André Leão, médio do Trofense, defendeu que uma paragem prolongada nos campeonatos devido à pandemia de COVID-19 pode representar o "caos" na vida de uma parte dos futebolistas, especialmente daqueles que fizeram carreira nos campeonatos secundários.

"A situação é nova e ninguém sabe como vai ser. Graças a Deus, juntei dinheiro ao longo dos anos, o que me permite segurar por algum tempo, mas preocupa-me a situação de alguns colegas, para quem vai ser muito complicado sobreviver. Um ou dois meses já é muito complicado, até porque as despesas aumentam, e três ou mais fica um caos", disse André Leão à agência Lusa.

O experiente médio, de 34 anos, que fez carreira no Paços de Ferreira, contando ainda com passagens no estrangeiro, em representação do Cluj, da Roménia, e do Valladolid, de Espanha, está em isolamento em casa, num exercício de cidadania um pouco mais complicado com filhos pequenos.

"Estar em casa é sempre complicado e com filhos pequenos fica pior. Procuramos explicar-lhes que há um vírus que nos pode fazer mal e não nos deixa sair. A mais pequena, com dois anos, não percebe, ao contrário do irmão, de cinco, embora, por vezes, procure arranjar formas de tentar furar a quarentena", sublinhou.

André Leão iniciou a época no Paços de Ferreira, da I Liga, mas mudou-se para o Trofense, equipa do Campeonato de Portugal, há um mês, pouco tempo antes de surgirem sintomas suspeitos num elemento do grupo, precipitando o recolhimento de todos.

"O nosso fisioterapeuta ficou com febre, creio que foi acompanhado pela linha Saúde24 e recuperou-se em dois ou três dias, mas, a partir desse momento, ficámos todos em casa, de prevenção", explicou.

Apesar do isolamento, André Leão e os colegas têm de cumprir o programa de trabalho enviado diariamente pelo preparador físico do Trofense, com o objetivo de reduzir os efeitos desta paragem forçada.

"Temos de manter um pouco a forma, mas alguma coisa vamos sempre perder. Neste momento, é quase como umas férias, mas vamos precisar de umas duas ou três semanas, de uma espécie de pré-temporada, antes de voltarmos a jogar", defendeu.

André Leão reconheceu, no entanto, que o mais importante agora é combater e ganhar a batalha à pandemia, que tantas vítimas tem feito no mundo inteiro, 8.189 só em Espanha, país onde passou três anos ao serviço do Valladolid, realizando um total de 110 jogos, e onde deixou amigos.

"Tenho falado mais com os jogadores do meu tempo, como o [Javi] Moyano, o Míchel [Herrero] ou o Toni Villa e estão todos confinados em casa e com muito medo. Ainda agora um jogador foi multado a 15 quilómetros de casa, porque não foi às compras mais perto. O clube, entretanto, distribuiu pela população os testes ao vírus que a Liga espanhola lhe tinha dado, mas tem sido muito complicado", revelou o futebolista luso.

André Leão tem contrato com o Trofense até junho de 2021, quando terá 36 anos, mas o convite de uma equipa de escalão superior foi contemplada no contrato e permite-lhe sair antes, e por agora não pensa em pendurar as chuteiras.