Mais coração que cabeça. Foi assim que se jogou a maior parte do eterno dérbi entre Benfica e Sporting da 33ª jornada da Primeira Liga.

Com as duas equipas a precisarem de vencer para se sagrarem desde já campeãs (com condicionantes diferentes), o leão deu o primeiro passo nesse sentido, e a primeira parte parecia que o título poderia ir desde já para Alvalade.

Contudo, o Benfica não estava disposto a ser novamente palco de festa alheia e, ajudado pelo encolhimento, do adversário, partiram para cima na segunda parte. O empate chegou, e adivinhava-se a reviravolta, tal era o domínio dos encarnados, sempre muito apoiados pelos mais de 60 mil que encheram a Luz.

Mas o campeão nacional mostrou estofo e capacidade de sofrimento para aguentar o empate até ao fim, beneficiando também da menor organização ofensiva do Benfica que nos minutos finais atacava mais com o coração do que com ponderação.

A festa foi adiada, os cafés reabriram, o Marquês voltou a ter trânsito e tudo ficou adiado para o próximo fim-de-semana, na última jornada da Liga; a diferença é que agora apenas o Sporting é dono do seu destino.

O jogo: Emoção, entrega...mas pouco futebol

Para o dérbi mais antecipado dos últimos anos, Bruno Lage e Rui Borges não trouxeram surpresas para os respetivos onzes. Lage lançou Di María de início, enquanto que Rui Borges manteve o mesmo onze da última ronda, com Pote ao lado de Trincão e Gyokeres no ataque.

O leão entrava em campo com dois resultados possíveis, um dos quais dava-lhe desde logo o título nacional, enquanto que os encarnados precisavam necessariamente de vencer e, se o fizessem por dois golos, sagravam-se desde logo campeões.

Apesar dessa urgência das águias, quem entrou melhor acabou por ser o Sporting; quatro minutos de jogo e, das poucas vezes em que teve espaço, Gyokeres veio da esquerda para o meio, contemporizou e serviu Trincão que, de primeira inaugurou o marcador.

Era o pior início que as águias poderiam desejar, e o arranque de sonho dos leões, que agora viam o título mais perto. Sempre muito ajudado pelos milhares que encheram a Luz, o Benfica tentou reagir, mas mostrava muitas dificuldades em desmontar a bem-organizada defesa leonina.

Só perto da meia-hora é que a equipa da casa conseguiu criar verdadeiro perigo; primeiro foi Akturkoglu a permitir o desarme de Rui Silva, quando estava na cara do guardião leonino, e logo a seguir foi Di María, sozinho dentro da área a atirar ligeiramente por cima.

Mas os leões não se limitavam a defender, procurando sair com critério e rápidas combinações para tentar aproximar-se da baliza de Trubin. Ao intervalo o leão estava na frente e parecia estar a controlar o encontro.

Contudo, a segunda parte foi totalmente diferente. Os leões acanharam-se e não conseguiam sair do seu meio-campo, tal era a pressão e agressividade imposta pelo Benfica, que surgiu depois do intervalo bem mais afoito no ataque, muito graças à entrada de Schjelderup, que substituiu o desinspirado Di María.

O jovem extremo começou rasgar a defesa leonina pela esquerda e criar desiquilíbrios que deixavam os campeões nacionais mais desconfortáveis no jogo, incapaz de ter bola e sair a jogar.

E aos 63 minutos os encarnados conseguiram mesmo materializar a sua superioridade; grande jogada de Pavlidis que entrou pela esquerda, deixou vários adversários pelo caminho, e cruzou para Akturkoglu que fez o empate e relançou todas as dúvidas, quer no jogo, quer na luta pelo título.

Galvanizados, os encarnados continuaram a carregar, empurrando o Sporting para o seu último terço, de onde teve sempre dificuldades em sair. Os treinadores, por seu lado, iam jogando a partir do banco. Rui Borges lançou Quenda, Matheus Reis e Harder para estancar o ímpeto ofensivo adversário, enquanto que Bruno Lage fez entrar Bruma, Belotti e Dahl, isto depois de ter perdido Tomás Araújo e Carreras por motivos físicos.

À medida que o relógio foi avançado, o Sporting foi conseguindo ter algumas saídas, mas onde, nem segurava o jogo em meio-campo ofensivo, nem criava perigo a um Benfica claramente balanceado para o ataque. Por sua vez, os encarnados iam atacando, mas cada vez com menos critério; exceção feita para o remate de Pavlidis, que levou a bola ao poste de Rui Silva, naquela que foi a única verdadeira oportunidade para as águias chegarem à vitória.

No final ficou tudo como começou: empatado. A grande diferença é que, com este resultado, o Sporting é o único que depende apenas de si para conquistar o título; já o Benfica terá de, obrigatoriamente, fazer melhor resultado que os leões na última jornada para conseguir arrebatar o campeonato das garras do leão.

O momento: Faltou um bocadinho assim

Corria o minuto 76 e o jogo entrava na sua fase decisiva. O Benfica procurava o golo da vitória, enquanto que o Sporting ia aguentando o precioso empate.

Uma rápida transição dos encarnados permitiu a Belotti fugir pela direita e cruzar atrasado para o coração da área, onde surgiu Pavlidis a rematar de primeira, levando a bola a esbarrar no poste da baliza de Rui Silva, naquela que foi a melhor oportunidade para o Benfica dar a volta ao marcador, e, consequentemente, mudar os destinos no que ao título diz respeito.

O melhor: Capitão em toda a linha

Muitos capitães existem cujo título é apenas um pretexto para falar com o árbitro ou simplesmente escolher campo ou bola. Nicolás Otamendi não se enquadra neste grupo, pelo contrário, está num grupo totalmente à parte. O central argentino fez aquilo que os verdadeiros líderes fazem: dar o exemplo.

O '30' benfiquista esteve absolutamente irrepreensível, ganhando praticamente todos os duelos, e colaborando diversas vezes com António Silva para eclipsar por completo Viktor Gyokeres, o que não é coisa pouca. De resto, limpou tudo o que havia para limpar, e superiorizou-se ao melhor ataque do campeonato.

Com a época que está a fazer, Otamendi vai definitivamente deixar saudades na Luz, caso se confirme a sua saída no final da época.

O pior: Pote vazio

Grande parte da gestão física que foi feita a Pedro Gonçalves desde o seu regresso de lesão teve certamente como fim conseguir que o criativo dos leões chegasse a este jogo mais próximo da forma a que já nos habituou.

Contudo, este dérbi deu para perceber o que, realisticamente, já se sabia: cinco meses é muito tempo e Pedro Gonçalves está a milhas daquilo que pode e sabe fazer. Ao longo da partida, foram raras as vezes em que o '8' dos leões conseguiu ter peso no desenho de jogadas ofensivas, quase sempre entregues às inspirações de Trincão, Gyokeres e Catamo.

Pode-se dizer sem qualquer risco que Pedro Gonçalves passou totalmente ao lado do jogo, e foi sem surpresa que foi substituído por Geovany Quenda aos 71 minutos...provavelmente poderia ter saído mais cedo.

O que disseram os treinadores:

Bruno Lage, treinador do Benfica

Rui Borges, treinador do Sporting

O resumo