Em agosto de 2016, o Comité Olímpico Internacional (COI) aprovou cinco novas modalidades olímpicas, que vão estrear-se nos Jogos Olímpicos de Tóquio: surf, escalada, karaté, skate e baseball/softball.
A lista de novas modalidades (de que chegou a fazer parte o squash, o bowling e o wushu, uma arte marcial chinesa) tinha sido submetida à consideração do COI pelo comité de organização das olimpíadas de Tóquio e mereceu o voto unânime dos 85 membros.
Na altura, o COI considerou que as cinco novas modalidades representam "uma combinação de desportos bem estabelecidos e emergentes, com uma enorme popularidade no Japão e noutros países" e com "uma forte capacidade de atração entre os jovens".
Para albergar estas novas modalidades foram criados mais 18 eventos. Só a inclusão do karaté representa a entrega de mais oito medalhas. Enquanto o skate se vai dividir em duas modalidades (street e park). Já o baseball vai ser disputado apenas por homens e o softball apenas por mulheres.
Os "novos" portugueses em ação
A inclusão destas novas modalidades representa a participação de mais quatro atletas portugueses, sendo que os lusos apenas conseguiram o apuramento para duas das cinco modalidades: surf e skate.
No surf, Portugal vai ser representado por Frederico Morais, na prova masculina, e Teresa Bonvalot e Yolanda Hopkins, na prova feminina.
Frederico Morais, conhecido por Kikas, foi o primeiro a garantir apuramento para os Jogos Olímpicos, em setembro de 2019. Em Miyazaki, no Japão, o surfista português foi o melhor atleta europeu em prova e agarrou uma vaga na estreia da modalidade.
Já Teresa Bonvalot e Yolanda Hopkins conseguiram a qualificação quando passaram, ambas, à final de qualificação dos Jogos Mundiais de Surf que decorreram no início de junho, em El Salvador. Yolanda Sequeira acabaria por obter o segundo lugar na final, enquanto a compatriota Teresa Bonvalot arrecadou a medalha de bronze.
Garantido o apuramento, os três surfistas ficaram entretanto a conhecer os adversários para a aventura olímpica.
Frederico Morais vai bater-se com o japonês Kanoa Igarashi, o francês Jeremy Flores e o peruano Miguel Tudela na primeira ronda do surf em Tóquio2020. Já Bonvalot vai surfar contra a tetracampeã mundial norte-americana Carissa Moore, a peruana Daniella Rosas e a equatoriana Dominic Barona, enquanto Yolanda Sequeira se vai bater com a norte-americana Caroline Marks, vice-campeã mundial, além da costa-riquenha Leilani McGonagle e da neozelandesa Ella Williams.
Já na outra das novas modalidades, Portugal vai ser representado por Gustavo Ribeiro. O skater de 20 anos assegurou a estreia da modalidade nos Jogos Olímpicos Tóquio2020, com o terceiro lugar no ranking de qualificação no início de junho.
Gustavo Ribeiro ocupa a terceira posição na hierarquia, com 88.320 pontos, atrás do norte-americano Nyjah Huston (205.900) e do japonês Yuto Horigome (169.200), primeiro e segundo colocados, respetivamente.
As expectativas
Frederico Morais assume o orgulho do contingente de surfistas, com a promessa de que os resultados vão aparecer.
"Termos três representantes no surf é uma grande conquista. Para mim, é uma conquista e um orgulho e tenho a certeza que vamos dar tudo para ter o melhor resultado. Qualquer competidor quer ganhar, caso contrário não era competidor, mas é preciso fazer todo o trabalho atrás das cortinas e entrar na água e surfar. É no que eu estou focado e, por isso, tenho a certeza que os resultados virão", afirmou Frederico Morais.
Em entrevista à agência Lusa, o surfista natural de Cascais, de 29 anos, admitiu alguma ansiedade com o aproximar da competição, prevista entre 25 e 28 de julho, na praia de Tsurigasaki, a pouco menos de uma centena de quilómetros da capital japonesa, que acolhe os Jogos entre sexta-feira e 08 de agosto.
"Agora uma pessoa sente que vai mesmo acontecer e está a aproximar-se e o nervoso miudinho começa a aparecer, mas é bom sinal", admitiu o representante nacional na competição masculina. Com a descontração que o caracteriza fora de competição, Frederico Morais lamentou que a envolvência olímpica lhe vá passar um pouco ao lado, porque os representantes do surf vão estar "um bocado afastados".
"Para nós vai ser um bocado igual [a uma etapa do circuito mundial], porque não vamos ficar na Aldeia Olímpica. Vamos ficar perto da praia, que é a 90 quilómetros de Tóquio, por isso, vão ser as mesmas caras de sempre, com quem compito quase todos os dias. Claro que vai ser completamente diferente, mas acho que, por isso, não vou conseguir aproveitar todo o ambiente olímpico", referiu.
Já Yolanda Sequeira e Teresa Bonvalot garantiram estar prontas para dar o melhor na estreia da modalidade no evento e esperam que um tufão faça ondulação no mar japonês.
As duas surfistas falaram aos jornalistas num espaço montado pelo Comité Olímpico de Portugal (COP) no aeroporto de Lisboa, dedicado ao apoio a toda a comitiva portuguesa nos Jogos, momentos antes de seguirem viagem até à capital nipónica, na segunda-feira.
"A equipa toda quer representar Portugal da melhor maneira. Estamos todos muito focados e muito juntos como equipa. Vamos lá para dar o nosso melhor, sem pressões", assegurou Yolanda Sequeira, que representa o Clube Naval de Portimão.
"É um evento muito especial. Acontece de quatro em quatro anos e o mundo todo está a ver. Tem uma audiência muito maior do que só o mundo do surf. Vai ser uma grande abertura para o surf", considerou Yolanda Sequeira.
Enquanto isso, Teresa Bonvalot, de 22 anos, revelou ansiedade para experienciar "algo único e histórico" para o surf, num campeonato "de um calibre totalmente diferente".
"Não sei o que esperar, é totalmente diferente dos meus outros campeonatos, mas acabamos todos por passar pela mesma coisa. É tudo novo, uma experiência nova, em que o objetivo é dar o meu máximo, chegar lá e desfrutar cada momento", sublinhou a jovem surfista.
Por seu lado, Gustavo Ribeiro admitiu que sonha em trazer uma medalha para Portugal, sabendo que isso contribuirá também para concretizar a firme vontade de ser o mais virtuoso de todos nesta modalidade.
"O meu primeiro campeonato foi quando tinha seis anos e aos oito passei a levar as coisas mais a sério e a querer ser o melhor do mundo. Sempre tive isso na cabeça e desde aí que trabalho para que esse dia chegue", disse à Lusa o desportista.
O ‘skateboarder’ de Almada sabe que lutar pelo ouro na disciplina de ‘street’ [rua] o vai ajudar ainda a "tentar elevar" o skate português a nível internacional, "colocando-o no mapa". "O meu ponto forte é a minha consistência e a ‘cabeça’. Um dos pontos sempre a melhorar é a tua cabeça e como vês as coisas. Podes ser um atleta muito bom, mas se não tiveres cabeça e foco, deitas muitas coisas a perder", considerou ainda.
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