A Federação Portuguesa de Futebol teve uma postura de “passividade total e dolosa” no combate aos conflitos de interesses dos empresários, através da dupla representação, acusou hoje o advogado suíço Philippe Renz no julgamento do processo ‘Football Leaks’.
Na audição como testemunha arrolada pela defesa do arguido Rui Pinto, Philippe Renz - que trabalha com a empresa de agenciamento Sport 7 - explicou ter feito uma denúncia ao Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) sobre esta situação, mas assegurou ter contactado anteriormente a Federação (FPF) e que não foram feitos quaisquer avanços.
“Já tínhamos abordado Fernando Gomes, mas ele não reagiu, por isso, abordámos o DCIAP. Junto do DCIAP apresentámos a lista de todos os conflitos de interesse, que obtivemos junto da FPF”, disse o advogado helvético, ouvido por vídeochamada na 41.ª sessão do julgamento no Tribunal Central Criminal, criticando a conduta da entidade federativa: “[Houve] passividade total e dolosa, porque tem obrigação de denunciar estes casos e não o faz.”
Questionado sobre a resposta da FPF à denúncia sobre agentes que representam jogadores e clubes em simultâneo, Philippe Renz disse que insistiram sobre este tema “duas ou três vezes”, apresentaram uma lista com “10 casos de conflitos de interesses” e explicaram “como funcionava o sistema”. No final desses contactos, o advogado disse que receberam a seguinte resposta: “’Se houver um problema, nós tratamos disso’.”
Em relação ao impacto do ‘Football Leaks’, o advogado helvético valorizou a importância das revelações da plataforma eletrónica criada por Rui Pinto contra “o sistema de opacidade que rodeia o futebol”, evidenciando como consequência a abertura de investigações em alguns países, como a Suíça, e considerando, em tom de brincadeira, que o arguido ainda terá “uma estátua” pelo trabalho efetuado.
Rui Pinto, de 32 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.
O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 07 de agosto, “devido à sua colaboração” com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu “sentido crítico”, mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.
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