Os jovens da Guiné-Bissau sentem orgulho nas vitórias da seleção portuguesa de sub-20 no campeonato mundial da Turquia em futebol e sonham um dia defender as cores de Portugal, como os compatriotas que integram a seleção nacional.
Na seleção portuguesa que passou aos oitavos de final no mundial que decorre na Turquia têm jogado cinco guineenses, entre eles Bruma, do Sporting, a "vedeta" do momento.
Em Bissau, no Estádio Lino Correia, centenas de jovens de todas as idades treinam todos os dias com os olhos postos em Bruma, mas também em Tomás Dabó, Edgar Ié, Aladje ou Agostinho Cá.
Muitos deles são treinados por Sidico Queita, (mister N'Koka) 50 anos, há 20 a descobrir talentos, como no dia em que viu Bruma a brincar com uma bola no bairro de Luanda, já lá vai mais de uma década.
À Lusa conta que nesse mesmo dia falou com a mãe do jovem mas que esta não queria que ele levasse o Bruma para treinar, porque precisava dele para a ajudar a vender lenha. Leve o irmão (Mesca, hoje a jogar no Fulham, em Inglaterra) mas deixe o Bruma, ter-lhe-á dito a mulher, ao que Sidico respondeu que era o Bruma que queria.
Assim foi. E hoje os sucessos do jovem guineense não espantam Sidico Queita, que sabe que o jovem «faz a diferença», como já fazia quando criança treinava no Lino Correia.
«Um dia estávamos a fazer um jogo de infantis e estávamos a perder dois a zero. Chegou o Bruma e disse para o meter que ele ia marcar quatro ou cinco golos. E marcou. Marcava sempre», conta o técnico, que fala de Bruma como «um rapaz muito calmo e educado, de uma família muito pobre e na qual sente muito orgulho».
«Eu sempre acreditei nele, o Bruma vai chegar a um lugar que nem o Cristiano Ronaldo», diz Sidico, que vê o Dabó, o Edgar Ié ou o Agostinho Cá como "bons miúdos" também. Só que Bruma «é o melhor jogador do mundo».
E quando hoje o vê a marcar golos em Portugal sente muito orgulho. «Quando vejo a seleção de sub-20 a jogar sinto o meu coração lá todo. Quando vi aquele golo do Bruma contra a Nigéria fiquei encantado, para mim é como se fosse a seleção da Guiné», diz.
E se os jovens guineenses estão a defender a bandeira de «é igual». «Quando um jogador guineense veste a camisola de Portugal sinto orgulho, porque Portugal ou a Guiné-Bissau é igual. E se não há Portugal como é que vamos descobrir estes jogadores?», questiona.
Luisinho da Silva tem 18 anos e treina na Academia 'Fidjus de Bideras', também no Lino Correia. É adepto do Sporting, é ponta-de-lança, e sonha ir também um dia jogar para Portugal.
À Lusa fala de Bruma, diz que vai chegar muito longe, mas fala também da grande presença guineense na seleção: «para ter cinco ou seis jogadores guineenses na seleção portuguesa isso já é grande coisa, isso demonstra que os jogadores guineenses estão a evoluir».
Em Bissau tem os olhos mas os sonhos estão em Lisboa. E defender a seleção de Portugal seria "normal", porque «a seleção da Guiné não compete». «Também o faria sem problema, estou a ajudar-me a mim próprio e isso não quer dizer que não sou guineense», diz.
Ireneu Zeca Albino tem 12 anos, joga há três com Sidico e gostava mesmo era de ir para o Benfica, em Portugal. Não lhe interessa a questão da camisola ou da bandeira, como também não interessa a Zezinho Manuel Sanca, 15 anos, que sonha com "as grandes equipas" de Portugal.
Jogou com Bruma, em quem admira os remates e os dribles, vê os jogos da seleção de sub-20 e sente «muito orgulho».
«Fico muito feliz porque o guineense está a fazer um grande trabalho lá», diz à Lusa. Se fosse possível perguntar a cada cidadão do país a resposta por certo seria igual.
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