Dois jogos, três golos, todos eles cruciais para duas vitórias dos dragões. É ele, Samu, o gigante que o tem sido em duplo sentido: no tamanho, basta olhar, e no impacto que tem demonstrado desde que chegou, basta contar. Para ajudar à festa, Pepê fez o terceiro e estreou-se a marcar esta época.
Três pontos que deixam os azuis e brancos no segundo lugar isolado da I Liga e colados ao Sporting, que só joga amanhã, em casa, diante do AVS.
O FC Porto sai de Guimarães a sorrir e com Sua Majestade no autocarro: D. Samu Henriques, o Conquistador.
Adormecidos pelo Berço
As desculpas não se pedem, evitam-se, e Otávio sentiu-o na pele quando Vítor Bruno lhe disse que do onze titular passaria para a bancada. Foi de um qualquer camarote do D. Afonso Henriques que o central viu o jogo, depois do erro clamoroso frente ao Farense. Como sabemos, não foi o primeiro. O defesa tinha escrito nas redes sociais que os erros são aprendizagens, mas por agora o técnico portista quis que a lição fosse aprendida longe da bola. Jogar escaldado é algo que nenhum jogador deseja, quanto mais no caldeirão de Guimarães, fervente do primeiro ao último minuto, o que poderá ter tido impacto na decisão do técnico portista.
Para o lugar do ex-Famalicão saltou Zé Pedro, eleito para ser o 'homem-do-leme' do centro da defesa nesta partida ao lado do recém-chegado Neheun, pouco habituado a navegar por mares portugueses. De início entraram também Eustáquio e Samu, herói da última partida, para os lugares de Iván Jaime e Danny Namaso, respetivamente.
Do lado do Vitória SC, Tomás Ribeiro foi a única alteração face à deslocação vitoriosa a Braga. Substituiu Mikel Villanueva, lesionado, na zona centro da defesa.
O relógio apontava 15 minutos e agitação só mesmo nas bancadas. Lá em baixo, no relvado, uma autêntica pasmaceira. Algo cautelosas, as equipas analisavam-se criteriosamente e pareciam esquecer-se da baliza adversária. O FC Porto entrou com mais posse, mas de pouco lhe valeu tê-la. Uma ou outra bola despejada na área, ou acabava nas mãos de Varela ou acabava abandonada para lá das quatro linhas. Do outro lado, quase sempre pelo lado esquerdo do ataque, João Mendes mostrava-se atrevido no apoio a Nuno Santos, mas sem conseguir causar perigo efetivo junto da baliza de Diogo Costa.
A primeira oportunidade de golo, ei-la, finalmente, chegou aos 21 minutos. Digo oportunidade de golo com alguma simpatia, porque na verdade terá sido somente uma aproximação mais perigosa à baliza, no caso a de Bruno Varela. Varela, não este, o que vestia azul, bateu o canto curto, combinação com Pepê, Francisco Moura cruzou para o segundo poste, Nehuén Pérez cabeceou já dentro de área para Zé Pedro completar, em vão. A bola acabou desviada para canto pela defensiva vitoriana.
E quando até o D. Afonso Henriques começava a esmorecer nas bancadas, coisa rara para este público que tanto vibra com o futebol, uma falta de Samu levantou as bancadas, primeiro, e o banco do FC Porto depois, assim que Veríssimo procurou no bolso o cartão. Foi amarelo, mas o suficiente para Vítor Bruno e Jorge Costa terem protestado veementemente em direção ao 4.º árbitro.
Mais agitação, só aos 35 minutos e pela mesma razão. Jogo jogado, nada. Enorme confusão: Bruno Varela queixa-se exaustivamente de uma falta, Veríssimo oferece-lhe um amarelo, era tudo o que tinha para lhe dar. Nessa altura, começam a chover cadeiras no relvado junto a um dos árbitros assistentes. Conversa para aqui, conversa para acolá, lá seguiu a partida, que esteve parada uns bons três minutos. Retomou a cinco minutos do fim da primeira parte, que acabou sem mais notas de destaque. Muita luta, muitos duelos - alguns a roçarem os limites disciplinares - e cinco amarelos mostrados por Veríssimo. Oportunidades de golo? Nem vê-las. A primeira parte acabou com dois remates, nenhum enquadrado. Tudo dito. Provavelmente a pior exibição das duas equipas esta temporada.
Samu tinha posto o despertador
E neste sono profundo houve, afinal, alguém que se tinha lembrado de colocar o despertador. Samu Omorodion teve algumas insónias na primeira parte ao contrário do sono profundo da maior parte dos seus colegas, e talvez por isso tenha acordado antes de todos.
De todos não, porque o primeiro saltar da cama foi João Mário. Descoberto por Pepê, o lateral direito dos dragões foi à linha para deixar a bola suspensa no ar, onde voava o gigante espanhol. Subiu às nuvens e chegou ao paraíso. 1-0, sem hipóteses para Varela. Foi junto aos adeptos do FC Porto que Samu parou, como se de uma estátua grega se tratasse. Aos ombros, os colegas, mais houvesse, que jamais a estátua cederia.
Desbloqueado o marcador, como se previa, o jogo finalmente começou. E com nota mais para os conquistadores, que cedo se predispuseram a inverter o resultado. Esforço inglório. Mais subidos no terreno, inevitavelmente, a defesa minhota deixava atrás de si um deserto, com o qual Bruno Varela teria de conviver. Corrijo, sobreviver. Apercebendo-se das subidas já algo irracionais da equipa da casa, a equipa portista passou a jogar com as setas para as costas da defensiva vitoriana, onde Samu saía disparado que nem uma flecha. Depois do João Mário, foi Francisco Moura, o outro lateral, a desafiar Samu para mais uma corrida. E lá foi ele sem pensar duas vezes. Gigante nos passos, na dimensão e no remate. Na frente a frente com Varela, a bola só acabaria no fundo das redes para enorme alívio da grande mancha azul e branca nas bancadas, em absoluto delírio com o festejo de Samu ali tão perto, mesmo à sua frente.
O segundo golo ofereceu aos dragões outra calmia no jogo, mas nem por um segundo puderam adormecer, até porque o Vitória SC não deixou. Declaradamente mais preocupado em gerir o resultado - a entrada de Grujic para o lugar de Eustáquio aos 70 minutos foi prova disso -, o FC Porto baixou as linhas. A decisão permitiu aos da casa aproximarem-se mais vezes da área de Diogo Costa, mas foram raros os momentos de frisson. Exceção feita ao lance protagonizado por Gustavo Silva, que por milímetros não conseguiu desviar para a baliza do internacional português.
Perto do fim da partida, e já ciente de que dificilmente mudaria o destino do jogo, o Vitória SC sofreria mais um revés. O terceiro golo foi de Pepê, de cabeça, mas a bola teleguiada saiu dos pés de Francisco Moura, que assinava desta forma a segunda assistência da noite. Para quem acabou de chegar, pode dizer-se, nada mau.
Este domingo joga o Sporting, que que entrará em Alvalade, diante do AVS, com os calcanhares mordidos pelo FC Porto, entretanto com os mesmos 15 pontos do Sporting.
Quanto ao Vitória SC, perde pela segunda vez esta época, outra vez na I Liga. Os minhotos desperdiçam a possibilidade de se isolarem no segundo lugar e, em simultâneo, perdem o terceiro lugar do campeonato, agora ocupado pelo Santa Clara.
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