As mulheres têm vindo a ganhar, cada vez mais protagonismo no jornalismo desportivo. Num mundo que era quase só de homens, há cada vez mais mulheres a mostrarem que a narração não olha a sexos. Na Rússia, há muitas mulheres a fazer relatos dos jogos, levando as emoções do Mundial aos quatro cantos do Mundo através da Rádio. Apesar disso, é nas redes sociais que encontram as principais barreiras, onde têm de enfrentar os preconceitos e insultos sexistas dos internautas.
Se as apresentadoras e as especialistas foram ganhando, aos poucos, o seu espaço nas transmissões desportivas um pouco por tudo o mundo, a narração ao vivo dos jogos é um terreno tradicionalmente reservado aos homens nos principais meios de comunicação.
Claudia, Vicki, Hanna, Lise e Aly: as pioneiras que brilham na Rússia
Claudia Neumann na televisão ZDF alemã, Vicki Sparks na BBC britânica, Hanna Marklund na TV4 sueca, Lise Klavenesess na NRK norueguesa e Aly Wagner na Fox americana quebraram essa barreira graças ao Mundial da Rússia, mas nas redes sociais tiveram que pagar um certo preço.
"Não quero mulheres como comentadoras de futebol! Isso está claro!", afirmou no Twitter um adepto contrário à decisão. "Vicki Sparks na BBC é horrível. A igualdade forçada irrita-me", podia-se ler em outro tweet.
"Imagino que Neumann não é sequer capaz de fazer uma boa sopa de batata", afirma outro internauta.
Perante essa tempestade de mensagens sexistas nas redes sociais, colegas, instâncias desportivas e outros utilizadores dessas redes entraram em cena para defender as pioneiras.
"Lise Klaveness está blindada (...) Informou-se de modo excecional e teve de superar muitos obstáculos. Lise merece reconhecimento", afirmou ao jornal 'Aftenposten' Egil Sundvor, diretor de Desporto da NRK, a rede pública norueguesa.
Mulheres num mundo de homens: há quem tenha dificuldades em aceitar
Na Alemanha, Claudia Neumann, que já fez relatos para a rádio de jogos do Euro 2016 e da Liga dos Campeões, recebeu o apoio da Confederação Olímpica e Desportiva Alemã.
Bibiana Steinhaus, a primeira mulher a arbitrar partidas da Bundesliga masculina este ano, teve que lutar contra preconceitos similares, o que lhe fez ser especialmente solidária com ela.
"Claro que aceitamos as críticas, incluindo as que vão contra os comentadores, mas no caso de Claudia Neumann ultrapassaram todos os limites. Parece que tocamos um ponto sensível: uma mulher a narrar uma partida de um Mundial de futebol masculino. Isso faz alguns na internet enlouquecerem", queixa-se o chefe de Desporto da ZDF, Thomas Fuhrmann.
Mas não só os utilizadores anónimos que se deixam levar pelos seus preconceitos. Também nomes de destaque como o ex-internacional inglês John Terry, que insinuou que tinha problemas para acompanhar um jogo narrado por uma voz feminina.
No Instagram disse que tinha que "desligar o som" dos jogos comentados por Vicki Sparks. Após uma chuva de críticas, defendeu-se, aludindo a "um problema técnico".
A professora de Jornalismo Jana Wiske lembrou ao semanário alemão 'Spiegel' que dos 419 jornalistas alemães que trabalham na cobertura do Mundial 2018, apenas 49 são mulheres.
"Continua a ser incomum ouvir uma mulher [a narrar um jogo]. O futebol é um mundo de homens, não só na Alemanha, de modo que não são uma surpresa essas críticas humilhantes contra a comentadora", lamenta Jana Wiske.
Mais mulheres no desporto
A Confederação Olímpica e Desportiva Alemã encontrou a solução para acabar com esse preconceito no seu país: "Pôr mais comentadoras em disciplinas pretensamente masculinas e, sobretudo, vozes femininas no futebol durante o Mundial, o Euro ou a Liga dos Campeões".
Alguns meios mostraram a sua vontade de avançar nessa tendência. A televisão pública alemã ARD anunciou que procura "no médio prazo" uma comentadora para os jogos masculinos.
"Dou-me conta de que poucas mulheres querem seguir o caminho de serem comentadoras de desporto", argumenta Axel Balkausky, chefe de Desporto da ARD. Na Alemanha, mais de 90% dos jornalistas desportivos são homens.
Por isso é necessário também atrair para a profissão candidatas capazes de resistir a um início que provavelmente será hostil.
Na Rússia-2018 foram muito comentados também vários episódios de mulheres jornalistas que foram agredidas, assediadas ou beijadas à força por adeptos de futebol.
Esses incidentes coincidem com o movimento mundial #MeToo, que encoraja as mulheres a romperem o silêncio sobre as agressões de que são vítimas.
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