O olimpismo ficou ‘órfão’ de lendas com a retirada de Michael Phelps e Usain Bolt no Rio2016 e ainda procura novas referências, depois da ascensão meteórica da ginasta Simone Biles ter sido abruptamente ‘interrompida’ nos últimos Jogos Olímpicos.

Faltam referências ao olimpismo mundial desde as ‘reformas’ do nadador norte-americano e do velocista jamaicano e, em Paris2024, caberá a ‘estrelas’ como Armand Duplantis, no salto com vara, Eliud Kipchoge, bicampeão olímpico em título da maratona, o francês Léon Marchand, a australiana Ariarne Titmus e a norte-americana Katie Ledecky, ‘reis’ nas piscinas, lutar por esse estatuto.

Nos próximos dias, todos os caminhos vão dar à capital francesa, onde se aguarda com grande expectativa o regresso de Simone Biles, que procurará a redenção depois dos dramas vividos no Japão. Era ela a grande esperança do olimpismo após as despedidas de Phelps e Bolt, mas, depois da impactante estreia no Rio2016, onde ganhou quatro ouros e um bronze, ‘tropeçou’ no caminho para a glória.

Em Tóquio2020, depois de contribuir para a prata norte-americana por equipas, abdicou de outras provas, evocando problemas de saúde mental, e regressou apenas para competir na trave, aparelho em que conquistou o bronze.

A ginasta, de 27 anos, esteve afastada da competição dois anos, após a sua participação conturbada nos Jogos, e focou-se na sua saúde mental, tornando-se uma embaixadora do tema - aliás como o é Phelps. No regresso, somou quatro ouros nos Mundiais de Antuérpia2023 e, já no início deste mês, brilhou nos ‘trials’ do seu país.

É, portanto, Biles a maior candidata a (re)entrar no Olimpo em Paris2024, embora rivalize em mediatismo com compatriotas como LeBron James, Stephen Curry, ou Kevin Durant, que vão representar a poderosa seleção norte-americana no basquetebol, os tenistas Rafael Nadal, que até poderá encerrar a carreira nos courts de Roland Garros, onde decorre o torneio olímpico, e Novak Djokovic, os ‘estelares’ ciclistas Tadej Pogacar, Remco Evenepoel, Mathieu van der Poel, Primoz Roglic e Wout van Aert, e o símbolo local, o judoca Teddy Rinner.

Mas, invariavelmente, e exceção feita à ginástica, uma das três modalidades ‘rainhas’, as ‘lendas’ olímpicas ‘nascem’ na pista ou nas piscinas e há muitos candidatos a esse estatuto na capital francesa.

No Stade de France, é quase certo que Armand Duplantis vai voltar a brilhar: campeão olímpico em Tóquio2020, o popular sueco bateu esta época, pela oitava vez, o recorde do mundo do salto com vara, fixando-o em 6,24 metros, e seguramente tentará fazê-lo novamente no maior de todos os palcos.

A expectativa para ver quão alto vai saltar ‘Mondo’ Duplantis rivaliza com a dúvida sobre quão rápido vai correr Faith Kipyegon os 1.500 metros. Bicampeã olímpica e mundial da distância, a queniana melhorou o recorde do mundo que já detinha no início do mês (03.49,04 minutos), precisamente em Paris, no meeting da Liga Diamante, e quererá voltar a repetir o feito nos Jogos Olímpicos.

Kipyegon procurará o terceiro título olímpico consecutivo tal como o seu compatriota Eliud Kipchoge, que, em Paris2024, tentará um feito único na história do olimpismo: ser o primeiro a ganhar três vezes seguidas a maratona, desempatando em número de vitórias com o também etíope Abebe Bikila e o alemão Waldemar Cierpinski.

Se estes três nomes têm já provas dadas em Jogos Olímpicos o mesmo não acontece com a nova ‘sensação’ do atletismo norte-americano Sha’Carri Richardon, campeã do mundo dos 100 metros, que se vai estrear em Paris2024, depois de ter falhado Tóquio2020 devido a um positivo por marijuana.

Aos 24 anos, a velocista norte-americana é a principal candidata a suceder à jamaicana Elaine Thompson-Herah, ainda bicampeã olímpica em título nos 100 e 200 metros, que estará ausente destes Jogos devido a uma lesão no tendão de Aquiles.

Do mesmo país chegará outra ‘estrela’, Noah Lyles, à procura de replicar o domínio demonstrado nos Mundiais Budapeste2023 nos 100 e 200 metros, distância em que é bicampeão mundial.

Do Stade de France para La Défense, a supremacia dos Estados Unidos não se esbate, com Katie Ledecky a enfrentar o francês Léon Marchand e a australiana Ariarne Titmus pelo ‘título’ de ‘figura’ das piscinas em Paris2024.

Com sete títulos olímpicos no currículo, a ‘rainha’ das distâncias longas, nomeadamente dos 800 metros, distância na qual é tricampeã em título, vai procurar ampliar o seu pecúlio de 10 medalhas, depois de, nos últimos dois anos, ter superado o recorde de 15 ouros de Michael Phelps em Mundiais, fixando-o em 21.

Se os créditos da recordista dos 800 e 1.500 metros, de 30 anos, são incontestáveis, há outros nadadores que procuram consolidar-se como olímpicos de referência, nomeadamente o prodígio local Léon Marchand, que nos Mundiais Fukuoka2023 bateu o recorde de Phelps nos 400 estilos, distância em conquistou dois títulos mundiais, feito que repetiu nos 200 estilos – no Japão, também foi campeão dos 200 mariposa.

Aos 22 anos, o nadador é já uma das estrelas do desporto de França e, em casa, tentará pôr um ponto final na ‘seca’ francesa nas piscinas – desde Londres2012, que não ganham qualquer ouro na natação – e ajudar a nação organizadora a cumprir o objetivo de ficar no ‘top 5’ do medalheiro.

Além de Marchand, outra jovem promete ‘agitar’ as águas em Paris, de seu nome Ariarne Titmus. A australiana de 24 anos apresentou-se ao mundo em Tóquio2020, onde ganhou os 400 metros livres, com recorde mundial, e os 200, prova em que também é recordista planetária, e prevê que expanda o seu reinado nestes Jogos.

Fora das modalidades ‘clássicas’, há duas ‘miúdas’ do skate que poderão consolidar a sua projeção global na capital francesa: a brasileira Rayssa Leal, que aos 13 anos conquistou a prata em street em Tóquio2020, e a britânica Sky Brown, bronze na capital japonesa com a mesma idade na vertente park.