar património, reestruturar dívidas antigas e manter todas as modalidades vivas.

Garrido Pereira sublinha que a separação entre o clube e a SAD é definitiva. “O Clube não vai depender mais da SAD”, escreve, revelando que o plano traçado “não prevê venda de património”, mas sim a sua rentabilização com apoio de parceiros públicos e privados.

O presidente explica ainda que o clube já teve avanços em negociações com credores institucionais, e que muitos mostraram abertura para soluções equilibradas. Em paralelo, o Boavista está a tentar reforçar os apoios externos, incluindo novos parceiros nacionais e internacionais, e garante que não está a vender a identidade do clube: “A identidade do Boavista não está à venda.”

Futebol sénior continua, formação cresce

No que diz respeito ao futebol, o clube confirma que terá equipa sénior esta época, composta dentro das suas possibilidades atuais e com o objetivo de representar com dignidade os valores boavisteiros. As camadas jovens são apontadas como prioridade — com mais atletas inscritos do que na época passada — e o ecletismo mantido nas restantes modalidades.

O clube admite que ainda está a procurar soluções logísticas para treinos e jogos, embora o Estádio do Bessa se mantenha como infraestrutura principal.

Uma mensagem de resistência

Na fase final da carta, Garrido Pereira apela diretamente aos sócios, reforçando a ideia de união e mobilização: “O presente é péssimo. Mas os boavisteiros vão unir-se para salvar o Boavista. Tal como quando fomos campeões cada 90 minutos a equipa dava tudo, para nós, hoje cada dia é um jogo para superar novos desafios. Vai ser difícil, mas é para isso que estamos aqui.”

A direção garante ainda estar recetiva a propostas de sócios e empresas para colaborar neste novo ciclo, com total transparência e rigor. Apesar de admitir o impacto devastador da gestão da SAD, a liderança atual insiste que o clube está vivo — e vai lutar para continuar de pé.

A Assembleia Geral de dia 28 promete ser um momento decisivo. Para discutir, decidir e, acima de tudo, reafirmar que o Boavista não se rende.