A derrota do FC Porto frente aos italianos da Juventus na final da Taça das Taças de 1983/84 representou o “princípio de uma grande carreira” dos ‘dragões’ nas provas europeias, considera o ex-futebolista Jaime Magalhães.
“Como era a primeira final do clube, éramos muito tenrinhos. As coisas melhoraram, e já fomos com uma moral diferente e com o pé atrás em 1987, nunca pensando que ia ser fácil. Também fizemos uma grande exibição e lá conseguimos ganhar. A partir daí, foi caminho aberto para vencermos mais competições”, contou à agência Lusa o ex-médio.
Em 16 de maio de 1984, o FC Porto falhou uma inédita conquista da extinta Taça das Taças frente à Juventus, ao perder por 2-1, no estádio St. Jakob, em Basileia, na Suíça, onde o golo de António Sousa foi insuficiente, face aos de Vignola e Boniek.
Liderados pelo francês Michel Platini, os ‘bianconeri’ reuniam cinco campeões mundiais pela Itália em 1982, como Gentile, Scirea, Cabrini, Tardelli e Paolo Rossi, sob orientação de Giovanni Trapattoni, que conduziria o Benfica ao título nacional na época 2004/05.
No caminho para o encontro decisivo, o FC Porto superou os jugoslavos [agora croatas] do Dínamo Zagreb e os escoceses do Glasgow Rangers pelos golos marcados fora (ambos 1-0 em casa, após 1-2), os soviéticos [agora ucranianos] do Shakhtar Donetsk (3-2 em casa e 1-1 fora) e o Aberdeen, da Escócia (duas vezes 1-0).
“À primeira vista, pensámos logo que ia ser muito difícil, como foi. Dentro do campo, tínhamos uma equipa muito boa e fizemos um belíssimo jogo, conseguindo empurrar o adversário para a sua baliza. O resultado foi aquilo que toda a gente sabe. Perdemos injustamente, não merecíamos”, lamentou o antigo internacional luso, agora com 58 anos.
Jaime Magalhães nota que a equipa comandada pelo adjunto António Morais, em função do débil estado de saúde de José Maria Pedroto, retirou “uma lição de vida” perante a atuação polémica do juiz alemão Adolf Prokop, na presença de 55.000 espetadores.
“Mais uma vez, o árbitro esteve contra nós. Enfim, parece que temos sempre esta sina. Claro que a Juventus sempre foi um colosso e uma equipa muito conhecida. Naquela altura, o FC Porto não era conhecido. O árbitro deve ter tido um bom prémio e uma boa casa de férias em Itália. Acho que foi por aí que fez aquela arbitragem”, defendeu.
Antes de um golo de Zbigniew Boniek perto do intervalo, “precedido de falta” sobre João Pinto, secundado por “alguns lances duvidosos” na segunda parte, o ex-jogador natural do Porto sobressaiu ao assistir para o golo de António Sousa, que, então, restabeleceu o empate no marcador.
“O João Pinto colocou a bola na cabeça do Fernando Gomes, este amorteceu para mim, e eu fiz um toque subtil para o Sousa, que bateu o Tacconi com um belíssimo pontapé. Depois do 2-1, tentámos fazer o melhor possível, mas eles fecharam a sua baliza a sete chaves e não conseguimos um golo que nos levasse ao prolongamento”, rememorou.
António Morais ainda substituiu Jaime Magalhães pelo avançado irlandês Mike Walsh na meia hora final, mas os jogadores portistas abandonaram o relvado em lágrimas e com forte contestação à equipa de arbitragem oriunda da República Democrática Alemã (RDA).
O guarda-redes Zé Beto foi suspenso um ano das provas da UEFA e falhou a ida ao Europeu de 1984, por ter confrontado um dos assistentes de Adolf Prokop, descoberto, alguns anos mais tarde, como um espião da antiga polícia secreta alemã-oriental STASI.
“Claro que o balanço foi de frustração, mas há o lado positivo de termos jogado com 11 portugueses, algo impensável na atualidade. Uns dias antes de viajarmos para a Suíça, fomos à casa do Pedroto. Não me recordo da conversa, mas certamente deu palavras de incentivo, pois depositava muita confiança e sabia os jogadores que tinha”, partilhou.
Mesmo que o incentivo de 2.500 euros proposto pelo presidente Pinto da Costa tivesse ficado congelado, o insucesso de Basileia projetou as bases da equipa que, três anos depois, conquistou a Taça dos Clubes Campeões Europeus e a Taça Intercontinental.
Às Antas, chegaria nesse verão Artur Jorge, sucessor de Pedroto, falecido em 1985, para guiar os ‘dragões’ à vitória diante dos germânicos do Bayern Munique, na final de Viena (2-1), que também contou com Jaime Magalhães a titular na ala direita do ataque.
Quase 37 anos e cinco jogos depois, FC Porto e Juventus voltam a cruzar-se nos oitavos de final da Liga dos Campeões, com a primeira mão marcada para quarta-feira, às 20:00, no Estádio do Dragão, três semanas antes do reencontro, em Turim.
“Passado tantos anos, não há ajustes de contas. É mais um jogo e espero que possam aproveitar pequenos deslizes para ganhar. O poderio financeiro é totalmente diferente e a Juventus parte com o favoritismo todo. Com ou sem Ronaldo, será sempre uma equipa muito forte”, concluiu Jaime Magalhães, que alinhou pelos ‘dragões’ entre 1980 e 1995.
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