A “brazuca” ainda não começou a rolar na Arena das Dunas e a polémica já está instalada antes do arranque do Mundial 2014, no Brasil, no qual irá acolher quatro jogos. Aliás, esta cresceu a uma velocidade muito maior do que as obras do recinto de Natal, no Estado de Rio Grande do Norte, que se prolongaram por quase dois anos e meio.
Sobre as cinzas do antigo estádio João Machado nasceu uma das obras mais controversas da “Copa” e que nem na inauguração escapou aos protestos de milhares de pessoas. Enquanto a Presidente Dilma Rousseff dava o simbólico pontapé de saída no relvado, muitos faziam ouvir a sua indignada voz no exterior contra um candidato a “elefante branco”.
Com um custo a rondar os 130 milhões de euros (423 milhões de reais), mais 15 por cento do que o que estava inicialmente previsto, a Arena das Dunas vai ainda onerar o Estado brasileiro por mais duas décadas graças a uma parceria público-privada.
Os números, como sempre, dão azo a múltiplas interpretações, mas a imprensa brasileira destaca o seu lado mais sombrio e cruel. A construtora OAS avançou com 123 milhões de reais e assegurou o empréstimo de mais 300 milhões junto do Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES), mas as garantias sobre o dinheiro ficaram a cargo do governo do Rio Grande do Norte, com a entrega de imóveis públicos e ‘royalties’ do petróleo.
Paralelamente, este Estado terá de pagar avultadas compensações mensais durante 17 anos. De facto, serão quase 10 milhões de reais por mês (três milhões de euros) durante os primeiros 11 anos, 2,7 milhões (820 mil euros) nos três anos seguintes e, finalmente, 90 mil reais (27,3 mil euros) mensalmente até ao fim da concessão em 2030. Tudo somado dá para pagar “três Arenas das Dunas”, o que revoltou o povo brasileiro.
Os responsáveis da obra e da organização do Mundial defendem o caráter multiusos deste recinto, que terá capacidade durante o torneio para 42 mil pessoas, “perdendo” posteriormente as bancadas amovíveis para ficar com uma lotação de cerca de 31 mil espectadores. Desde a realização de espetáculos musicais à organização de congressos e reuniões, bem como a exploração de áreas comerciais anexas ao estádio, são vários os argumentos invocados para defender o sétimo estádio pronto para a “Copa”.
Porém, esses argumentos têm sido desvalorizados perante a crua realidade do seu ‘core business’ ser frágil. O futebol de alto nível, propriamente dito, será uma miragem na Arena das Dunas, pois nenhuma das equipas que o irá utilizar alinha no Brasileirão. Mais: tanto o América-RN como o ABC tiveram em 2013 uma média de assistência de público inferior a cinco mil pessoas, o que levanta ainda maiores dúvidas sobre a viabilidade financeira do projeto.
Dilma Rousseff já respondeu aos críticos, acusando-os de terem uma “visão pequena” do Brasil e da importância do Mundial’2014 para o país. Porém, a “visão pequena” tem crescido com os protestos dos brasileiros contra os grandes gastos nos estádios. E o Mundial ainda nem começou…
Comentários