Mais uma temporada, mais resultados desastrosos para o Valência. Depois de terem sido jogadas 10 jornadas do campeonato espanhol, a equipa orientada por Rubén Baraja ocupa o último lugar da tabela com uma vitória, três empates e seis derrotas.

Um clube histórico como o Valência já foi campeão por seis vezes e finalista por duas ocasiões na Liga dos Campeões, levando a que a sua decadência não fosse sequer equacionada há uns anos. No entanto, o momento desportivo é tão fraco que é preciso recuar várias décadas para encontrar um registo tão fraco como o da atual temporada.

Foi na temporada 1982/83 que o clube che apresentou uma marca igual à de 2024. Em 1997/98, o Valência tinha oito pontos à 10.ª jornada e sete, no mesmo período, em 2016/17. No século XXI, o pior arranque da temporada foi na época 2016/17 com 10 pontos em 10 jornadas. Apesar de estes registos serem especialmente baixos, os últimos anos têm sido repletos de maus resultados com especial destaque para o afastamento das competições europeias.

A situação é bem mais complexa do que atribuir um culpado ao desaire do clube, mas é certo que a direção e os adeptos estão de costas voltadas há alguns anos.

Peter Lim e os 10 anos de má gestão

Peter Lim, empresário singapurense, comprou o Valência em 2014 e desde o início que a sua gestão tem sido alvo de críticas. Desde 2014, o clube che só marcou presença na Liga dos Campeões por três vezes e só ganhou um troféu (Taça do Rei) em 2019.

Para além da falta de títulos, somam-se os anos em que o Valência está afastado dos primeiros lugares da tabela. Desde 2019/20 que o clube não vai além de um 9.º lugar no campeonato, com destaque para 2020/21 e 2022/23 em que terminaram nas 13.ª e 15.ª posições, respetivamente.

O empresário não contrata, nem investe, alegando que não existem fundos suficientes e sempre se manteve distanciado dos adeptos que ecoam em cada canto o slogan “Lim vai para casa”. Existe uma descrença total entre os adeptos, quer com os jogadores e os treinadores, quer com a direção.

A falta de investimento é gritante, deixando a equipa quase sempre destinada a promoções internas e não a novas contratações com maiores probabilidades de rendimento desportivo imediato. Para além disso, são vários os casos de contratações falhadas ou que se traduzem em baixo rendimento. O caso de Rafa Mir é um desses exemplos, depois de o jogador ter sido um pedido do treinador Baraja, desfalcou a equipa e deixou um ambiente no balneário pouco favorável a bons resultados desportivos devido à sua acusação de agressão sexual.

Como se tudo aquilo que se passa no Valência a nível desportivo não fosse suficiente para os adeptos se revoltarem com a atual direção do clube, o caso dos dois adeptos valencianistas detidos em Singapura, país de Peter Lim, agudizou as más relações. Trata-se de um casal que passava a lua de mel em Singapura que foi exibindo nas redes sociais algumas bandeiras com críticas ao empresário, incluindo na casa de Lim. Mais tarde foram detidos, suscitando ainda mais revolta nos adeptos che.

Para além disto, de acordo com a imprensa espanhol, o empresário está a ser investigado pelos crimes de branqueamento de capitais, gestão danosa e falsificação de documentos que resultaram no desvio, alegadamente, de 23 milhões de euros do clube.

Não existem evidências de que Lim possa estar de saída do clube, principalmente depois de no início deste ano o antigo vice-presidente do Valência Miguel Zório ter feito uma proposta de compra a Peter, que não foi aceite. O que se sabe é que para que possa sair do clube são precisos 400 milhões de euros.

Recorde-se que o caso mudou de tom depois da derrota no último jogo, levando a que os adeptos saíssem das bancadas e se dirigissem até ao exterior do estádio com várias mensagens, cânticos e tarjas de protesto. Peter Lim foi o principal visado, mas o português Jorge Mendes (fortes ligações com Peter Lim) e os próprios jogadores não escaparam aos insultos.

Resta saber como é que o Valencia se vai erguer na LaLiga, numa altura em que os protestos e críticas têm sido cada vez mais intensos devido à preocupação de um descida de divisão no final da época.Algo que os Celtis vão agora tentar.