Francisco Miguel Conceição Roque Neto, nascido em Mortágua em 1981, era um nome relativamente desconhecido dos adeptos de futebol até há bem pouco tempo. Contudo, as recentes qualificações da seleção portuguesa de futebol feminino para o Campeonato da Europa e, recentemente, para o Campeonato do Mundo, trouxeram o técnico português para a ribalta, resultado de muitos anos de trabalho no desenvolvimento da modalidade no nosso país.
A carreira de Francisco Neto enquanto treinador começou muito cedo; aos 20 anos, o jovem Francisco aceitou ser treinador da seleção distrital de sub-13 da Associação de Futebol de Viseu. O técnico fez um longo percurso nos escalões de formação, e em 2005/2006 foi treinador do Clube de Futebol "Os Repesenses", clube do distrito de Viseu que disputava o campeonato de juniores B.
Seis anos após ter sido convidado para a seleção distrital, Francisco Neto é promovido ao cargo de coordenador técnico da Associação de Futebol de Viseu, passando assim a ser o responsável por todas as seleções distritais da associação.
Ainda no cargo, Francisco Neto participou num estágio na Seleção Nacional A feminina em 2009 no âmbito da 'Algarve Cup', torneio de futebol feminino internacional, acabando por integrar a equipa técnica da seleção, na altura comandada por Mónica Jorge, como treinador de guarda-redes, cargo que ocupou durante dois anos.
Regressado à coordenação técnica da AF de Viseu, Francisco Neto iniciou a sua formação académica de treinador, completando o nível IV do curso de treinadores em 2013 com 16,6 valores, melhor nota do que técnicos da sua turma como Sérgio Conceição ou Paulo Fonseca.
Menos de um ano depois, Francisco Neto abraçou a sua primeira (e única até ao momento) experiência fora de Portugal. Com 32 anos, o técnico orientou a seleção goesa de sub-21 masculina nos Jogos da Lusofonia, tendo alcançado um surpreendente primeiro lugar.
"Devo salientar que ninguém esperava isto inicialmente. Na última edição dos Jogos da Lusofonia, Goa sofreu 18 golos e marcou apenas dois. Sendo a seleção anfitriã, ninguém queria passar pelo mesmo. O nosso objetivo era diminuir a diferença entre uma seleção estadual (só temos jogadores de Goa) e as seleções nacionais, para além de disfrutar o momento. Felizmente, tudo correu bem", disse o treinador na altura
Tal prestação acabou por chamar à atenção dos responsáveis da Federação Portuguesa de Futebol que o convidaram para pegar na seleção A portuguesa em 2014. Ao treinador viseense foi-lhe proposto o desafio de tornar o futebol feminino português mais competitivo, missão que Francisco Neto abraçou, mostrando desde o início que acreditava que tal seria possível.
"Não sinto que seja uma missão impossível. É um projeto ambicioso que vai de certeza absoluta desenvolver o futebol feminino em Portugal. Tem de ser assim na vida e é sem medo nenhum que venho para o futebol feminino", afirmou o treinador na sua apresentação.
E a verdade é que Francisco Neto passou das palavras às ações. No primeiro grande desafio aos comandos da seleção nacional, Francisco Neto fez história ao levar Portugal ao seu primeiro Campeonato da Europa. Depois de acabar a fase de grupos no segundo lugar atrás da Espanha, a equipa portuguesa arrancou a ferros a qualificação ao eliminar a Roménia.
Depois de um empate a zero no Restelo, Portugal soube reagir e empatou a um golo na Roménia, graças a um golo de Andreia Norton, na segunda parte do prolongamento.
Em estreia no europeu, Portugal ficou no grupo D, juntamente com Espanha, Escócia e Inglaterra, tendo terminado em último lugar no grupo, mas com os mesmos três pontos de espanholas e escocesas. Para além da presença no Euro, a equipa lusa fez história ao conseguir a sua primeira vitória em grandes competições, ao vencer a Escócia por 2-1.
O trabalho de Francisco Neto e da FPF começava a dar os seus frutos. O campeonato nacional foi ganhando cada vez maior dimensão, atraindo atenções, grandes jogadoras e patrocinadores. Tudo isto permitiu a solidificação e desenvolvimento dos trabalhos nos escalões de formação de clubes e seleção e que, consequentemente, foram 'desaguar' na equipa principal.
Mas Francisco Neto e a Federação queriam mais, queriam o Campeonato do Mundo. Mostrando muita determinação e uma enorme capacidade de sofrimento e superação, a equipa portuguesa conseguiu alcançar tal feito histórico e que, há poucos anos atrás, achar-se-ia praticamente impossível.
Não há dúvida que existe uma marca indelével de Francisco Neto neste feito e que, aconteça o que acontecer, ficará para a história do futebol português. É muito devido ao técnico viseense que Portugal mudou por completo a maneira como olha para o futebol feminino, e que agora tem o seu espaço próprio e uma identidade bem vincada.
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