A histórica subida de divisão do Lusitanos St. Maur na última temporada, a quarta em cinco anos para o clube, aliada à campanha da seleção portuguesa no Euro2016, permitiu então a Carlos Secretário divulgar publicamente em Portugal o seu trabalho de sucesso na equipa dos arredores de Paris. Agora em "visita de médico" ao seu país-natal, o antigo lateral do FC Porto fez o ponto de situação da experiência em França em conversa com o SAPO Desporto.
"Está a correr muito bem. No ano passado tínhamos como objetivo a subida e concretizámos. A meta para o clube [nesta época] era simplesmente a manutenção e essa manutenção está praticamente definida. Estamos em primeiro, com cinco pontos de diferença em relação ao segundo. Para quem simplesmente sonhava com a manutenção, a partir do momento em que nos encontramos nesta posição somos obrigados a sonhar um pouco mais alto, como é óbvio. Mas como eu costumo dizer, é jogo a jogo, e vamos tentar manter esta posição, sabendo que é um campeonato extremamente competitivo, com equipas muito equilibradas, uma diferença de pontos muito pequena entre as equipas. Para já é uma experiência bastante positiva e a época está a correr acima daquilo que perspetivámos", explicou o treinador de 46 anos, natural de São João da Madeira.
Graças ao projeto que vai sendo de claro sucesso em França, Secretário acredita que em Portugal não faltará quem esteja atento ao seu trabalho, mesmo tendo em conta que o Lusitanos disputa o quarto escalão francês: "Sim, as notícias passam muito rápido, não só pelos jornais desportivos mas pela televisão, como foi o caso do ano passado, aquando da nossa subida. Felizmente tivemos muitos meios de comunicação a darem atenção, não só devido à subida em si mas pelo facto de Portugal ter estado inserido no Europeu em França. Por estarmos na zona de Paris tivemos muito acompanhamento pela comunicação social. Também vão saindo aqui notícias do meu trajeto em França, é normal que as pessoas estejam atentas".
O técnico garante que continua satisfeito no clube francês de raízes portuguesas, mas admite que os bons resultados lhe poderão permitir um "salto" para outros voos, nomeadamente de volta a Portugal.
"Vou esperando, para já estou bem no Lusitanos, estou a ser bem tratado, bem acarinhado, mas a vida de um treinador é muito inconstante, umas vezes pelos maus resultados, outras vezes pelos bons. Neste momento estou no lado dos bons resultados e as pessoas certamente estão atentas. Mais perto do final [da época], se houver coisas para aparecer, aparecerão. Já me foi feito o convite para continuar mais duas épocas no Lusitanos, mas ainda nada está decidido. Terei que estudar as hipóteses que aparecerem, e para mim o mais importante não é a parte económica, ao contrário do que possam pensar. Tem muito a ver com o projeto e com as condições de trabalho, o que passa por um bom plantel e também por material, campos. Tudo isso contará muito para a minha decisão".
Nesse aspeto, explica Secretário, será praticamente impossível para um clube português de um escalão inferior competir com o Lusitanos.
"Poderá muita gente não ter ideia daquilo que é uma CFA, que é uma quarta divisão em França. Eu também não a tinha, vou ser sincero. Quando fui para França, fui para uma quinta divisão, não sabia bem o que esperar. O que é certo é que as condições são excelentes, ao nível das condições de treino. A competitividade é excelente, a qualidade dos jogadores também, nada tem a ver com uma quarta divisão em Portugal. Por isso me mantive para o segundo ano, porque se assim não fosse provavelmente não estaria no Lusitanos. Por toda a competitividade que há, pela grande qualidade dos jogadores que aparecem no campeonato, estou muito contente por ter aceite este desafio e por estar neste momento no Lusitanos", garantiu.
Olhar atento a Portugal: FC Porto em crescendo
Mesmo à distância na maior parte do tempo, o antigo lateral do FC Porto continua atento à Primeira Liga e, em particular, à prestação do seu clube do coração. A avaliação é positiva, mesmo tendo em conta o arranque menos exuberante dos 'dragões' na temporada.
"O FC Porto não começou da melhor forma, com um treinador novo e duas épocas sem ganhar nada, muitas indefinições no plantel entre entradas e saídas. Creio que ganhar alguma estabilidade nesse aspeto foi importante para o treinador, para os jogadores e para a própria direção, assim como para os adeptos, que também ajudam, e de que maneira, a equipa. A estabilidade deu alguma força ao treinador, que pôde trabalhar melhor. Os jogadores puderam estar concentrados naquele que é o seu clube, estando a 100% no FC Porto. Isso marcou a diferença, assim como o tempo para os jogadores adquirirem as ideias do treinador", analisou, abordando ainda o que resta jogar do campeonato.
"É uma questão de tempo até o FC Porto passar o Benfica ou o Benfica ganhar mais vantagem. Nesta altura, e da forma como o campeonato está a correr, a equipa que cometer menos erros estará mais perto de ganhar este campeonato. Se calhar ninguém esperava que FC Porto e Benfica perdessem pontos contra as equipas contra as quais perderam, tanto em casa como fora, e se calhar conseguiram ganhar com menos dificuldades os jogos que as pessoas esperavam que fossem mais difíceis. É muito imprevisível, por isso é que o futebol é um desporto tão adorado e, em algumas alturas, odiado. Houve resultados imprevisíveis e por isso tudo pode acontecer daqui para a frente".
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