Pinto da Costa, presidente do FC Porto, foi entrevistado esta noite no Porto Canal. Numa longa entrevista, o líder dos Dragões abordou a renovação de Sérgio Conceição, Otávio e Marega, os objetivos da equipa para o que falta da época, nomeadamente na Liga dos Campeões e atirou críticas ao governo pela falta de apoio nas consequências que a pandemia tem tido nos clubes.
Abraço a Sérgio Conceição depois da vitória em Turim: "O abraço simbolizou todo o meu agradecimento ao trabalho que o Sérgio tem feito e sobretudo, quase que um gesto para o compensar da perseguição em que é envolvido. O Sérgio tem contribuído muito nas conferências para a melhoria do futebol. (...) Quis abraçar todos os jogadores e todos contribuiriam para aquele momento importante e até para os que não puderam estar ali em Turim, como o Reinaldo Teles. (...) A minha ideia foi sempre que, como presidente, não queria ter outro treinador porque tinha certo que ele teria sucesso. Acompanhei o seu crescimento, o seu caráter o e o amor que ele tem ao FC Porto"
Renovação: "O Sérgio Conceição tem contrato com o FC Porto e é minha intenção e dele renovarmos. Ele entendeu que nesta altura quer estar focado na Champions, mas tenho a certeza de que no final, ou antes, renovaremos o contrato. Penso que ele é uma peça importante no meu projeto, no meu projeto de há quatro anos em que poucos acreditavam no seu sucesso e eu acreditava cegamente. Continuo a acreditar que ainda podemos fazer muito mais sob o comando técnico do Sérgio Conceição"
Exigências de reforços para o plantel: "Deve haver, mas não foi comigo que ele falou. Ele deve de ter falado com alguns jornalistas que são muito rigorosos no que escrevem. Vi isso no jornal, mas nunca o Sérgio Conceição colocou alguma condição para se manter no FC Porto. Sei que os jornais escreveram isso, a mim, nem a ninguém do FC Porto ele colocou isso como exigência ou condição"
Mudanças depois das críticas ao tempo útil: "Eu acho que a arbitragem foi num bom sentido. O Sérgio falou várias vezes de que o futebol português os 90 minutos não chegam a metade. Presumo que tenha sido uma orientação, porque houve uma mudança de estratégia, porque os árbitros só têm marcado o que é mesmo falta e não as faltinhas, o que torna o jogo mais atraente. Nesse aspeto é que disse que foi positivo que o Sérgio Conceição tenha contribuindo para essa melhoria, embora, creio, ainda vai ter um processo disciplinar. Mas o Sérgio Conceição, felizmente, é uma pessoa independente e diz o que pensa e que tem como objetivo dizer o que pode melhorar no nosso futebol"
Diferença de tratamento do FC Porto dentro e fora de portas: "É verdade que em termos de comunicação social, sinto um grande respeito da comunicação estrangeira pelo FC Porto. Em Portugal, normalmente desvaloriza-se o que o FC Porto faz de bem, valoriza-se o que eventualmente possa fazer de mal e os grandes acontecimentos são um pouco esquecidos e quando são realçados é com muita azia"
Onde pode chegar o FC Porto na Champions: "Eu penso que, depois de ter eliminado a Juventus, o FC Porto pode ir até à final e ganha-la. É o meu desejo, a minha esperança e acredito que pode acontecer. Já acreditava em 1987, quando ninguém acreditava. Só eu acreditava e depois o Artur Jorge sentiu-se contagiado e também passou a acreditar. (...) Tirando a primeira final onde estivemos, em Basileia, participamos em mais sete finais e ganhamos todas. Não pode haver sentimento de vingança quando ganhamos. Seja qual for o adversário queremos ganhar"
Renovação dos jogadores em fim de contrato: "No começo da época tínhamos quatro jogadores importantes a terminar contrato: Pepe, Sérgio Oliveira, Otávio e Marega. Decidimos que queremos continuar com os quatro jogadores e eu mesmo decidi que o primeiro tinha de ser o Pepe, pelo que ele significa para o FC Porto, toda a gente sabe, e eu melhor do que ninguém, o que ele podia ter ido auferir se em vez de vir para o FC Porto tivesse ido para o estrangeiro, onde teria ganho três vezes mais, veio apenas por paixão pelo FC Porto. Entendi que o passado dele, esta atitude e a forma como vive o FC Porto, que ele tinha de ser o primeiro a renovar e por dois anos. E se calhar daqui a dois anos estamos a renovar outra vez. (...) Depois iniciamos com os outros três, com o Sérgio Oliveira já renovamos, com o Otávio estamos em conversações com os empresários, estamos perto de um acordo. Com o Marega já comunicámos que estamos interessados em renovar, estamos à espera que o empresário venha cá, porque tem tido dificuldades em viajar para cá. Otávio está preso por detalhes, o Marega assim que o empresário possa vir, negociaremos"
Champions pode salvar época: "A Champions nunca é um salvar de face para ninguém. Com um percurso como o que estamos a fazer e que, como eu espero, vai continuar em frente, independentemente do aconteça nos campeonatos nacionais, a Champions será uma mais-valia. É a maior prova de clubes do mundo. Para chegar aos quatros de final há oito no meio de centenas. (...) É evidente que o FC Porto entra em tudo para ganhar, mas não entra sozinho. Neste momento, o FC Porto foi eliminado da Taça de Portugal com fatores que não foram perfeitamente normais. Está em segundo no campeonato, matematicamente ainda pode chegar ao primeiro, tem o acesso garantido, no lugar em que está, à Champions League. Nunca encaramos a Champions como um salvar de face, encaramo-la como sendo dos poucos clubes que já ganharam a prova duas vezes e quer ganhar a terceira"
Campeonato: "As minhas convicções é ganhar os jogos que nos faltam e esperar os resultados dos outros. Vencendo o que nos falta garantimos o segundo lugar, que não é o nosso objetivo nunca, mas é aquele que nos salvaguarda e nos garante a presença na Champions do ano que vem. Continuamos a pensar que, enquanto matematicamente possível, a equipa entra em campo para ganhar e chegar ao primeiro lugar"
Época do FC Porto na Liga: "Tem sido uma época muito difícil. O FC Porto teve uma grande vitória com a Juventus e achei muito engraçado quando disseram que tinha sido uma vitória do futebol português. Foi uma vitória do futebol português porque o FC Porto é português, joga no campeonato português. Mas foi uma vitória do FC Porto, porque o futebol português, ao contrário do que acontece noutros países, não fez nada para ajudar o FC Porto. Na Holanda, quando o Ajax esteve em prova, na jornada anterior não jogava para ter os jogadores frescos, prontos para a partida. O FC Porto foi jogar à Juventus, em que levava uma vantagem de um golo, e três dias antes teve de jogar em Barcelos para a Liga.
Calendário: "Tem sido uma das condicionantes. É impossível jogar a cada três dias, não há nenhuma equipa que consiga estar sempre ao mesmo nível jogando de três em três dias. Antes do FC Porto-Benfica, três dias antes jogámos na Madeira, para a Taça, 120 minutos. Com viagens e tudo, é humanamente impossível exigir que os jogadores estejam sempre ao mesmo nível. O futebol português não ajudou nada, é inconcebível que um clube que está nos oitavos de final, que traz pontos para o ranking português... Quem devia salvaguardar essas situações são as pessoas que mandam no futebol português, que não sou eu, é a Federação e a Liga. É muito bonito quando ganhamos recebermos uma mensagem, mas o que era bonito era dizerem 'Alto e para o baile, o FC Porto tem aqui um jogo, não pode estar a jogar três dias antes um jogo e três dias depois da eliminatória outro jogo'. Isso é que era bonito os organismos se preocuparem com isso"
COVID-19: "Dificultou o nosso trabalho, mas infelizmente para todos, atingiu toda a gente. A ausência de público para mim, é incompreensível. Nos Açores, neste momento, em que não está melhor que nós em doentes, há gente no futebol. Em Portugal resolveram fazer um ensaio em duas jornadas. Os responsáveis disseram que correu muito bem e depois fecharam novamente. Então fizeram ensaio para quê? À espera que corresse mal? Disseram todos que correu bem, mas voltou a fechar. (...) É inexplicável que tenha havido publico nas touradas, que o Presidente da República e o Primeiro-Ministro tenham assistido a um espetáculo de um humorista, que tenham existido concertos em recintos fechados e o futebol, que é ao ar livre, não possa ter publico. As famílias nem podem usar o camarote que têm. Podem estar num sítio qualquer juntos a ver o jogo, mas no estádio não. Isto para mim é areia demais para a minha camioneta"
Desconfinamento: "Acho que neste momento está a ser feito o que teve de ser feito. Estamos a pagar erros graves, todos vimos no verão, em que falamos em milagres e esses só em Fátima e raramente, no verão vimos o Primeiro-Ministro e o Presidente da República nas praias, dava a ideia que estava tudo bem e depois foi o que se viu. Depois o Natal foi um suicídio, responsável por muitas mortes neste país. Neste momento há um trabalho serio"
65 milhões para o futebol não profissional: "No futebol não profissional, pode. Mas no futebol profissional não há resposta. O FC Porto, sem público nos estádios, teve um prejuízo de 27 milhões de euros, porque perdeu as receitas de jogos, deixou de vender lugares cativos, camarotes, merchandising... Teve um prejuízo de 27 milhões. Sabe qual foi a ajuda do estado? O FC Porto paga 42 milhões de euros de impostos, mais sete milhões de Segurança Social. A ajuda foi muito simples, o FC Porto, como qualquer empresa, tem direito a devolução do IVA. Tínhamos a receber até 31 de dezembro, sete milhões e meio de IVA. O Estado não nos pagou, tivemos de fazer uma queixa. Depois pagaram quatro, voltamos a reclamar o que faltava, o tribunal notificou o Ministério das Finanças, sabe quando recebemos? Nunca. Não estamos a pedir subsídios, estamos a pedir o que é nosso, que devia de ter sido restituído a 31 de dezembro. (...) "Em Itália, o governo reduziu os impostos. Aqui não fizeram nada para ajudar os clubes, como ainda retêm o que é nosso"
Direitos televisivos: "A Liga anda preocupada, toda a gente preocupada é com a centralização dos direitos no futebol. Isso é um grande negócio, mas é para 2028. Porque os clubes têm contrato até 2028 que não podem anular. Acha que se pode estar preocupado com um contrato que é para 2028 e deixar os clubes todos em dificuldades extremas e não ajudar nada?"
"O FC Porto tem de defender os seus direitos, o contrato atual foi o FC Porto que o fez. Se aparece agora, seja quem for, naturalmente que não é admissível que qualquer um dos participantes receba menos do que recebe agora. O FC Porto não foi ouvido nisso, ninguém perguntou se estava de acordo. É um grande negócio, que é a única preocupação do Sr. Secretário de Estado [do desporto], deve de ser um negócio da China. Mas não é para os clubes de certeza, para quem é, se calhar um dia vai-se saber"
Saída do Fair-Play Financeiro: "Estamos convencidos que sim, está tudo orientado nesse sentido. No primeiro semestre tivemos um lucro de 34 milhões de euros. Neste momento temos dados que nos permitem pensar que podemos melhorar no segundo semestre, o contributo da Champions League também foi importante. A saída de jogadores, como o Danilo, não entrou no segundo semestre, só será concretizado se o PSG for à Champions. Há outros com outras opções que vão ser feitas. Quando se fala no passivo, há uma coisa que é importante: o nosso capital, que é negativo, tem o nosso plantel avaliado em 74 milhões de euros. O Transfermarkt, que avalia por baixo, avalia em 264 milhões e vale mais. Só está em 74 porque por lei, somos obrigados a colocar os jogadores pelo preço que comprámos, os jogadores criados no FC Porto não tem valor no balanço porque não custaram nada. Se deixassem meter o valor por baixo eram 264 milhões. Negociámos um jogador que nem chegava no nosso balanço a 1 milhão e vendemos por 40 milhões"
Empréstimos obrigacionistas: "Se tudo correr normalmente, um vai ser pago antecipadamente antes de junho e o outro em junho. Serão pagos os dois"
Equipa B: "Hoje falei com um responsável do futebol português, porque disseram-nos que haviam vários complots para que o FC Porto B descesse de divisão. Um deles era que a Federação teria interesse em que o FC Porto B descesse para a terceira divisão, para os jogos passarem para o Canal 11, o outro é que haveria um complot da APAF, eu não acredito nem numa coisa nem noutra. (...) O que eu disse à pessoa com quem falei é que não acredito em nenhum, mas o que é certo é que domingo após domingo, o FC Porto perde pontos por erros dos árbitros. (...) É fundamental que na Segunda Liga exista VAR"
Cidade do futebol do FC Porto: "O projeto está em andamento na burocracia, têm existido passos significativos e esperamos avançar em breve com as obras. Eu acho que as autárquicas estão a atrasar um bocadinho, mas como está tudo no interesse de todos, penso que vai ser desbloqueado brevemente"
Alarcon suspenso por Doping: "O Alarcon é espanhol e quando veio o inquérito ele entregou o assunto a um advogado espanhol. Quando saiu esta notícia, eu e o sr. Quintanilha, responsável da W-52, imediatamente o contactamos e lhe demos a conhecer o que tinha sido decidido. Ele esta semana está em julgamentos, na quinta-feira chega ao Porto, na sexta-feira vai reunir connosco e está decidido que vamos recorrer da decisão até onde for possível. Quando sai uma notícia dessas, toda a gente pensa que ele estava dopado quando venceu a Volta. Venceu duas e em nenhuma etapa acusou positivo para doping. O Sr. Alarcon teve um desastre, teve de ser operado e nessa operação tomou medicação que, se estivesse a correr, não poderia tomar. A W52 -FC porto comunicou as organizações que o homem tinha tomado aquilo. Ele foi acusado do seu boletim biológico ter sofrido alterações, sabemos que foi dos remédios que tomou na operação. Sexta-feira estará cá o advogado, vamos recorrer e iremos até às ultimas consequências para defender a honra do atleta e da equipa, porque, repito, em duas voltas a Portugal andou grande parte do tempo com Camisola Amarela, sempre submetido a controlo, sempre negativo"
Alfredo Quintana: "Fiquei muito satisfeito com a vitória de Portugal. Fiquei muito emocionado e contente com a homenagem que fizeram ao Quintana. Fiquei muito contente porque julguei que o Presidente da República não soubesse, mas verifiquei que ele sabia, porque colocou uma mensagem no facebook a dizer que era uma homenagem póstuma, afinal sabia que o Quintana faleceu. Ele era um cidadão fantástico, um homem de um carater, que se vê pelas reações dos colegas. Aquele gesto do Rui Silva marcar o golo com o braço tatuado com o Quintana não foi por acaso. (...) Numa seleção de sete jogadores, 12 são do FC Porto e não são treze porque o Quintana não está lá"
O que falta fazer na sua presidência: "Quero chegar ao fim do dia, quando me deito e ter a consciência de que fiz tudo o que o FC Porto precisava que fizesse nesse dia. Disse no primeiro dia, na primeira reunião que fiz em abril de 1982, que estaria ali, não sabia se três meses, se dois anos, mas que no dia em que não fizesse o que entendesse que era bom para o FC Porto, eu viria embora no dia seguinte"
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