O Qatar rejeitou pedidos de ONGs para se criar um fundo de indemnização para trabalhadores mortos, ou feridos, nos preparativos para o Campeonato do Mundo de futebol, declarou o Ministro do Trabalho do país, Ali bin Samij al-Marri, em entrevista exclusiva à AFP.

"Este pedido […] de uma campanha de compensação é uma estratégia de comunicação", rebateu o ministro Al-Marri em entrevista feita no domingo (30).

Segundo o político, o Qatar já conta com um fundo para os trabalhadores mortos, ou feridos. Ali bin Samij al-Marri afirmou ainda que o país está a pagar centenas de milhões de dólares em salários que não tinham sido pagos.

A Amnistia Internacional e a 'Human Rights Watch' lideraram os apelos à FIFA e ao Qatar para que criem um fundo de compensação de 440 milhões de dólares norte-americanos, qualquer coisa como 440,08 milhões de euros, – o equivalente aos prémios que são pagos no Mundial2022 – para os trabalhadores.

As ONGs têm criticado, regularmente, as condições de trabalho dos operários mobilizados nas diferentes obras para a competição, prevista para acontecer neste rico emirado do Golfo Pérsico a partir de 20 de novembro.

Também acusam o Qatar de não informar, de maneira adequada, o número de mortes. O governo rejeita as estimativas, segundo os quais milhares de pessoas morreram em acidentes de trabalho nas obras, ou tiveram condições de proteção insuficientes durante os meses quentes de verão.

A FIFA garante que há um "diálogo contínuo" sobre o assunto, mas, no primeiro comentário público do governo, Marri disse que a proposta é inviável.

"Cada morte é uma tragédia", comentou o ministro do Trabalho, mas, acrescentou, "não há qualquer critério para criar esses fundos".

"Onde estão as vítimas, vocês têm os nomes das vítimas? Como se consegue obter esses números?", questionou.

Alguns líderes sindicais internacionais também disseram que seria muito complicado criar e administrar um novo fundo.

Em 2018, o Qatar criou um fundo para ajudar os trabalhadores não remunerados, onde teria desembolsado, segundo o ministro, US$ 320 milhões de dólares norte-americanos só nesse ano de 2018.

"Se há uma pessoa com direito a indemnização que não a recebeu, ela deve apresentar-se e nós vamos ajudá-la", prometeu, acrescentando que o Qatar está disposto a examinar os casos de há mais de uma década.

- 'Motivações racistas' -

O emirado do Golfo Pérsico enfrentou uma onda de críticas desde que, em 20120, foi escolhido para receber o Mundial de 2022. Os ataques intensificaram-se este ano por causa das condições dos trabalhadores migrantes, dos direitos das mulheres e da comunidade LGBTQI.

No mês passado, o emir do Qatar repudiou aquilo que chama de "uma campanha [crítica] sem precedentes" que o país enfrenta.

Segundo o ministro do Trabalho, as críticas não levam em conta as reformas que o país implementou desde 2017 com a ajuda da Organização Internacional do Trabalho (OIT), órgão das Nações Unidas.

Outros países e grupos usaram “informações falsas” e “rumores” para “desacreditar o Qatar, com afirmações deliberadamente enganosas”, rebateu, denunciando que alguns críticos também agiram por "racismo".

"Vocês não querem permitir que um país pequeno, um país árabe, um país islâmico, organize um Campeonato do Mundo de Futebol. Conhecem muito bem as reformas que foram feitas, mas não as reconhecem porque têm motivações racistas", reagiu.

O Qatar refere-se à implementação do salário mínimo nacional, à redução da dependência dos trabalhadores em relação ao empregador e às regras de proteção mais rígidas durante os verões quentes.

Esta semana, a Organização Internacional do Trabalho afirmou que os salários não pagos são a maior queixa dos trabalhadores e que o principal desafio do Qatar é aplicar as suas novas leis.

O Ministério do Trabalho está "concentrado" nessa tarefa, frisou Marri.