Os presidentes de Marítimo e Santa Clara pretendem saber o mais breve possível o futuro da I Liga portuguesa de futebol, caso se confirme o regresso, devido à questão da insularidade.

Carlos Pereira e Rui Cordeiro participaram na quarta-feira num debate da RTP-Madeira, no qual o líder do clube açoriano lembrou que o primeiro-ministro António Costa avançou o retorno do campeonato, após a suspensão da prova, por causa da pandemia de COVID-19, no último fim de semana de maio, mas que ainda não está confirmado e definido, faltando a ação da Direção-Geral da Saúde (DGS).

“Ainda não houve nenhuma inspeção aos estádios, um parecer sobre essa situação e ainda há uma grande incógnita. Imaginemos que o Marítimo e o Santa Clara têm de ir para o continente. Há toda uma questão de logística, de transportes, alojamento, de custos adicionais que nós podemos vir a ter e nós já estamos em 06 [de maio], para retomar a 30. O prazo está a ficar curto e os dias passam. Parece que nós, fazendo parte de Portugal, estamos numa terra de ninguém”, alertou.

Rui Cordeiro avisou que o Santa Clara, que regressa hoje ao trabalho, tem a “vida para definir” e apontou para a limitação existente nos aviões, uma desvantagem que as equipas insulares têm em comparação com as outras, preocupação partilhada com o homólogo do Marítimo.

“Nós precisamos de saber o que é preciso para mudarmos de armas e bagagens para outro lado. O próprio primeiro-ministro disse que não sabia [se o futebol vai voltar]. A DGS tem dúvidas. Ainda não sabemos e eu ainda tenho muitas dúvidas”, disse Carlos Pereira, que referiu que o departamento jurídico do clube enviou as questões à Liga Portuguesa de Futebol Profissional.

O presidente do emblema ‘verde rubro’ revelou ter conhecimento de que a Liga indicou todos os estádios, que serão avaliados pela DGS e voltou a frisar o interesse em jogar no Estádio do Marítimo, evitando uma concentração em Portugal continental.

“É mais difícil ir de Faro a Braga do que do Porto ou de Lisboa à Madeira ou aos Açores. [A quarentena obrigatória] É o único problema. O Marítimo, com as condições que tem, não aceita [jogar fora] e acha que é perfeitamente possível jogar no Funchal. Se jogar [fora da Madeira], será sob protesto. O Marítimo não vai dar nenhuma falta de comparência, mas irá contestar a decisão, que não acredito que seja essa”, comentou.

Já Rui Cordeiro mostra-se disponível para realizar as 10 jornadas restantes fora dos Açores, esperando uma ajuda com os custos nesse cenário, embora dê “primazia” em ver o Santa Clara jogar em São Miguel e falou sobre o regresso do campeonato, num cenário que “não foi ideal”.

“Se os clubes, ou quase todos, da II Liga estão salvaguardados, com estes fundos, para nós, da I [Liga], era fundamental a conclusão do campeonato, pela questão do pagamento dos direitos televisivos. (A questão financeira) Falou mais alto”, reconheceu, elogiando o “espírito de solidariedade” dos três ‘grandes’ em “ajudar” o futebol português.

O presidente do Santa Clara reforçou a vontade em ver equipas das ilhas no principal escalão, congratulando o Nacional pela subida à I Liga, um ponto que Carlos Pereira também abordou.

“Desportivamente, dou os parabéns. Administrativamente, ainda não, porque ainda não sei o que pode acontecer. Uma decisão de uma direção pode não legitimar essa subida. Não sou hipócrita. É evidente que temos benefícios se estivermos sós [na I Liga]”, respondeu, admitindo que a Madeira fica a “ganhar” com os ‘alvinegros’ no campeonato principal.

Com os dois presidentes a reforçarem na necessidade de readaptar no futuro, o dirigente do Marítimo comentou ainda a decisão da Federação Portuguesa de Futebol em criar um novo terceiro escalão.

“Penso que pode abrir a porta para uma maior importação. Veremos o que os regulamentos vão ditar para saber se há no mercado nacional jogadores disponíveis para todo esse futebol”, referiu.