A caminhada do Benfica rumo ao título de campeão nacional conta-se da seguinte forma: um arranque a todo o gás, que se consolidou num percurso bastante regular, exceção feita a um ou outro deslize. Curiosamente, os tropeções dos encarnados aconteceram quase sempre no seguimento das pausas para os compromissos internacionais.
A equipa de Roger Schmidt chega ao 38.º título depois de uma sequência de 28 vitórias, três empates e três derrotas. As águias chegaram a tremer, efetivamente – sobretudo na reta final –, mas desde que chegaram à liderança isolada da prova, à quarta jornada, não mais a perderam.
Minho, terra dos primeiros deslizes
Depois de um início demolidor, com 13 triunfos consecutivos (sete dos quais para o campeonato), o Benfica sofreu o primeiro deslize da temporada ao empatar sem golos no reduto do Vitória de Guimarães, na oitava ronda.
No regresso da primeira paragem para os jogos das seleções, os encarnados viram a sua manobra ofensiva emperrar na visita ao Estádio D. Afonso Henriques, face às dificuldades em criar perigo diante de um Vitória quase sempre equilibrado na retaguarda.
O resultado permitiu a aproximação do FC Porto à liderança com três pontos a menos. O ‘timing’ não podia ter sido pior: faltavam apenas duas rondas para o clássico no Dragão.
Certo é que o Benfica contrariou a história e acabou por vencer em casa do campeão nacional, graças a um golo de Rafa, e foi já na 14.ª jornada, numa outra deslocação, que chegou a primeira derrota da época. E sem qualquer contestação.
No jogo que opunha o líder ao terceiro classificado, foi mais forte o SC Braga que venceu por claros 3-0, com golos de Abel Ruiz (2') e Ricardo Horta (32' e 70'). Uma derrota assente, acima de tudo, num primeiro tempo completamente falhado por parte dos benfiquistas a quem a pausa para o Mundial no Qatar não fez bem – também tinham sido eliminados da Taça da Liga. Além disso, havia toda uma novela relacionada com a possível saída de Enzo Fernández para o Chelsea – que veio a concretizar-se.
Com este desaire, que quebrou uma invencibilidade que durava há 28 jogos consecutivos, as águias viram a sua vantagem no topo da tabela reduzir para cinco pontos face ao FC Porto, que vinha de uma goleada frente ao Arouca. Não foi o suficiente para fazer soar os alarmes na Luz, ainda assim, foi o bastante para o Benfica perceber a facilidade com que podia deitar tudo a perder.
O Sporting e os primeiros pontos perdidos na Luz
À derrota na Pedreira, seguiu-se um triunfo magro na receção ao Portimonense (1-0), arrancado com um golo de penálti de João Mário. O encarnados continuavam a dar sinais de alguma quebra e na semana seguinte, também na Luz, houve novo tropeção do líder.
O Benfica perdeu os primeiros pontos na I Liga em casa (já tinha empatado na Liga dos Campeões com o PSG) ao empatar 2-2 com o Sporting. Os leões não conseguiram capitalizar os dois momentos em que estiveram na frente, com golos de Bah (na própria baliza) e Pedro Gonçalves, com Gonçalo Ramos a aparecer duas vezes para empatar a partida.
O resultado serviu apenas os interesses do SC Braga e do FC Porto, que voltaram a encurtar distâncias para a liderança. Certo é que o Benfica acusou o abanão e, a partir daí, foi somando vitória atrás de vitória até chegar ao momento que todos apontam como o pior da época para a equipa de Roger Schmidt.
É possível falar em crise?
Mais uma paragem competitiva, mais uma quebra do Benfica. No regresso após mais uma pausa para os compromissos das seleções, a equipa de Roger Schmidt foi a Vila do Conde vencer por 1-0, mas nunca se sentiu confortável perante um Rio Ave em bom plano e que causou alguns calafrios.
Valeu o instinto matador de Gonçalo Ramos para garantir um triunfo muito suado (o 10.º consecutivo na I Liga), que permitiu aos encarnados conservar a vantagem de dez pontos para o FC Porto em vésperas de clássico na Luz. E foi precisamente a derrota com os azuis e brancos (1-2) que abriu caminho à pior fase das águias.
O Benfica até marcou primeiro, num golo a meias de Gonçalo Ramos com Diogo Costa, mas os dragões foram crescendo no jogo, empataram em cima do intervalo por Uribe, passaram para a frente no arranque do segundo tempo com um golo de Taremi e resistiram, depois, à pressão do adversário até ao fim para somarem um precioso triunfo.
Dez pontos de vantagem passaram a sete e, na semana seguinte, a apenas quatro, na sequência da derrota do Benfica em Chaves. Em Trás-os-Montes, os encarnados voltaram a fazer um jogo pouco convincente e não marcaram. Pior, sofreram um golo no período de compensação – Abass aproveitou uma escorregadela de Otamendi para ficar na cara de Vlachodimos – quando já não tiveram hipótese de reação.
Foi o terceiro jogo consecutivo das águias sem vencer esta época - entre FC Porto e Chaves, a Luz tinha assistido ao desaire o Inter Milão (0-2), na primeira mão dos quartos de final da Liga dos Campeões. Uma série negativa que surgia no pior momento possível da temporada para os benfiquistas.
A confirmação do adeus à Champions veio logo a seguir, apesar do empate 3-3 em Milão, e houve quem temesse o seu impacto na reta final do campeonato. O Benfica respondeu de imediato, com um triunfo por 1-0 na receção ao Estoril, graças a uma cabeçada certeira de Otamendi. Em Barcelos, os encarnados ainda sofreram, mas dois golos nos últimos 20 minutos fizeram a diferença.
Acabou por ser na receção ao SC Braga que o Benfica deu mostras de ter recuperado alguma da energia que mostrou noutras fases da época. Os minhotos não tiveram como contrariar a intensidade da equipa de Roger Schmidt, que chegou ao triunfo com um golo de Rafa Silva, que mostrou sangue-frio após atravessar metade do campo a correr, isolado por um grande passe de David Neres.
Apesar da pressão, o Benfica conseguiu segurar a vantagem de quatro pontos na visita ao Portimonense, que goleou por 5-1, seguindo-se o empate (2-2) com o Sporting.
Empate com sabor a título
Em Alvalade, o Benfica precisava de uma vitória para fazer a festa na penúltima jornada, mas só levou um empate frente ao Sporting, num dérbi dividido, em que os leões foram muito melhores na primeira parte e as águias bastante superiores na segunda: a desvantagem de 0-2 foi transformada num 2-2 com golos de Aursnes e João Neves, este já aos 90+4 minutos.
A equipa de Roger Schmidt recebia o Santa Clara (último classificado e já despromovido) com dois pontos de vantagem sobre o FC Porto, dependendo inteiramente de si para garantir o 38.º título da sua história.
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