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O recente surto de violência reflete a dificuldade da polícia brasileira em pacificar as favelas a tempo do Mundial.
A 50 dias do mundial de futebol, as autoridades do Rio de Janeiro reforçaram hoje a segurança em Copacabana, no rescaldo de uma manifestação de moradores de uma favela revoltados com a morte de um dançarino atribuída à polícia.
Este novo surto de violência ilustra a grande dificuldade das autoridades do Rio de Janeiro em implementar sem confrontos a sua política de “pacificação” das favelas, anteriormente dominada pelos traficantes de droga, lançada em 2008 e tendo em vista o mundial de futebol (entre 12 junho e 13 de julho) e os Jogos Olímpicos (em 2016).
As Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) contribuíram para baixar drasticamente a taxa de homicídios no Rio de Janeiro, mas estão há meses a ser atacadas pelos traficantes, que querem recuperar os seus territórios.
A atitude frequentemente violenta da polícia provoca uma reação crescente de rejeição dos habitantes das favelas.
O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, prometeu hoje no Twitter que irá tomar “as medidas apropriadas” depois de receber as conclusões da investigação da morte de Douglas Rafael da Silva, de 25 anos, que tinha a alcunha “DG”, e trabalhava como dançarino num programa televisivo da TV Globo.
De acordo com os moradores da favela do Pavão-Pavãozinho, na zona de Copacabana, “DG” foi confundido com um traficante e morto pela polícia.
Durante os confrontos entre os manifestantes e a polícia, na noite de quarta-feira, um rapaz com deficiência mental foi morto com um tiro na cabeça pela polícia, segundo algumas testemunhas.
Dezenas de jovens em fúria ergueram na terça-feira barricadas, com pneus em chamas, na favela. Enfrentaram a polícia atirando pedras e garrafas de vidro, provocando o encerramento de uma estação de metro e várias avenidas da zona.
A polícia utilizou gás pimenta e balas reais para dispersar a multidão.
Hoje pela manhã o ambiente já estava mais calmo, por ser feriado em honra de São Jorge, santo católico que é identificado como Ogun nas religiões afro-brasileiras, e muito seguido no Rio de Janeiro.
Dezenas de polícias militares patrulhavam a favela do Pavão-Pavãozinho e os seus arredores, enquanto os bombeiros retiravam as barricadas erguidas na noite anterior.
A polícia limitou-se a indicar que o dançarino foi encontrado na terça-feira, sem vida, com o corpo ensanguentado, numa creche da favela, apresentando ferimentos que poderiam ter sido causados por uma queda.
Mas o relatório da autópsia publicada hoje pelo site G1 informa que a morte foi causada por “uma hemorragia interna provocada por um ferimento perfurante no tórax”, o que indica que seria um ferimento de bala.
Segundo os amigos, o dançarino foi morto por polícias da UPP que atuam na favela.
Em 10 de abril, a Amnistia Internacional publicou, num comunicado, que “a polícia e a ocupação militar das favelas no Rio suscitam preocupação em razão do uso excessivo da força e o controlo militar das comunidades”.
A causa da morte de Douglas Rafael da Silva é investigada pela polícia Militar e polícia Civil do Rio de Janeiro, que ouviu hoje à tarde a mãe da vítima, bem como alguns polícias que realizaram disparos durante a confusão na noite passada.
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