O antigo futebolista português Paulo Futre lamentou hoje a morte do antigo presidente do Marselha Bernard Tapie, que o contratou em 1993/94 para os então campeões da Europa, admitindo que podia ter sido o que quisesse sem a corrupção.
“O Bernard Tapie era um génio. Podia ter sido o ‘rei’ de França, o presidente, o que quisesse. Na altura era presidente do Marselha, que era campeão da Europa, e era também o treinador. Era ele que fazia a equipa e dava a tática e, também nisso, era bom”, afirmou Futre, em declarações à agência Lusa.
O antigo extremo chegou ao clube no início da época 1993/94, proveniente do Benfica, um ano depois de a formação marselhesa se ter tornado na primeira e única equipa francesa a sagrar-se campeã da Europa, juntando-se, então, no plantel a Rui Barros.
“O Rui Barros era o meu tradutor para as instruções do Tapie, que só não nos dava os treinos. Isso era com o Marc Bourrier, que era como se fosse o treinador interino”, recordou Futre, que acabou por deixar o clube rumo aos italianos da Reggiana, na sequência do escândalo de corrupção que levou o Marselha para a segunda divisão.
O Marselha, que segundo Futre “era uma superequipa, com Barthez, Desailly, Boksic”, ia disputar a final da Liga dos Campeões de 1992/93, dois anos depois de ter perdido o jogo decisivo da principal competição europeia de clubes frente ao Estrela Vermelha, num encontro que se apresentou desfalcado de dois jogadores.
Assim, antes da final frente ao AC Milan, que viria a vencer por 1-0, com um golo de Basile Boli, o então presidente do Marselha pediu ao ex-jogador Jean-Jacques Eydelie que sondasse antigos companheiros de equipa para evitar possíveis lesões no encontro frente ao modesto Valenciennes.
O argentino Jorge Burruchaga e Christophe Robert aceitaram o suborno para facilitarem, enquanto Jacques Glassmann recusou e denunciou a investida, num escândalo que retirou o título de campeão nacional de 1992/93 e levou à despromoção do Marselha após a época 1993/94.
“Se alguma coisa tivesse que dizer de mal do Bernard Tapie era este caso, que me fez recorrer a imensas infiltrações, porque tinha de deixar o clube para não jogar na segunda divisão, e isso contribuiu muito para que o joelho acabasse por ‘rebentar’”, referiu.
O Marselha acabaria por regressar ao principal escalão em 1996/97.
Na sequência do escândalo, em 15 de maio de 1995, Tapie foi condenado a 26 meses de prisão, por manipulação de resultados e fraude nas contas do clube, acabando por cumprir seis meses de pena até receber liberdade condicional.
Burrochaga e Robert foram condenados a seis meses de prisão com pena suspensa, enquanto Eydelie e o antigo diretor do clube Jean-Pierre Bernès a um e dois anos, respetivamente, por terem intermediado o suborno.
O ex-ministro e empresário francês Bernard Tapie morreu aos 78 anos, vítima de cancro, disseram hoje familiares ao grupo de comunicação La Provence, do qual o antigo presidente do Marselha era acionista maioritário.
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