Não se esperava tarefa fácil - nos últimos quatro jogos nos Açores o FC Porto apenas tinha vencido dois. Não se esperava e não foi. Vítor Bruno bem falou na antevisão da necessidade da equipa saber ajustar-se ao que os jogos lhe iam pedindo. E foi por ter sabido fazê-lo que o dragão sai vivo dos Açores - e bem vivo! -, depois de ter sobrevivido de forma hercúlea à bem organizada equipa açoriana, que acabaria por não resistir à avalanche ofensiva do dragão.
Este Santa Clara acaba de chegar da II, mas nunca deixou de ser uma equipa de I. Viu-se no primeiro jogo, no qual soube recuperar de 1-0 para um 4-1, diante do Estoril, e voltou a prová-lo diante do FC Porto, apesar da incontestável derrota. O FC Porto apanha o avião rumo ao continente de sorriso estampado, mas não sei antes passar por alguma turbulência. Abanou, sim, sobretudo na primeira parte, mas não caiu. Dois jogos, duas vitórias. 5 golos marcados, 0 sofridos. Na bagagem, o primeiro lugar do campeonato.
Sem Chico, mas com tanta esperteza
Para o duelo com o Santa Clara, Vítor Bruno já sabia que não poderia contar com Francisco Conceição, ainda lesionado, e com Evanilson, cuja saída estava iminente. E de iminente a certa passou nem um dia. Horas antes do início do encontro, os dragões oficializavam a saída do avançado brasileiro, nem mais menos do que o melhor marcador dos azuis e brancos na época passada. Sem samba, Vítor Bruno quis dançar flamengo. Para bailar em condições mandou para a pista Fran Navarro, espanhol que não era titular desde 20 de outubro do ano passado, quando o FC Porto defrontou o Vilar de Perdizes (2-0), para a Taça de Portugal. Com ele saltou para o onze inicial o pequeno Vasco Sousa, que tem sido enorme sempre que vê os seus atributos requisitados por Vítor Bruno a meio dos jogos. Hoje, pela primeira vez titular na equipa dos dragões, o médio de 21 anos não quis nada com o banco - e a jogar assim para lá não voltará -, onde também já não esteve Fábio Cardoso, ex-Santa Clara, que durante a semana se despediu temporariamente do FC Porto rumo aos Emirados Árabes Unidos.
Do outro lado, Vasco Matos repetia o onze dos açorianos que entrou em campo na primeira jornada, na Amoreira, diante do Estoril (4-1).
O jogo começou dividido, com o Santa Clara atrevido nos primeiros minutos. E foi por pouco que a rebeldia açoriana não se traduzia em golos logo aos cinco minutos. Safira tinha o golo nos pés, mas foi Diogo Costa quem acabou por ter a defesa nas mãos. Enorme intervenção do guarda-redes do FC Porto, com uma reação supersónica ao remate do avançado da equipa insular.
Defesa monumental de Diogo Costa
Um calafrio que em nada atrapalhou a missão portista. 10 minutos depois, aproveitando a subida no terreno do Santa Clara para uma bola parada, a defesa dos dragões encontrou Nico González no miolo. O espanhol levantou a cabeça e descobriu num ápice Iván Jaime, que disparou cruzado sem mácula para o primeiro da tarde.
O golo do FC Porto surgia numa altura em que a equipa da casa procurava dar um ar da sua graça (e tem muita!), muito acutilante e capaz de desestabilizar a estratégia portista, ainda que sem conseguir traduzir a astuta vontade em golos. Mas o golo de Iván Jaime foi empurrando os dragões para a área do Santa Clara, onde aos 24 minutos Fran Navarro caiu por falta de Alysson, sem quaisquer dúvidas para Fábio Veríssimo, bem em cima do lance, que prontamente apontou para a marca de grande penalidade. Agarrou na bola Galeno, sucessor de Taremi na difícil missão de encarar os onze metros. Avançou confiante e colocou a bola no lado aposto para onde se atirou Gabriel Batista.
0 2-0 sugeria uma precoce sensação de tranquilidade, que não passava disso mesmo: uma sensação. Tudo porque o Santa Clara não tirava os olhos da baliza de Diogo Costa, que depois de salvar a equipa no início da partida, esteve perto de a deixar em maus lençóis. No meio da intempérie, valeu Galeno mesmo em cima da linha de golo. De tal forma que se Veríssimo ainda esperou pelo VAR, que nada disse. Apesar de salvo, a efemeridade do heroísmo no futebol ficava bem patente depois do erro, raríssimo, do internacional português.
Até ao final, estiveram os dragões mais próximos do terceiro do que os insulares do primeiro. Numa jogada de encher o olho, toda ela pelo ar, Iván Jaime esteve a poucos metros de bisar e de arrumar com a partida ainda na primeira parte. O remate potente, de primeira, saiu pouco por cima. O intervalo chegava numa tarde escaldante - São Miguel está sob aviso amarelo por causa do calor - e os golos de Iván Jaime e Galeno metiam gelo numa deslocação sempre exigente para os azuis e brancos. O Santa Clara dispôs de duas oportunidades flagrantes, mas não foi eficaz - numa valeu Diogo Costa, noutra Galeno, que já soma quatro golos em três jogos.
Esta juventude é mais madura do que parece. Que o diga Vasco Sousa
Regressadas dos balneários, as equipas organizavam-se seguindo os respetivos livros de instruções, forçosamente distintos. Com dois golos de vantagem, ao FC Porto interessava-lhe sobretudo manter longe da sua baliza as intenções esperançosas do Santa Clara, que nunca, em momento algum, perdeu o foco na reviravolta. Para as travar, as tais intenções revestidas de uma crença inabalável, o dragão foi obrigado a nunca baixar a guarda, exercendo sempre uma pressão e reação à perda de bola muito elevadas. Assim, a equipa portista ia anulando com mestria os esboços ofensivos do adversário, que mesmo a perder por dois se mostrou sempre muito impetuosa e empenhada em reentrar na partida.
Apesar disso, aos 60 minutos não se distinguia qualquer oportunidade clara de golo e muito por causa da maturidade da armada azul e branca, atenta, sempre disponível e com um enorme espírito de sacrifício nos momentos mais entusiastas do Santa Clara. Pode Vítor Bruno agradecer especialmente a Vasco Sousa, que não fosse a cara de puto ninguém acreditaria ter 21 anos. Sempre muito combativo, inteligente a pautar o jogo, fez por merecer o desafio que lhe foi lançado.
À medida que o tempo passava a missão dos jogadores da casa tornava-se cada vez mais impossível, agravando-se irremediavelmente aos 64 minutos aquando da expulsão de Adriano Firmino. Uma entrada duríssima do médio brasileiro sobre Alan Varela mereceu, numa primeira instância, o cartão amarelo, mas auxiliado pelo VAR, hoje Rui Oliveira, Fábio Veríssimo acabaria por determinar a ordem de expulsão.
O momento seria decisivo na definição dos restantes minutos, mas apesar da inferioridade numérica o Santa Clara nunca entregou o jogo de mão beijada. As mexidas introduzidas por Vasco Matos após a expulsão não permitiram qualquer adormecimento da sua equipa, renovada com as boas iniciativas de jogadores como Ricardinho e Klismahn. Por esta altura, também Pepe e Eustáquio eram lançados por Vítor Bruno para os lugares de Navarro e Nico González, respetivamente.
Até ao final, destaque para algumas incursões de parte a parte, mas sem o discernimento, no caso do Santa Clara, ou a vontade, no caso do FC Porto, já confortável, para algo mais. Com este triunfo, os azuis e brancos prosseguem a caminhada vitoriosa esta época, depois de dois triunfos - na Supertaça, diante do Sporting, e em casa, na primeira jornada, frente ao Gil Vicente. Segue-se o Rio Ave, no Estádio do Dragão.
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