A indústria hoteleira do Qatar está a ser acusada de pouco fazer para acabar com as práticas abusivas no recrutamento de trabalhadores, a poucos meses do arranque do Mundial de futebol no país. O jornal 'The Independent' escreve que milhares de adeptos vão ficar em alojamentos onde os trabalhadores estrangeiros ainda têm de pagar às agências de recrutamento e a terceiros para poderem trabalhar.
De acordo com a mesma fonte, citando um relatório da 'Business and Human Rights Resource Centre', os trabalhadores estão a pagar, entre 500 a 2340 euros para conseguir emprego no Qatar, mesmo sabendo que esta é uma prática ilegal no país. O jornal escreve que muitos trabalhadores acabam por contrair dívidas, difíceis de liquidar, deixando-os em situação financeira delicada. Alguns acabam mesmo por cometer suicídio, pela pressão de ter de pagar.
A indústria hoteleira do país está a ser acusada de uma monitorização inadequada e de pouco fazer para acabar com as práticas ilegais.
Algumas unidades hoteleiras fizeram "progressos modestos" no que a direitos dos trabalhadores diz respeito, mas muitos falharam os objetivos, numa altura que escasseia o tempo para implementarem as medidas acordadas com a FIFA.
A 'Business and Human Rights Resource Centre' convidou 30 multinacionais da indústria hoteleira que operam no país a responder um questionário, mas apenas 14 aceitaram dar respostas. E, destas, apenas duas - Four Seasons e Radisson - comprometeram-se a resolver e denunciar casos de pagamentos feitos pelos trabalhadores a terceiros durante o recrutamento.
Dez das 14 empresas que responderam ao questionário foram capazes de nomear, pelo menos, uma agência ou empresa de fornecimento de mão de obra, o que já de si é uma melhoria significativa. E apenas quatro das 14 empresas denunciaram terem descoberto a prática de pagamentos de verbas feitos pelos trabalhadores às empresas de recrutamento, apesar de esta ser uma prática comum no país
O relatório indica que a indústria hoteleira tem de garantir segurança aos trabalhadores (que são ameaçados e dizem ter medo), durante a entrevista de emprego, no caso de denúncia de situações de práticas ilegais de recrutamento.
O relatório da 'Business and Human Rights Resource Centre' contou a experiência de alguns trabalhadores, como o de um segurança do Bangladesh: "Fui contratado diretamente no Qatar. Não usei nenhuma agência. Quando fui transferido da minha antiga empresa para esta, tive de pagar à minha antiga empresa para poder sair. Mas a minha empresa atual não pediu nenhum dinheiro".
No seu relatório, a 'Business and Human Rights Resource Centre' pede ajuda ao Mundo do futebol para colocar um ponto final nestas práticas abusivas que atentam contra os direitos dos trabalhadores.
"As seleções, patrocinadores e a própria UEFA - que serão hóspedes em hotéis de luxo - têm de usar a sua voz no sentido de forçar a indústria hoteleira no Qatar a seguir as melhores práticas. É altura de todos se unirem par assegurar que os direitos dos trabalhadores sejam respeitados durante o torneio", pode-se ler no relatório. A mesma fonte acredita que as melhorias introduzidas no Qatar terão impacto para lá do Mundial2022.
Comentários