O antigo internacional português Ricardo Sá Pinto acredita que a sua geração podia ter conseguido mais do que os resultados obtidos, recordando as infelicidades que aconteceram nos dois europeus de futebol em que esteve presente.
Sá Pinto, que fez a formação no FC Porto e Salgueiros, mas que se destacou ao serviço do Sporting, esteve presente no Euro1996, em Inglaterra, e no Euro2000, na Bélgica e Países Baixos, num percurso na seleção principal em que somou 45 internacionalizações e 10 golos.
“Entrei na geração de ouro. Na altura, com Figo, Rui Costa, João Pinto e essa malta toda que nós todos conhecemos, que fizeram grandes campanhas a nível também das seleções jovens. Podíamos ter feito muito mais do que os resultados que tivemos”, disse em entrevista à agência Lusa.
Sá Pinto, de 51 anos, refere que a sua geração jogava bom futebol e que tinha uma união como grupo que não existia até então, lembrando uma eliminação “injusta” frente à República Checa nos quartos de final de 1996, consumada com o 'chapéu' de Karel Poborsky a Vítor Baía.
“Em 1996, acho que foi muito injusta a nossa saída nos quartos final contra a República Checa. Éramos considerados a seleção a jogar melhor, a praticar o melhor futebol. Éramos considerados brasileiros na Europa. Enfim, toda a gente criou grandes expectativas, tínhamos todos 23/24 anos, éramos ainda muito novos, e infelizmente não conseguimos ir além disso com muita injustiça”, salientou.
Ao contrário do Euro1996, em que foi titular e marcou logo no primeiro jogo no empate com a Dinamarca (1-1), em 2000, Sá Pinto, que no estrangeiro representou a Real Sociedad e o Standard Liège, acabou por ser suplente utilizado na campanha lusa, depois de sofrer uma lesão.
“No primeiro, fui sempre primeira opção, em 1996, mas no ano 2000 tive um grande azar. Um dia antes de jogarmos contra a Inglaterra, no nosso primeiro jogo da fase de grupos, lesionei-me no joelho quando ia jogar a titular, e nunca mais recuperei a 100%. Acabou por ser o Europeu do Nuno [Gomes], ele fez um grande Europeu”, salientou o antigo avançado, que nesse encontro com os ingleses foi o primeiro que Nuno Gomes correu para abraçar quando assinou o 3-2 e a reviravolta lusa.
Portugal foi até às meias-finais e caiu no prolongamento frente à França (2-1), com um 'golo de ouro', de penálti, de Zidane, que tanta tinta fez correr, com Sá Pinto ainda hoje a não se conformar com a decisão da equipa de arbitragem, 24 anos depois de um encontro em que a equipa das 'quinas' esteve a vencer por 1-0, com um tento de Nuno Gomes.
“No Euro2000, fizemos um caminho sólido, um caminho muito bom. Numa primeira fase, o nosso grupo era o grupo da morte, com Alemanha, Inglaterra e depois a Roménia, que tinha grandes jogadores também na altura. Conseguimos ser primeiros do grupo, chegámos às meias-finais e depois surgiu aquele golo de penálti do Zidane e, até hoje, ainda ninguém me consegue convencer de que aquilo foi penálti”, frisou.
Sá Pinto recorda-se que estava a aquecer atrás do árbitro assistente e que não era possível ter a certeza do que tinha acontecido no lance que envolveu Abel Xavier, com a equipa de arbitragem liderada pelo austríaco Gunter Benko a considerar que o defesa luso cortou a bola com a mão na área.
“Eu estava ali muito próximo. Ele não poderia ter visto, eu acho que ele não viu 100%, poderá ter pensado que viu, mas quando não se tem a certeza, não se deve marcar. Enfim, aconteceu, e foi uma pena. Podíamos ter sido já campeões da Europa nessa altura. Não conseguimos, mas fizemos uma boa campanha”, afirmou.
Depois de terminar a carreira de jogador em 2006/07, Sá Pinto deu início ao seu percurso como treinador, que em Portugal teve passagens por Sporting, Belenenses, Sporting de Braga e Moreirense, e no estrangeiro pelo Estrela Vermelha, OFI, Atromitos, Al Fateh, Standard Liège, Legia Varsóvia, Vasco da Gama, Gazisehir e Esteghlal.
Na época 2023/24 esteve no Apoel e conquistou o título do campeonato cipriota.
“Logicamente, a responsabilidade do jogador é completamente diferente da do treinador. Como jogador, a minha responsabilidade tem a ver fundamentalmente com a minha performance, com a forma como eu descanso, como eu treino, como me alimento. Sou muito eu. Como treinador, a visão é completamente diferente e eu já não sou eu, já são 30 que temos de gerir e entender”, explicou à Lusa.
Sá Pinto admitiu que a função de treinador é mais exigente, com decisões difíceis que são tomadas diariamente, e com menos margem para erros.
“Em termos de exposição, são ambos difíceis, apesar de a figura do treinador continuar a ter mais ainda mais responsabilidade, porque se um jogador falhar um golo ou não jogar tão bem, tem sempre outras oportunidades. O treinador não pode falhar três ou quatro jogos. Hoje em dia, com o mercado tão competitivo como está, sai e entra outro. Os clubes são sempre os mesmos, mas os treinadores são cada vez mais”, concluiu.
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