Frederico Hilário, de 36 anos, dedica-se desde 2004 aos treinos de karaté em Chaves, no distrito de Vila Real, e mais recentemente até no outro lado da fronteira, em Verín, Espanha, mas nunca precisou de preparar aulas à distância até ser forçado devido à pandemia covid-19.
O distanciamento forçado para com os seus atletas e alunos não foi impedimento para o treinador continuar a dar aulas, e desde 15 de março que os incentiva a manter a sua preparação física e técnica.
O conceito ganhou dimensão e acontece atualmente cinco vezes por semana, sempre com treinos em direto, para todas as idades, e até permite juntarem-se outros participantes, pois as aulas são gratuitas, estando disponíveis na rede social Youtube e na aplicação Zoom.
“Estou a trabalhar com a aplicação Zoom, em que é possível ver os atletas. Apesar de não ser muito fácil corrigir, mantêm-se ativos, através de treinos de competição e treinos de karaté tradicional. De segunda a quinta-feira vou intercalando e ao sábado há um treino geral de condição física”, explica à agência Lusa.
A disciplina, essa, mantém-se e à hora combinada, às 17:00 em ponto de segunda-feira, a aula arranca com os primeiros exercícios de aquecimento. No Zoom, vêm-se janelas de vídeo a abrirem-se e os jovens atletas a juntarem-se ao treino e, tal como no pavilhão, aqui também não dá para esconder os atrasos.
Na aplicação Zoom, a comunicação é direta, tal como as correções. No Youtube, o diálogo mantém-se pela janela de ‘chat’ e começam, claro, pelo ‘olá sensei’ mal se juntam à aula.
Já com mais de 30 jovens presentes no treino, que é dedicado à competição, este avança com aquecimento e alongamentos e, depois, já com ritmo elevado segue-se para os treinos das técnicas, e aí a preocupação de corrigir.
Kizami, gyaku, tsuki ou uraken, em 45 minutos todas estas técnicas são ‘visitadas’ e aprimoradas, pois a preocupação é que os atletas não percam hábitos. No final, todos fazem uma saudação e o técnico dá conselhos.
“Permite não haver quebra tão grande. Obriga a trabalhar a parte física e a não perderem parte do movimento. O que se trabalhou durante o ano no espaço de duas semanas pode-se perder e assim dá para minimizar o estrago”, avalia Frederico Hilário.
Um dos participantes é Gonçalo Lopes, também de Chaves, e que já esta temporada se sagrou campeão nacional de juniores de karaté em -55 kg.
Aos 16 anos, e já com nove anos da modalidade, o jovem praticante vive momentos inéditos, pois nunca esteve ‘proibido’ de frequentar pavilhões e não perde uma aula para também ele não perder o seu momento de forma.
“Não é a mesma coisa que um treino presencial mas sem dúvida que ajuda muito. Sozinho não sabia o que treinar e assim o treino online ajuda-me bastante, faço bastante técnicas, não perco a forma física e continuo ativo”, conta.
Cansado de um isolamento que sabe ser necessário, Gonçalo Lopes continua a treinar para o caso de ainda ter provas pela frente esta temporada o que permitirá “estar o melhor preparado”.
O flaviense é um dos atletas de competição que Frederico Hilário treina no Karaté Clube do Alto Tâmega (KCAT) e que já deram diversos títulos nacionais e internacionais à cidade.
O técnico explica que não é a forma ideal de fazer um treino tão específico, mas permitiu encontrar novos conceitos de ensino.
“Foi uma forma de nos adaptarmos e até de aprender com isso. Obriga-me a ver formas de plataformas, a desenrascar e até tem sido muito positivo”, confessa.
Além do KCAT, praticantes da Sala Todo Fitness (Espanha), da Academia Karaté de Chaves e Externato Disney trocaram os ginásios e pavilhões pelas salas de casa.
A jovem Francisca Oliveira, de apenas 5 anos, e desde dezembro a ganhar ligação ao karaté, é uma das seguidoras das aulas online, com a ajuda da mãe.
Tânia Dias, também de Chaves, conta que as aulas “têm sido uma ajuda” para entreter a filha numa altura de isolamento em casa.
Mas a vantagem foi mais além, pois também Tânia Dias passou a ser presença assídua nas aulas, acompanhando a filha Francisca numa atividade que está a permitir “criar mais laços”.
“É uma união diferente, pois ela fazia sozinha e agora tem a mãe ao lado. No final de cada exercício vem-me dar um abraço”, conta, num regresso ao exercício físico que também a está a entusiasmar.
O treinador Frederico Hilário explica que tem ‘ganho’ muitos pais nas aulas, que começaram a treinar em casa, juntando-se aos filhos.
“Estamos nesta altura com cerca de 30/35 alunos por aula, pois começou com menos. Está em aumento diário e o compromisso meu e deles é muito bom. Muitos pais juntaram-se e agradeceram por evitarem a paranoia de estar em casa sem fazer nada e até permite aumentar a ligação entre pais e filhos”, lembra.
Frederico Hilário acrescenta ainda que mesmo quem ainda está a trabalhar pode realizar as aulas mais tarde, pois estas ficam disponíveis no Youtube a todos os interessados.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da COVID-19, já infetou mais de 727 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram perto de 35 mil.
Em Portugal, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, registaram-se 140 mortes, mais 21 do que na véspera (+17,6%), e 6.408 casos de infeções confirmadas, o que representa um aumento de 446 em relação a domingo (+7,5%).
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