A desistência do Desportivo das Aves SAD do Campeonato de Portugal (CdP) representou hoje um “balde de água gelada” para a estrutura dos nortenhos e deixou 23 futebolistas desalentados e sem clube.
“Jogava no Perafita e trabalhava num supermercado. Entrei neste projeto e veio tudo por água abaixo. Esta manhã soubemos qual a finalidade do Aves SAD. Foi mau ver jogadores a chorar e outros a baixar a cabeça. Basicamente, foi um sonho dado e um sonho retirado”, partilhou à agência Lusa o defesa e capitão Tuta.
Os avenses vão abdicar da participação na Série B do terceiro escalão, após terem falhado até terça-feira as negociações com o Perafita para utilizarem as instalações do clube de Matosinhos, no mesmo dia em que terminava o prazo de inscrição no CdP e a estrutura liderada pelo chinês Wei Zhao não conseguiu registar qualquer futebolista.
“Prometeram um contrato profissional a meia dúzia de jogadores e todas as condições necessárias para ambicionar um campeonato tranquilo. Eram ordenados bastante generosos, mais prémios de jogo, mas que não surgiram”, lamentou o central, de 23 anos, com formação repartida entre Leixões, Senhora da Hora, Perafita e Lavrense.
O Aves SAD foi autorizado a usar as instalações do Perafita para arrancar em 11 de setembro os trabalhos de pré-época com duas dezenas de jogadores, sob orientação de Paulo Gentil, ex-treinador do clube matosinhense, numa altura em que Tuta jamais pensava “neste fim” pela “dimensão” de um clube que estava na I Liga.
“Há duas semanas treinava no Perafita e passaram-nos a informação de que a equipa técnica e a própria administração precisava de jogadores para competir. Aí surgiu uma proposta aos jogadores e a [acionista] Estrela Costa até apareceu no primeiro dia de treinos para apresentar a SAD ao plantel. Depois disso, nunca mais a vi”, contou.
Impossibilitado de inscrever jogadores por dívidas antigas, o emblema do concelho de Santo Tirso viu negado o pedido de adiamento do jogo de estreia no CdP e falhou no domingo a visita ao Berço, que pode significar uma derrota administrativa e a dedução de pontos, antes de visitar o Felgueiras 1932 para a primeira ronda da Taça de Portugal.
“Acredito que não conseguiríamos estar a par em qualidade, mas em dedicação e ambição íamos dar que falar e não seria fácil para o Berço, um dos candidatos à subida. Estávamos preparados no plano físico e psicológico, mas as entidades superiores não quiseram avançar. Quando assim é, só temos de respeitar as decisões deles”, frisou.
Diogo Alexandre Soares Oliveira, conhecido por Tuta no futebol, vai “organizar as ideias” e “procurar não parar”, tal como Luan Gabriel, outro colega de equipa dispensado, que passou por um período de observação nos búlgaros do Lokomotiv Plovdiv e tinha um “contrato encaminhado” quando soube do interesse do Aves SAD pelo empresário.
“Garantiram-nos pagar tudo certinho. O próprio presidente assegurou ao plantel todo que não ia desistir do campeonato e da Taça de Portugal. É complicado, porque estava perto de entrar num clube que disputava a Liga Europa e acabei por vir para Portugal, confiando no trabalho deles. Deu no que deu”, desabafou à Lusa o extremo brasileiro.
Luan Gabriel, de 20 anos, pertence aos quadros do Esporte Clube Vitória e habitava numa residencial em Leça da Palmeira com mais cinco jogadores estrangeiros, até ter sido “apanhado de surpresa” esta manhã com uma “comunicação bem direta” do investidor Wei Zhao junto do plantel e da equipa técnica, sob olhar do diretor Francisco Santos.
“Quando cá cheguei passaram-nos bastante confiança e estávamos todos muito motivados. Até queríamos jogar o primeiro desafio, mas entenderam que não estávamos preparados. Até ontem [terça-feira] foi tudo tranquilo, mas hoje o presidente disse-nos que não ia haver mais Aves pelos processos e pela situação financeira”, recordou.
O Aves SAD reprovou em julho os requisitos de licenciamento nas provas profissionais de 2020/21 junto da Liga de clubes e dispensou o recurso para o Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol, na sequência de uma temporada assinalada por incumprimentos salariais, rescisões unilaterais e a descida no relvado à II Liga.
A estrutura, que a Lusa tentou contactar sem sucesso, tem sido acompanhada pelo administrador judicial provisório António Dias Seabra e lida com um Processo Especial de Revitalização (PER), que reparte dívidas de 17,1 milhões de euros por 110 credores.
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