O trabalho não foi nada fácil: elevar o ânimo da equipa que provavelmente protagonizou a pior quebra da história do futebol. Mas o técnico português Artur Jorge não só assumiu o desafio de ser o 'caça-fantasmas' do Botafogo, como também levou o clube à sua primeira final de Taça Libertadores.

O técnico não foge à humilhação sofrida pelo clube no Campeonato Brasileiro de 2023, que transformou o alvinegro em alvo de piadas dos adeptos rivais, mas também já mostrou irritação quando algum jornalista puxa do assunto.

Mesmo sem sequer viver no Rio de Janeiro no ano passado, o português teve que responder porque o Botafogo perdeu o Brasileirão na reta final após ter 13 pontos de vantagem para os mais diretos perseguidores.

"Os fantasmas existiam, não tenho problema de falar sobre isso. Eu quis passar a mensagem de não olharmos para trás, mas não ignorarmos o que aconteceu e dar mais foco na história que podemos escrever daqui para frente", disse o português, ex-técnico do SC Braga, em julho.

Depois do pesadelo de 2023, Artur Jorge transformou o Botafogo numa máquina ofensiva (84 golos em 52 jogos) que luta por dois títulos, em parte graças aos mais de R$ 300 milhões de reais, perto de 48 milhões de euros (R$ 1,7 mil milhões, na cotação atual) investidos em contratações esta temporada.

Artur Jorge sabe o que é ganhar títulos

No próximo sábado (30), em Buenos Aires, o clube carioca vai disputar a final da Taça Libertadores contra o Atlético de Minas Gerais..

No Brasileirão, que o Botafogo não conquista desde 1995, o alvinegro recuperou a liderança a duas rondas do fim com a vitória por 3-1 sobre o Palmeiras, de Abel Ferreira, na terça-feira, em São Paulo.

Se levantar os dois troféus, o 'Glorioso' conseguirá uma temporada tão histórica quanto inédita.

"Vamos trabalhar no sentido de fazer com que o nome Botafogo possa estar dimensionado à imagem de todos os grandes clubes mundiais", afirmou Artur Jorge recentemente, numa entrevista recente ao portal da FIFA.

O português assumiu o cargo em abril, depois da saída de Tiago Nunes, que não conseguiu bons resultados com a equipa no Campeonato Carioca.

Na sua primeira experiência fora de Portugal, chegou ao Brasil depois de umas boas temporadas à frente do Braga, onde passou a maior parte de sua carreira como central, até pendurar as chuteiras em 2005, no Penafiel.

Pelo clube português, conquistou em janeiro de 2023 o seu único título como treinador, a Taça da Liga. Além disso, apurou a equipa para a Liga dos Campeões pela primeira vez desde 2012.

Cruyff e Klopp como modelos e Maradona como ídolo

Mesmo com o início irregular na Taça Libertadores, o Botafogo conseguiu apurar-se em segundo no Grupo D e depois eliminou Palmeiras (oitavos de final), São Paulo (quartos de final) e Peñarol (semifinal).

Apesar de a defesa nem sempre se mostrar segura (46 golos sofridos em 52 jogos), o técnico português conseguiu um encaixe perfeito com quatro jogadores de seleção na frente: o argentino Thiago Almada, o venezuelano Jefferson Savarino e os brasileiros Luiz Henrique e Igor Jesus.

"Recebo os planos de jogo do treinador no meu smartphone. Nunca vi um plano seguido tão à risca, tão bem ensinado pelo treinador e tão bem executado pelos jogadores", destacou este mês o polémico magnata norte-americano John Textor, dono da SAF (Sociedade Anónima do Futebol) do Botafogo.

O modelo de jogo de Artur Jorge é inspirado no 'futebol total' eternizado pelo holandês Johan Cruyff, pelo seu estilo "dinâmico" e "ofensivo", e pela "verticalidade" e "velocidade" das equipas comandadas pelo alemão Jürgen Klopp.

"Tenho essas duas referências que me ajudaram a criar o meu próprio conceito de jogo e contextualizar", disse o português em entrevista à TV Globo.

Mas o seu maior ídolo é o craque argentino Diego Maradona.

"Maradona sempre foi a minha referência e o meu ídolo. Como jogava, a sua parte irreverente, a sua parte problemática atraia-me também. Não sou de coisas muito certinhas, gosto de dinâmica", destacou Artur Jorge.