A Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP) assegura que a vigilância aos atletas continua, apesar da pandemia de COVID-19 ter ditado a suspensão de todos os controlos antidoping, há cerca de um mês.
Em entrevista à Lusa, o presidente da ADoP, Manuel Brito, admitiu que a propagação do novo coronavírus no país condicionou os trabalhos e que o organismo deixou de fazer testes face ao “risco elevadíssimo” de contágio.
Sem deixar de frisar que a atual situação de paragem é comum a vários países, o dirigente lembrou, porém, que há outros “procedimentos em curso” na instituição.
“Há um conjunto de aspetos que estão a andar e que têm a ver com questões disciplinares, passaportes biológicos, análise dos casos suspeitos ou já confirmados de violação das regras, autorizações terapêuticas e localização de praticantes”, afirmou, esclarecendo que os atletas continuam a ter de fornecer moradas atualizadas durante este período.
Para 2020, a ADoP tem como meta a realização de “um pouco mais de 3.000” controlos, em linha com os 3.400 efetuados no ano passado, e que superaram a previsão inicial de 3.250. A pandemia de COVID-19 já obrigou a uma suspensão de testes de cerca de um mês e tudo indica que se irá prolongar, pelo menos, até ao final de abril – face à previsível prorrogação do estado de emergência -, mas Manuel Brito não teme um eventual falhanço dos objetivos.
“Não é um drama e vamos ultrapassar isto. Podemos perfeitamente compensar as metas a que nos tínhamos proposto. Um mês ou dois de interregno não vai afetar a meta anual”, notou, revelando que nos primeiros dois meses e meio deste ano foram efetuados 508 controlos.
Paralelamente, o líder do organismo máximo do combate ao doping em Portugal reiterou as palavras do presidente da Agência Mundial Antidopagem (AMA), Witold Banka, que sublinhou que a pandemia “não é uma oportunidade para os atletas fazerem batota”.
Nesse sentido, Manuel Brito defendeu a importância do passaporte biológico como “uma arma muito poderosa” e o seu crescimento em Portugal.
“Entre 01 de janeiro e 18 de junho de 2019 existiam 45 passaportes biológicos. Quando entrei para a ADoP, em 19 de junho de 2019, fizemos outros 130 até ao final desse ano. E, como consequência dos passaportes biológicos, vamos iniciar agora processos disciplinares, porque já temos evidência científica nos relatórios de investigadores”, frisou.
Uma das consequências mais significativas da COVID-19 no desporto foi o adiamento dos Jogos Olímpicos Tóquio2020 para 2021, algo que Manuel Brito rotulou de “absolutamente inevitável”. A decisão tem impacto em federações e comités olímpicos e paralímpicos, mas o dirigente desvalorizou os efeitos no trabalho da ADoP.
“Em relação aos atletas já apurados ou em vias de apuramento para os Jogos Olímpicos, temos o registo de praticamente todos, e com várias amostras. Estávamos a trabalhar com um calendário regular, mas íamos fazer mais. Comigo, nenhuma equipa que vai em missão olímpica ou paralímpica sai de Portugal sem ter sido toda a gente controlada”, assegurou.
Questionado sobre um hipotético aumento de situações de doping no futuro pós-pandemia, o líder da ADoP manifestou “confiança” nos atletas portugueses, relembrando uma história “com poucos casos” e classificando Portugal como “um país de baixo risco” a este nível.
“Há um nível de consciência muito elevado da esmagadora maioria dos atletas de elite relativamente aos efeitos nefastos da dopagem. Outro aspeto importante é que nos últimos anos houve uma melhoria considerável no acompanhamento médico desses atletas. Por fim, existe o risco de serem apanhados em qualquer altura, porque aumentámos muito os controlos fora de competição e isso inibe os atletas de se doparem”, concluiu.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia de COVID-19, já provocou mais de 100 mil mortos e infetou mais de 1,6 milhões de pessoas.
Em Portugal, segundo o balanço feito na sexta-feira pela Direção-Geral da Saúde (DGS), registaram-se já 435 mortos e 15.472 casos de infeções confirmadas.
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