O campeão iraniano de karaté foi enforcado este sábado, em Teerão, depois de ter sido condenado a morte no dia 5 de dezembro de 2022 por alegados "crimes contra a segurança nacional".
Mohamed Mehdi Karami, iraniano natural de Basij, no Curdistão, tinha 22 anos e praticava a modalidade desde os 11 anos, em várias categorias etárias e disciplinas seu país. O atleta era quarto do ranking do Irão e também presença habitual na seleção persa nas grandes competições internacionais
De acordo com a agência 'Fars News', Mohamed Mehdi Karami foi um dos dois invidíduos executados este sábado pelo seu alegado envolvimento na morte de Seyed Ruhollah Ajamian, membro das milícias pró-governamentais, a 3 de novembro, durante uma cerimónia fúnebre em homenagem a um manifestante em Karaj, perto de Teerão. Na sequência do incidente, cinco pessoas foram condenadas a morte, segundo a organização de defesa e promoção dos direitos humanos Amnistia Internacional (AI)
Com o enformento do campeão iraniano de karaté, já são quatro os cidadãos executados na sequência dos protestos pela morte, às mãos das autoridades do Irão, de Masha Amini, a 16 de setembro de 2022, que levou à realização de manifestações da população civil em quase todo o país.
No dia 03 de janeiro a justiça iraniana tinha rejeitado o recurso de dois dos cinco condenados à morte, por alegadamente matarem um membro da milícia voluntária Basij durante os protestos antigovernamentais desencadeados em setembro.
"Os recursos dos condenados Mohamad Mehdi Karami e Seyed Mohamad Hoseini não foram considerados justificados, o veredicto anteriormente proferido pelo tribunal foi confirmado e aprovado e estas duas pessoas foram condenadas à morte", refere a justiça iraniana, citada pela agência de notícias jurídicas do Irão, Mizan.
Sobre os outros três condenados à morte no mesmo caso, Hamid Qare Hasanlou, Hosein Mohamadi e Reza Aria, o Supremo Tribunal de Justiça acolheu o recurso e devolveu os seus autos para o tribunal, determinando uma investigação mais aprofundada.
Em 06 de dezembro, a justiça iraniana tinha revelado que deteve 16 pessoas ligadas à morte de um basij, que morreu durante os protestos no final da cerimónia de luto por um manifestante falecido. Dos 16 arguidos, cinco foram condenados à morte e outros 11, incluindo três menores, foram condenados a longas penas de prisão.
Os protestos começaram no Irão após a morte da jovem curda Mahsa Amini, a 16 de setembro de 2022, após ter sido detida pela chamada polícia da moralidade por alegada violação do rígido código de vestuário para as mulheres aplicado na República Islâmica.
Pelo menos 2.000 pessoas foram acusadas pela justiça iraniana de vários crimes pela sua participação nas mobilizações, das quais duas foram executadas em dezembro. As manifestações foram duramente reprimidas e, segundo diferentes organizações não-governamentais (ONG), nos quase quatro meses de protestos, mais de 450 pessoas morreram.
O Irão anunciou 11 sentenças de morte por envolvimento em "motins” e acusa "inimigos estrangeiros", incluindo Estados Unidos e Israel, de os estarem a fomentar a sublevação. Segundo a Amnistia, além das 11 pessoas já condenadas, 15 são indiciadas por crimes puníveis com pena de morte.
Grupos de direitos humanos acreditam que os procedimentos legais foram forjados e estão preocupados com as confissões obtidas sob tortura. As duas primeiras execuções ocorreram com Mohsen Shekari, a 08 de dezembro, e com Majidreza Rahnavard, quatro dias depois. Ambos tinham 23 anos.
Majidreza Rahnavard foi enforcado em público.
Segundo a ONU, as autoridades do regime teocrático iraniano já prenderam cerca de 14 mil pessoas desde meados de setembro, enquanto a organização Iran Human Rights (IHR), com sede em Oslo, dá conta da morte de pelo menos 469 manifestantes.
As autoridades reportaram oficialmente mais de 200 mortes, incluindo membros das forças de segurança, desde o início dos protestos.
Entretanto, a rede de Internet do Irão registou hoje uma série de bloqueios nas páginas internacionais que terminam em “.com”, ao mesmo tempo que os utilizadores alertaram para o facto de a velocidade estar “extremamente lenta”.
No entanto, os domínios nacionais - as páginas da web que terminam em “.ir” - são facilmente acessíveis, levantando preocupações de que as autoridades iranianas estejam a tentar isolar o país da rede internacional.
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