A veia goleadora é bem nítida na família Paciência. Domingos celebrou mais de cem golos pelo FC Porto na sua prolífica carreira como futebolista. O filho, Gonçalo, tem dado provas nas seleções jovens de Portugal, embora ainda não tenha conseguido agarrar um lugar no plantel dos 'dragões', clube em que se formou.
Porque nesta altura é de golos - ou da falta deles - que se fala quando se analisa o menor rendimento da equipa do FC Porto, o SAPO Desporto convidou Domingos a apontar o que falta ao ataque portista, liderado por um rapaz de apenas 20 anos, André Silva. Domingos defende que o jovem avançado não deveria ter tanta responsabilidade, e para reforçar o ponto de vista recorda o seu próprio trajeto.
"Quando eu comecei a jogar, com a idade do André Silva, tinha como escudo nomes credenciados, jogadores com nome firmado no futebol, tanto português como internacional. Isso permitiu-me ter o meu crescimento, porque não era primeira opção, era segunda ou terceira. Isso protegia-me em relação ao crescimento na carreira. O André Silva não tem esse escudo", lamenta, em entrevista ao SAPO Desporto.
"Tem a obrigação, a missão de fazer golos para dar vitórias ao FC Porto. Já no ano passado, quando se contrataram Suk e Marega, disse que o FC Porto precisava de um ponta-de-lança para ser primeira opção. Depois a segunda opção seria um Aboubakar, um André Silva. Não podem pôr de maneira nenhuma a carga toda no André Silva. Salvo raras exceções, um ponta-de-lança atinge a sua maturidade aos 24, 25, 26 anos, com muitos jogos nas pernas. O André Silva tem de ter esse crescimento natural", defende de seguida.
Então e Gonçalo, de 22 anos e com muitos anos de FC Porto nas pernas? O avançado acabou por ser novamente emprestado, agora ao Olympiakos, mas poderia ser uma solução para este FC Porto de Nuno Espírito Santo?
"Não, mesmo que o Gonçalo ficasse no plantel do FC Porto não deveria ser como primeira opção. A solução seria um avançado com créditos firmados e com responsabilidade para ser o goleador da equipa. O FC Porto sempre teve grandes pontas-de-lança, e portanto devia ter contratado um com créditos firmados no futebol português e internacional", salienta Domingos.
Uma equipa ainda em formação
No entanto, nem só de atacantes se faz uma equipa. Domingos defende que Nuno ainda não conseguiu encontrar o seu 'onze-base' e lamenta a falta de regularidade do futebol portista.
"O adepto portista tem consciência de que o FC Porto precisa de fazer uma equipa, e toda a gente sabe que para isso é preciso tempo. [Mas] o Nuno Espírito Santo já começou a trabalhar há três meses e portanto seria natural que nesta altura se esperasse mais, uma equipa com mais beleza, mas acima de tudo com resultados mais consistentes, que era o que todos esperavam. Nota-se que existe alguma irregularidade neste crescimento, isso toda a gente vê. Falta consistência em termos da continuidade na aposta em alguns jogadores".
"O Adrián López veio, jogou e depois saiu. O Brahimi veio, jogou e o rendimento também não é o esperado...este tipo de apostas requer alguma continuidade. Também há outros que jogaram, saíram...o que eu sinto é que o Nuno está à procura de uma equipa, está à procura de um jogo para dar confiança à equipa. Essa confiança só chega com os resultados, com mais ou menos rendimento", recorda o treinador, atualmente sem clube.
Dérbi portuense
Depois de empates frente a Copenhaga e Tondela, o FC Porto tem agora a obrigação de melhorar a situação com um triunfo sobre o Boavista, em casa, na sexta-feira. É a opinião de Domingos, que destaca a diferença de potencial das duas equipa.
"É evidente que antes não existia uma diferença tão grande entre o FC Porto e o Boavista. Havia muito mais proximidade em termos de qualidade de equipa e jogadores. Portanto tem que haver mais supremacia do FC Porto. Há uns anos atrás o Boavista era muito mais forte, competia com outras condições e com outros jogadores", recorda o antigo futebolista.
Os 'dragões' defrontam o Boavista esta sexta-feira, a partir das 19h00, no Estádio do Dragão, em partida da sexta jornada da Liga 2016/17.
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