A Amnistia Internacional (AI) em Portugal entregou mil camisolas que lembram os coletes de trabalhadores migrantes da construção civil no Qatar, antes do particular entre a seleção portuguesa e a Nigéria, hoje, no Estádio José Alvalade.

A iniciativa visa lembrar os abusos de direitos humanos sofridos por trabalhadores migrantes nos últimos anos no Qatar, com organizações não-governamentais a apontarem para milhares de mortes na construção das infraestruturas em que assenta o Mundial2022, que arranca no domingo.

“Fazem lembrar os coletes dos trabalhadores da construção civil, para que não se esqueçam os trabalhadores que construíram os estádios e outras infraestruturas, e fala também do artigo quarto da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que foi ofendido neste âmbito”, explica à Lusa o diretor-executivo da Amnistia Internacional em Portugal, Pedro A. Neto.

No artigo Quarto da declaração, pode ler-se: “Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos”.

Estas camisolas estarão mais tarde à venda, procurando alertar para a situação humanitária naquele país, em que Portugal vai disputar o título mundial de futebol masculino.

A seleção portuguesa defronta hoje, pelas 18:45, a Nigéria, orientada pelo português José Peseiro e ausente da fase final do campeonato do Mundo, na véspera de os lusos viajarem para o Qatar.

A Amnistia Internacional Portugal tem ainda uma petição sobre o tema a decorrer, além de uma campanha de angariação de fundos que visa “continuar o trabalho de campanha e investigação”, em prol de uma compensação para trabalhadores e famílias de trabalhadores.

A questão sobre a indemnização refere-se a uma campanha lançada por uma coligação de organizações de direitos humanos, incluindo a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch, em maio deste ano, apelando à FIFA que reserve 433 milhões de euros para um fundo que indemnize trabalhadores lesados e possa prevenir abusos futuros.

O valor é equiparado à ‘pool’ de prémios monetários que serão distribuídos pelos participantes, com a Amnistia a lembrar que o organismo de cúpula do futebol mundial estima arrecadar “cerca de 5,9 mil milhões de euros em receitas do torneio”.

Embora as autoridades do Qatar neguem, várias organizações apontam para milhares de mortes naquele país entre 2010 e 2019 em trabalhos relacionados com o Mundial, com um relatório do jornal britânico The Guardian, de fevereiro deste ano, a cifrar o valor em 6.500 óbitos, número que muitos consideram conservador.

Além das mortes por explicar, o sistema laboral de ‘kafala’ e os trabalhos forçados, sob calor extremo e com longas horas de trabalho, entre outras agressões, têm sido lembradas e expostas há anos por organizações não-governamentais e relatórios independentes.

Ao longo dos últimos anos, numerosas organizações e instituições têm apelado também à defesa dos direitos de adeptos, e não só, pertencentes à comunidade LGBTQI+, tendo em conta a perseguição de que são alvo no Qatar.

Várias seleções, como Dinamarca, Austrália ou Estados Unidos, posicionaram-se ativamente contra os abusos ou a favor da inclusão e proteção quer dos migrantes quer da comunidade LGBTQI+, tanto a viver no país como quem pretenda viajar para assistir aos jogos.

O Campeonato do Mundo masculino de futebol vai decorrer entre 20 de novembro e 18 de dezembro, com a seleção portuguesa apurada e inserida no grupo H, com Uruguai, Gana e Coreia do Sul.