João Vieira Pinto foi o herói de um campeonato e de uma noite cinzenta de maio de 1994 que praticamente deu o título de campeão de futebol ao Benfica, numa época em que o clube era quase um 'outsider'.
"Vínhamos de um empate em casa com o Estrela da Amadora (1-1), as nuvens até estavam negras, o próprio dia estava cinzento, de muita chuva, e o Sporting tinha uma grande equipa. O Benfica, quando parte para esta época, parte quase como um 'outsider' (...). Se quisermos fazer uma analogia com a Fórmula 1, estávamos na terceira posição", lembrou Toni, então o treinador do Benfica, em entrevista à agência Lusa.
A cinco jornadas do final, as atenções estavam no dérbi com o rival de sempre, em jogo de importância capital para os dois emblemas, separados apenas por um ponto, e antes de uma visita dos 'encarnados' ao velho Estádio José Alvalade, em 14 de maio de 1994.
O capitão Jorge Cadete deu vantagem ao Sporting, aos oito minutos, João Vieira Pinto ripostou, aos 30, e Luís Figo voltou a colocar os 'leões' na frente. A vantagem do Sporting durou dois minutos: o 'menino de ouro' empatou e chegou depois ao 'hat-trick', concretizando a reviravolta antes do intervalo.
Na segunda parte, o 'bombardeiro' Isaías 'bisou', aos 48 e 57, e Hélder assinou o sexto, aos 74, antes de Balakov reduzir, na conversão de uma grande penalidade, aos 80.
O 6-3 final tornou-se num dos resultados mais evocados desde então nos argumentos e discussão entre adeptos dos dois clubes.
O triunfo coroou as 'águias', que se sagrariam campeãs três jornadas mais tarde, num período de rivalidade mais acesa do que nunca: a pré-época vira o Benfica 'afogado' em problemas de ordem financeira e o Sporting, com Sousa Cintra na presidência, tinha desferido dois golpes no rival, a quem foi 'tirar' Paulo Sousa e Pacheco, que alegaram justa causa para rescindirem.
"Foi muito desgastante para o Benfica, houve mudanças de direção, meses de salários em atraso, em que lhes dizia que o Benfica era um clube sério. (...) Ao ganhar esse jogo, eles sabiam, que tinham dado um passo de gigante para serem campeões", lembrou o ex-treinador dos 'encarnados'.
No lado oposto, Toni recorda nos 'leões' jogadores como Luís Figo, Balakov, Juskowiak, Paulo Sousa ou Pacheco, e mesmo "um FC Porto fortíssimo", com Vítor Baía, Fernando Couto, Timofte, Drulovic e Kostadinov, que faziam do Benfica o menos favorito dos três 'grandes'.
Para o técnico, com a vantagem de um ponto, o mais natural seria defender a ideia de que um empate poderia servir, mas a noite foi perfeita para os 'encarnados', de nota máxima, no que todos sabiam ser o jogo do título.
"Quase que podíamos jogar no X2, mantendo essa diferença de um ponto, estávamos a três, quatro jornadas, do fim, mas ganhando as portas do título ficavam escancaradas e foi isso que aconteceu", rematou.
A quatro jornadas do fim do campeonato, numa altura em que as vitórias valiam dois pontos, o Benfica passou a contar 49, mais três do que o Sporting, que ainda viria a ser ultrapassado pelo FC Porto.
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