José Mota e Paulo Machado manifestaram esta noite “tristeza” pela situação do Desportivo das Aves, com o técnico a afirmar que é uma “mancha negra” no futebol português e a pedir “responsabilização” a quem regula as inscrições das equipas.
“É muito fácil, nas instâncias superiores, fazer com que os clubes possam participar nas competições profissionais e em muitos deles as inscrições não estão de acordo com o exigido no regulamento. Isto tem acontecido ao longo dos anos e as pessoas responsáveis deviam ser responsabilizadas por estas situações acontecerem no futebol português”, atirou José Mota, à margem da XVII gala do jornal O Gaiense, realizada esta noite em Vila Nova de Gaia.
O técnico, atualmente sem clube, representou o emblema da Vila das Aves por três temporadas, com o qual conquistou a Taça de Portugal, em 2017/2018, e a subida da II Liga para o escalão principal, em 2016/2017, e tem assistido “com grande tristeza e uma mágoa muito grande” a um clube “de gente boa ser estragado diariamente” por falta de “pessoas que deveriam ter paixão”, mas que revelam “falta de competência”.
“Os que realmente mandam no clube têm feito muito mal. Gostava que encontrassem uma solução porque é um histórico português e que parecia ter um futuro risonho – e que vai ter com certeza. É uma mancha enorme, uma mancha negra, uma revolta muito grande pelos profissionais que andam no futebol e tudo fazemos para o dignificar e outras pessoas o querem derrubar”, apontou.
Sobre o desaparecimento do troféu da Taça de Portugal do estádio, José Mota descreveu a situação como “lamentável” e apelou à recuperação do maior “símbolo que o Desportivo das Aves tem no museu”
“[A Taça de Portugal] diz-nos muito a todos nós que trabalhamos para conquistar o troféu e é no estádio que deve estar, na vitrina, bem elevado para que possamos usufruir. Eu, as minhas filhas e todos os que participamos. É isso que as pessoas do [Desportivo das] Aves têm feito nestes anos”, sublinhou.
O futebolista Paulo Machado, internacional português por seis ocasiões, que na última época alinhou pelos indianos do Mumbay City, fez parte da equipa que conquistou esse título e junta-se a José Mota nas críticas à atual administração do clube minhoto.
“O [Desportivo das] Aves entristece-me. Ver uma equipa em que os adeptos e as pessoas do concelho apoiam ao máximo nesta situação é mau para o futebol português”, atirou.
A SAD dos nortenhos informou no domingo que não iria comparecer ao duelo com o Benfica, devido à anulação da apólice de seguro de acidentes de trabalho, que a direção do clube desbloqueou no dia seguinte, quando venceu o terceiro mês seguido de dívidas salariais, tendo assegurado duas baterias de exames negativos à covid-19.
A formação de Nuno Manta Santos foi impedida de treinar dois dias antes do encontro, no qual os titulares se recusaram a jogar o primeiro minuto e os suplentes abraçaram-se à equipa técnica, enquanto os ‘encarnados’ recriavam-se com o esférico e aplaudiam o gesto de protesto do emblema do concelho de Santo Tirso.
Os futebolistas, treinadores e outros funcionários deslocaram-se em viaturas pessoais até ao estádio no dia do desafio, colmatando o desconhecimento do clube sobre o paradeiro das chaves do autocarro, a cargo da administração de Wei Zhao, que estava estacionado ao lado do veículo que transportou o vice-campeão nacional.
A SAD ameaçou na sexta-feira faltar à partida marcada para domingo, às 19:30, no Portimão Estádio, de forma a “salvaguardar a transparência na luta pela permanência”, receando “não reunir jogadores suficientes e que garantam uma equipa competitiva”.
Cinco dias depois, a administração recuou na intenção e assegurou “estar a desenvolver todos os esforços” para assegurar a visita do Desportivo das Aves ao Algarve e “terminar a temporada com a dignidade e respeito que esta instituição merece”.
Os nortenhos começam a preparar na quinta-feira o embate com o Portimonense, 17.º e penúltimo colocado e primeiro clube abaixo da zona de salvação, com 30 pontos, que luta com Vitória de Setúbal (16.º, com 31 pontos) e Tondela (15.º, com 33) pela permanência.
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