O futebol português necessita de sair valorizado com a futura comercialização centralizada dos direitos audiovisuais dos clubes da I e II Ligas, adverte André Villas-Boas, candidato da lista B à liderança do FC Porto nas eleições de sábado.
"Neste momento, o presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) já teve três propostas em mão. Seguramente, terá mais e estudará o mercado, de forma que os clubes não percam valor. Para isso, estes têm de oferecer um produto muito melhor, algo que não tem a ver só com os quadros competitivos, mas também com a credibilidade do futebol português interna e externamente. Lutarei por todos os interesses do FC Porto", vincou o ex-treinador da equipa de futebol 'azul e branca', em entrevista à agência Lusa.
De acordo com o decreto-lei validado em Conselho de Ministros, em fevereiro de 2021, a centralização vai ficar concluída nos escalões profissionais até 2028/29 e inviabilizará os clubes de comercializarem individualmente os direitos de transmissão das suas partidas.
"Custa-me ver que, numa altura em que temos de demonstrar união, haja já uma posição dissonante de um dos nossos rivais [Benfica], mesmo perante um decreto-lei ditado pelo Governo. Quando observamos cada vez mais este tipo de posicionamento, já estamos a descredibilizar a qualidade do produto. É decisivo ver sempre o bem comum", advogou.
André Villas-Boas exigirá que o líder da LPFP, Pedro Proença, mantenha o compromisso de que "ninguém vai ficar a perder" com a centralização, sobretudo FC Porto, Benfica ou Sporting, sendo que os clubes de menor dimensão "têm chance de encaixar muito mais".
"O futebol português está gradualmente a perder competitividade, tal como ficou evidente pela perda do [quinto lugar] ranking [da UEFA, para os Países Baixos] e pelas recentes performances na Liga Conferência Europa. Vai ter de haver entendimento e sensibilidade globais. Custa, mas quero muito que o FC Porto provoque estas discussões e um melhor produto do futebol português, juntamente com os 'grandes' e os outros clubes", afiançou.
Em dezembro de 2015, os 'dragões' selaram um acordo por 10 anos com a operadora de telecomunicações MEO para a cedência de direitos televisivos e do patrocínio frontal nas camisolas de jogo, que rendeu 457,5 milhões de euros (ME) e está em vigor desde 2018.
“É uma conversa sensível, porque a centralização está a chegar. Perante isto, quando se lança a debate uma reformatação de quadros competitivos, é provável que alguns fiquem a perder. O que me parece extraordinário é que tenha sido o Sporting de Braga, e não os três 'grandes', a liderar recentemente as discussões acerca da reformatação dos quadros competitivos nacionais. Não me parece que se possa descurar isto", disse o ex-treinador.
Além desse debate interno, André Villas-Boas, de 46 anos, diz que o FC Porto "tem de se colocar bem nos centros decisórios" fora do país, ao lembrar que o Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE) já avaliou como oposta à legislação continental a decisão da FIFA e da UEFA de impedirem futebolistas e clubes de participarem em competições privadas.
"O que pode suceder é o crescimento de outras Superligas e provas, sem que os órgãos máximos que nos habituamos a ver tenham capacidade de penalizar os jogadores. Isso pode trazer uma grande imprevisibilidade aos quadros competitivos e já forçou a UEFA a readaptar os seus e, potencialmente, a tomar decisões drásticas sobre os clubes que vai incluir. É ou não possível que haja clubes sauditas na Liga dos Campeões? Que impacto pode causar isso naquilo que entendemos como cultura desportiva europeia?", apontou.
Perante as "novas questões" emergentes no ecossistema do futebol mundial, Villas-Boas pugna pelo crescimento associativo e comercial do FC Porto, cuja gestão "entra logo em colisão competitiva" com modelos fixados na "troca frequente e radical de proprietários".
"Há grandes vantagens e mais-valias competitivas para nós. Como clube de associados, temos cultura, valores, ADN, sentido de pertença e uma identificação própria. Isso não se vê nos clubes de propriedade, que decidem a seu bel-prazer e tratam os adeptos como clientes comerciais, que pouco ou nada têm a dizer sobre as decisões tomadas", ilustrou.
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