
Quem for eleito na quinta-feira como sucessor de Thomas Bach na presidência do Comité Olímpico Internacional (COI) terá de saber “manter a calma sob pressão” num momento no qual, segundo alguns membros, “o futuro do Movimento Olímpico está em jogo”.
Sete candidatos concorrem para se tornar na pessoa mais poderosa na governança desportiva mundial e substituir Bach, que deixa o cargo após uma agitada gestão de 12 anos, período no qual teve que lidar com a COVID-19, um escândalo de dopagem russo, assim como a invasão russa à Ucrânia.
“Acredito que essa é a eleição olímpica mais significativa em quase meio século. Alguns membros do COI pensam, até mesmo, que o futuro do Movimento Olímpico está em jogo”, diz Michael Payne, ex-chefe de marketing do COI, à AFP.
Payne, que em quase duas décadas no COI foi crucial na renovação da sua marca e das finanças através de patrocínios, destaca que o Movimento “nunca esteve tão forte” graças, em parte a, “talvez os melhores Jogos da história”, em Paris no ano passado.
Panorama geopolítico complicado
No entanto, acredita que “a perspectiva futura está cheia de riscos”. “O COI não enfrentou um panorama geopolítico tão complicado em muitos anos”, argumenta o irlandês de 66 anos.
“A maneira como o COI navega num mundo político cada vez mais fraturado, mantendo a universalidade, e como o COI se envolve num mercado de marketing em rápida evolução definirá o futuro do Movimento”, alerta.
Martin Sorrell – que fundou o gigante publicitário WPP e participou da Comissão de Comunicações do COI – pensa que o próximo presidente irá requerer um conjunto de habilidades particulares, dado que existe “uma imensa volatilidade no mundo”.
O sucessor de Bach terá que lidar com as imprevisíveis mudanças de humor do presidente norte-americano, Donald Trump, com os próximos Jogos de Verão em Los Angeles em 2028.
“O próximo presidente do COI terá que possuir inteligência política, tato, um forte temperamento e um pulso firme”, disse Sorrrell à AFP por telefone.
“O próximo presidente terá que ser capaz de ir à Casa Branca e dar a cara. Também deverá ficar tranquilo sob pressão, já que há três grandes desafios geográficos e geopolíticos adiante: Rússia-Ucrânia, China e Oriente Médio com Irã”.
Preparar-se para "noites sem dormir”
Para outro executivo de marketing do COI, Terrence Burns, o próximo presidente deve estar preparado para enfrentar o desafio das “inclinações dos políticos de usarem os Jogos Olímpicos como ferramenta política”.
“Acredito que o próximo presidente do COI deve passar pelo que chamo a ‘prova da conferência de imprensa conjunta', ou seja, quem pode imaginar-se sentado em frente ou ao lado dos líderes mundiais atuais e mantendo a compostura?”, disse à AFP.
“O COI deve permanecer independente e acredito que isso será cada vez mais desafiador”. Embora Payne considere que Trump será “incrivelmente solidário” com a organização dos jogos de Los Angeles, prevê “noites sem dormir” para o presidente do COI.
“A Sua política externa (de Trump) e as súbitas ordens executivas durante a contagem regressiva para os Jogos podem criar problemas. Terá que ter habilidades diplomáticas e políticas especiais, além da agilidade para garantir que as 205 nações cheguem a Los Angeles em 2028 e proteger e universalidade do Movimento Olímpico”, disse Payne.
Sorrell pensa que “os dois grandes temas são a geopolítica e a tecnologia” e “estamos a ver isso claramente aqui”.
Revolução tecnológica
“Não subestimaria as mudanças políticas e tecnológicas que o novo presidente terá que enfrentar”, disse o inglês de 80 anos.
Burns, que desde que deixou o COI foi membro de seis candidaturas olímpicas bem-sucedidas, está de acordo com esse último.
“A IA (Inteligência Artificial) está, não provavelmente, mas sim com certeza, a revolucionar tudo, desde a educação até a governança”, disse.
“Há uns anos, o edifício econômico e geopolítico estável que inaugurou o mundo moderno e pacífico era algo dado como certo; agora não é mais”.
Esse cenário, segundo Burns, aumenta a pressão sobre os desafios que se avizinham para o sucessor de Bach. “Tudo isso para dizer que o próximo presidente do COI enfrentará desafios, assim como o ritmo deles que seus antecessores nunca conseguiram imaginar”, disse.
“Então, sim, esta eleição é um grande assunto no mundo olímpico e para o esporte global em geral”.
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