A recém-criada equipa sénior do FC Porto ajudará a fortalecer a promoção do futebol feminino e acelerará a recuperação de anos de atraso do clube para os principais rivais, mesmo começando da III Divisão, último escalão nacional.

“À partida, trará mais adeptos aos jogos, mais procura pelo conhecimento da modalidade e mais atenção das pessoas que não iam estando muito ligadas e são adeptas do clube. Com toda a estrutura e história que tem, uma instituição como o FC Porto vai sempre alimentar esse crescimento. O objetivo é que, no futuro, também possamos estar a lutar por títulos e a andar nos melhores palcos”, apontou o treinador Daniel Chaves, em entrevista à agência Lusa.

Depois de já ter conhecido outras abordagens ao futebol feminino no século XXI, através das camadas jovens e da escola Dragon Force, o FC Porto repetiu os passos dados a nível sénior pelo tetracampeão nacional Benfica em 2018/19, enquanto o Sporting já se tinha lançado originalmente entre 1991 e 1995, ressurgindo em definitivo a partir de 2016/17.

“Achamos que temos um papel importante e decisivo e vamos tentar marcá-lo através de trabalho, exigência, superação, compromisso e um espírito sempre ambicioso e ganhador. Queremos ser mais um a acrescentar ao futebol feminino em Portugal e a estabelecê-lo no patamar da excelência”, direcionou à Lusa o diretor da secção, José Manuel Ferreira.

O desenvolvimento do desporto feminino e a valorização do papel da mulher no FC Porto foram compromissos assumidos em campanha eleitoral pelo presidente André Villas-Boas, que, em pouco mais de quatro meses de mandato, ergueu alicerces nesse sentido.

No horizonte surge o crescimento infraestrutural do clube, mediante a construção de um centro de alto rendimento para as equipas profissionais, em sintonia com a passagem dos escalões jovens para o Centro de Treinos e Formação Desportiva PortoGaia, no Olival.

“Ao longo do tempo, fomos começando a perceber que a modalidade ia dar o salto um dia no país. Demorou, mas agora é sempre a crescer e subirá em visibilidade com a entrada do FC Porto, porque mais meninas vão querer começar a jogar”, afiançou à Lusa a média Cláudia Lima, de 28 anos, que deixou o primodivisionário Valadares Gaia para se tornar a primeira contratação da história portista.

Capitã e a mais velha das 23 jogadoras ao dispor de Daniel Chaves, a internacional lusa teve o “melhor dia da carreira” em 01 de setembro, quando 31.093 pessoas assistiram no Estádio do Dragão à goleada sobre a também ‘terciária’ União de Leiria (9-0), atualizando o recorde de assistência de jogos de futebol feminino em Portugal em plena apresentação ‘azul e branca’.

“Ainda hoje não tenho palavras para descrever. Foi fora do normal. Sabia que os adeptos iriam responder, mas nunca pensei que fosse naquele número. Sinceramente, acho que nos habituaram mal [risos]. Espero que venham em peso aos próximos jogos”, desejou, numa altura em que ainda está indefinido o local onde o FC Porto atuará como anfitrião.

De entrada livre e sem caráter oficial, o primeiro encontro em solo português com mais de 30 mil espetadores superou a marca de 27.221 registada em 26 de março de 2023 no dérbi entre Benfica e Sporting (0-1), da 17.ª jornada da Liga, no Estádio da Luz, em Lisboa.

“Passou uma imagem muito positiva do futebol feminino e mexeu de alguma forma, não só aqui, mas também nos outros clubes. Toda a gente foi falando disto e o mais bonito é que nunca foi sequer dito [anteriormente] algo sobre bater o recorde nacional. Ou seja, foi uma coisa espontânea, sinal da adesão que os adeptos têm tido”, exaltou Daniel Chaves.

José Manuel Ferreira evoca um “momento memorável”, que “só vem dar razão ao projeto” implementado pela direção de André Villas-Boas, visando a promoção de um “conjunto de intenções e preocupações em prol de uma sociedade melhor e com maior igualdade”.

“O futebol feminino dará uma dimensão que ultrapassa o próprio FC Porto em termos da importância da mulher no desporto, da igualdade de género e, vou mais longe, até ao nível comercial. Percebemos que tem toda uma razão de existir e pode também ter um papel importante na sociedade e captar gente, sem haver uma disputa com o masculino”, notou.

O retrato do ‘onze’ inicial utilizado frente à União de Leiria passou recentemente a figurar numa galeria com momentos icónicos da história ‘azul e branca’ nos corredores do Estádio do Dragão, enquanto o objeto do mês no museu portista é uma bola autografada por Cláudia Lima.