Os títulos mundiais dos canoístas Fernando Pimenta, João Ribeiro e Messias Baptista, e o inédito ouro na pista do ciclista Iúri Leitão coroaram um 2023 ‘agridoce’ para o desporto português, em que o atletismo foi a maior deceção.

Numa época em que superou as 130 presenças no pódio em competições internacionais, Fernando Pimenta, de 34 anos, escreveu mais uma página na história do desporto português, ao sagrar-se, pela terceira vez, campeão mundial de K1 1.000 metros – dias depois, em Vejen (Dinamarca), festejaria o ouro na ‘short race’ e em K2, ao lado de José Ramalho, nos Mundiais de canoagem de maratonas.

A cidade alemã de Duisburgo foi mesmo ‘talismã’ para Portugal, já que testemunhou também o título mundial de João Ribeiro e Messias Baptista, em K2 500 metros. Os feitos dos três canoístas só encontram paralelo no inédito ouro de Iúri Leitão: o vianense de 25 anos sagrou-se campeão do mundo da disciplina olímpica de omnium, conquistando o primeiro título em elites para o país na pista.

Mas os campeões mundiais lusos não estão sozinhos na galeria das alegrias de 2023, já que também o nadador Diogo Ribeiro, o ciclista João Almeida e a atiradora Maria Inês Barros elevaram o nome de Portugal mais alto.

Aos 18 anos, Ribeiro sagrou-se vice-campeão mundial nos 50 metros mariposa, dando a primeira medalha a Portugal em Campeonatos do Mundo, tal como João Almeida ‘ofereceu’ ao país a primeira presença no pódio da Volta a Itália, ao ser terceiro.

Já Maria Inês Barros conquistou o título europeu de fosso olímpico (‘trap’), nos Campeonatos da Europa de tiro com armas de caça, que decorreu em Osijek, na Croácia, em setembro, três meses depois de Portugal alcançar a melhor prestação de sempre nos Jogos Europeus, ao sair de Cracóvia com 16 medalhas.

Num ano em que Nuno Borges esteve em destaque no ténis e Marco Freitas no ténis de mesa e a seleção de râguebi fez história ao conseguir a primeira vitória de sempre num Campeonato do Mundo, competição para a qual se apurou pela segunda vez, nem tudo foram alegrias, com a prestação nacional nos Mundiais de atletismo e os desenvolvimentos desportivos e judiciais do caso W52-FC Porto a serem os destaques pela negativa.

Sem os medalhados olímpicos Pedro Pablo Pichardo e Patrícia Mamona, Portugal ficou pela quinta vez fora dos pódios de Campeonatos do Mundo de atletismo, em Budapeste, de onde saiu com a pior pontuação de sempre, sem que o quarto lugar de Auriol Dongmo no lançamento do peso disfarçasse uma participação atribulada desde a viagem para a Hungria até à desconvocação do campeão olímpico do triplo salto, por lesão.

Mas a ‘mancha negra’ no desporto nacional voltou a ser, como em 2022, a operação ‘Prova Limpa’: além das pesadas suspensões desportivas, aplicadas aos antigos ciclistas Ricardo Vilela, Jóni Brandão e José Gonçalves, e aos diretores Nuno Ribeiro e José Rodrigues – ambos a cumprirem um castigo recorde de 25 anos -, o Tribunal de Instrução Criminal de Penafiel decidiu levar a julgamento todos os 26 arguidos neste processo.

Se os ciclistas vão responder por tráfico de substâncias e métodos proibidos, a cúpula diretiva da extinta W52-FC Porto responderá ainda pelo crime de administração de substância e métodos proibidos.

Mas as más notícias para o ciclismo nacional, agora órfão de referências – o vencedor da Volta a Portugal foi o suíço Colin Stüssi (Vorarlberg), o primeiro ciclista de uma equipa estrangeira a conquistar a prova desde 2006 –, não acabaram por aí, já que também Amaro Antunes, único W52-FC Porto a ‘escapar’ à justiça, foi suspenso por quatro anos por anomalias no passaporte biológico, perdendo uma das duas Voltas que ganhou (a de 2021).

Para esquecer foi também a temporada de Miguel Oliveira no MotoGP, a primeira na Aprilia: o português somou abandonos e lesões, sendo apenas 16.º no campeonato, com o quarto lugar no GP da Grã-Bretanha a figurar como o melhor resultado.