
Com alguma surpresa, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) anunciou que Luís Freire irá assumir a seleção portuguesa sub-21, substituindo Rui Jorge, que esteva no cargo desde 2011.
Chega assim ao fim um ciclo de 15 anos dos sub-21 de Portugal às ordens de Rui Jorge, que teve sob o seu comando, ao longo de mais de uma década, vários grandes talentos que brilharam depois pela seleção principal sem contudo conseguir levar Portugal à conquista daquele que é o único troféu europeu de seleções masculinas da UEFA que teima em escapar ao nosso país, apesar de ter ficado bem perto de concretizar esse sonho.
Faltou o 'quase' a Rui Jorge em mais de 120 jogos ao leme dos sub-21
Rui Jorge estreou-se ao leme da seleção nacional de sub-21 a 9 de fevereiro de 2011, com um triunfo por 3-1 num jogo amigável ante a Suécia, sucedendo a Oceano, que havia falhado o apuramento para a final do EURO Sub-21 de 2011. Wilson Eduardo, André Martins e João Silva assinaram os golos lusos nesse encontro. Nesse ano, Rui Jorge somou cinco vitórias (duas delas sobre Alemanha e França) e dois empates em sete jogos, todos eles amigáveis. A primeira derrota chegou apenas ao 10.º jogo, ante a Ucrânia, já em 2012.
Em jogos a doer, a primeira campanha acabou em desilusão, com Portugal a falhar novamente o apuramento para o EURO Sub-21, com uma geração que contava com Anthony Lopes, Cedric Soares e Danilo Pereira, futuros vencedores do EURO 2016 pela seleção principal.
Redimiu-se, depois, no EURO Sub-21 2015, quase levando Portugal ao tão desejado título. Portugal passeou na fase de apuramento, com 10 vitórias em 10 jogos e nomes como Rúben Neves, Bernardo Silva, Bruno Fernandes, Raphael Guerreiro, João Mário ou William Carvalho (entre outros) a despontarem, qualificou-se para a fase final e chegou mesmo ao jogo decisivo depois de uma goleada de 5-0 sobre a Alemanha nas meias-finais. Mas, na final, contra a Suécia, perdeu nos penáltis após um empate sem golos.
A presença na final, ainda assim, valeu uma rara presença olímpica para o futebol português (apenas a terceira da história), que terminou nos quartos de final, com uma pesada derrota com a Alemanha.
Qualificou-se também para a fase final do EURO Sub-21 2017, com jogadores como Diogo Jota, Daniel Podence, Bruma, Gonçalo Guedes e ainda Bruno Fernandes e Rúben Neves, mas ficou-se pela fase de grupos. Porém, falhou depois o apuramento para o EURO Sub-21 2019, com uma geração em que contou com jogadores como Diogo Jota, João Félix ou Rafael Leão.
Uma vez mais, redimiu-se na qualificação seguinte. Com nomes como Gonçalo Ramos, Diogo Dalot, Daniel Bragança, Rafael Leão, Fábio Vieira, Vitinha, Florentino ou Diogo Costa, Portugal apurou-se para a fase final do EURO Sub-21 de 2021 e caminhou só com vitórias rumo a nova presença na final. Só que, uma vez mais, faltou o quase: derrota por 1-0 com a Alemanha.
O 'ciclo Rui Jorge' conclui-se com mais dois apuramentos para fases finais do EURO Sub-21 que terminaram depois com eliminações nos quartos-de-final: em 2023 frente à Inglaterra (com jogadores como João neves, Pedro Neto ou Francisco Conceição) e agora, mais recentemente em 2025, frente aos Países Baixos (com uma convocatória bastante condicionada, mas com Geovany Quenda a brilhar).
Em resumo, com Rui Jorge ao leme Portugal falhou dois apuramentos para fases finais (2013 e 2019) e apurou-se para cinco (atingindo duas finais - só tinha disputado uma até então - caindo duas vezes nos quartos de final e ficando-se uma vez pela fase de grupos). Ao todo, foram 127 jogos como selecionador dos sub-21 de Portugal, nos quais somou 90 vitórias, 19 empates e 18 derrotas.
Freire fez caminho desde os distritais até chegar ao desafio dos sub-21
Luís Freire será, então, o seu sucessor. "Trata-se de uma aposta claramente ambiciosa, num treinador que alia uma sólida experiência de trabalho com jovens jogadores a um conhecimento efetivo do futebol profissional (...) O novo selecionador nacional sub-21 integra a estrutura técnica da FPF com a ambição de conquistar o Europeu da categoria, em 2027, bem como de garantir a qualificação para os Jogos Olímpicos de 2028", explica a FPF.
Freire nunca chegou a futebolista profissional, depois de em jovem ter passado pelas camadas jovens do Mafra e do Ericeirense. Estreou-se como treinador enquanto adjunto nos escalões de formação do Juventude de Évora, passando depois a adjunto dos seniores do Mafra, em 2009, do Tondela, em 2010, e do Oriental, em 2011.
A estreia como treinador principal foi nas distritais de Lisboa, no Ericeirense, clube da terra onde nasceu a 3 de novembro de 1985 (tem 39 anos). Passou depois pelo leme de outra formação dos campeonatos distritais da capital, o Pêro Pinheiro, que em 2017 guiou à subida ao Campeonato de Portugal.
Na época seguinte treinou no Campeonato de Portugal, mas no Mafra, que guiou ao título e à subida à II Liga. Na temporada de 18/19 treinou o Estoril nessa II Liga, acabando contudo despedido à 18.ª jornada.
A aventura seguinte foi na Madeira, ao leme do Nacional, também na II Liga, e liderava a prova quando esta foi interrompida devido à COVID 19, garantindo assim a subida ao escalão principal. Estreou-se na I Liga em 20/21, no comando técnico dos madeirenses, mas saiu à 24.ª jornada, com a equipa no 17.º lugar.
Desceu um degrau na época seguinte, mas para conseguir a afirmação definitiva como treinador, ao assumir o leme do Rio Ave. Guiou os vilacondenses ao título de campeão da II Liga e à subida ao primeiro escalão, onde em 22/23 garantiu a manutenção com relativa tranquilidade. Na terceira temporada nos vilacondenses, 23/24, terminou no 11.º lugar, mas a meio da quarta temporada foi despedido.
Voltou ao trabalho para suceder a Daniel Sousa no Vitória de Guimarães, falhando contudo o objetivo de garantir uma vaga europeia ao terminar no 6.º lugar do campeonato, atrás do Santa Clara.
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