No rescaldo de uma das mais graves crises financeiras do último século, a Liga dos Campeões, que já distribuiu mais de 5,6 mil milhões de euros, manteve-se imune ao sismo económico mundial e reforçou mesmo a condição de mais rica competição de futebol mundial para 2009/2010.

Apesar da Associação Europeia de Clubes, que reúne a maioria dos mais importantes clubes do Velho Continente, ter negado peremptoriamente a ideia de uma nova competição à margem das rédeas da UEFA, a verdade é que os rumores de uma Liga autónoma ao organismo europeu circularam pelos bastidores.

O risco de uma prova que esvaziasse a "galinha de ovos de ouro" da UEFA foi real, ao ponto de o Comité Executivo, presidido por Michel Platini, ter aprovado uma série de medidas, de cariz financeiro e desportivo, que convenceu os maiores da Europa e sensibilizou os mais fracos, que agora têm um caminho próprio e desbravado propositadamente para abrir as portas da grande competição.

Até à última temporada, países como Inglaterra, Espanha ou Itália colocavam directamente apenas os dois melhores clubes das ligas nacionais, enquanto terceiro e quartos classificados tinham sempre de disputar uma eliminatória de acesso.

Agora, com o novo modelo, os três mais cotados do "ranking" colocam directamente um trio de clubes, enquanto o quarto classificado disputa a última das duas eliminatórias de apuramento, destinadas aos países classificados até ao 15.º lugar da hierarquia da UEFA.

Países do escalão médio, como Portugal, Holanda, Escócia ou Turquia, passam a ter direito a apenas uma vaga directa. Para uma segunda representação, são agora obrigados a passar por duas eliminatórias, a última delas diante representantes das cinco maiores potências europeias (e mundiais).

O Sporting, no caso português, foi o primeiro a experimentar, com insucesso, esta nova fórmula. Conseguiu superar o Twente mas depois "esbarrou" na Fiorentina, ficando fora da "Champions" depois de três presenças consecutivas.

A alternativa para liberalizar a prova de elite aos mais fracos foi delinear uma fase de apuramento exclusiva aos países cotados entre o 13.º e o 53.º lugares do "ranking". Foi por este modelo que a 18.ª edição da Liga dos Campeões contará com oito estreias absolutas, quatro delas provenientes deste caminho independente: Standard Liége (Bélgica), FC Zurique (Suíça), APOEL (Chipre) e Debreceni (Hungria).

Contando já com a edição que se avizinha, mais os prémios de entrada para 2009/2010, que para os casos dos campeões nacionais sofreram um aumento de 35,2 por cento (5,4 para 7,3 milhões), a Liga dos Campeões distribuiu por 112 clubes um total de 5,6 mil milhões de euros, uma verba que cobriria praticamente o orçamento previsto para o Aeroporto de Alcochete (infra-estrutura e acessos).

No caso português, os quatro clubes que já assinaram o livro de presenças na Liga dos Campeões recolheram um total de 207 milhões de euros (Portugal é o sétimo país que mais arrecadou). Mais de metade desse valor (120,7 milhões) foi arrecadado pelo FC Porto, que reparte com o Manchester United o recorde de presenças na competição (17 em 18).

Se em presenças os portistas, em 15.º na lista global de ganhos, igualam os campeões europeus de há dois anos (e vice-campeões na última época), no numerário o Manchester United está 186,4 milhões de euros (total de 307,1) à frente dos tetracampeões nacionais.

Os "red devils" são mesmo o único clube que já superou a fasquia dos 300 milhões, liderando uma lista cujo top-15 tem apenas dois clubes do "escalão médio" europeu: precisamente o FC Porto e o PSV Eindhoven (12.º, com 162,3 milhões).

O clube português tem um currículo desportivo superior aos dos holandeses, abrilhantado com o título europeu conquistado em 2003/2004 (época que lhe rendeu 18,7 milhões), mas os holandeses têm ganhos incomparavelmente superiores relativamente à fatia do "market pool" (receitas televisivas).

A distribuição deste bolo específico é realizada em consonância com os valores praticados por cada país.

Na última época, FC Porto (1,9) e Sporting (1,6) tiveram direito a 3,5 milhões de euros, enquanto o PSV Eindhoven, o único representante holandês, foi o segundo dos 32 clubes finalistas que mais recebeu de "market pool", embolsando 19,5 milhões de euros, mais de três vezes mais do que juntou em prémios desportivos (seis milhões).