
Terminou domingo, em Tóquio, a edição 2025 dos Campeonatos do Mundo de Atletismo, que foi dourada para Portugal, com os títulos de Isac Naader nos 1500 metros e de Pedro Pablo Pichardo no triplo-salto, permitindo às cores lusas terminarem no 9.º lugar do quadro de medalhas.
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Mas não foram só as vitórias dos atletas portugueses a merecer destaque ao longo de nove dias de muita ação e muitas emoções no Japão. Recordamos dez momentos marcantes dos Mundiais de Atletismo 2025.
O ouro de Nader com que poucos contavam
Isac Naader chegou despercebido a Tóquio. Não era sobre ele que recaíam as maiores esperanças de Portugal para chegar às medalhas, quanto mais a um título mundial. Mas os sinais até estavam lá para quem os quisesse ver.
Neste ano, Isaac Nader vinha acumulando grandes resultados. Foi bronze no Europeu indoor, terceiro na Diamond League de Londres, quarto no Mundial indoor e venceu a milha nos Bislett Games de Oslo. Em junho, a correr os 800 metros, bateu o recorde nacional da especialidade, retirando mais de um segundo ao anterior máximo, que durava há mais de 20 anos. E ainda em junho, de volta aos 1500, trinfou no Europeu de equipas.
Mas não seriam muitos os que vaticinavam o sucesso que iria ter no Japão. Sem forçar muito na meia-final, passou à final ao ser quarto na sua série. Chegou à final longe de ter o favoritismo do seu lado. Mas ganhou. Estava em quinto lugar a apenas 100 metros do fim, mas partiu para a vitória num sprint vigoroso e terminou à frente de toda a gente. A cara de Nader dizia tudo: nem ele parecia acreditar...
Pichardo voou para mais um ouro no salto final
Depois do ouro inesperado, um mais esperado. Mas que chegou a estar tremido. Pedro Pablo Pichardo já tinha sido campeão do mundo em 2022, tinha ficado de fora em 2023 e nos JO Olímpicos de Paris 2024, foi segundo.
Desta feita, havia algumas dúvidas sobre o que podia fazer, depois de uma primeira metade de ano atribulada devido às desavenças com o Benfica e a alguns problemas físicos. Mas Pichardo disse presente na final do triplo salto, saltando para a liderança ao segundo ensaio. Segurou-a até ao quinto e o ouro parecia estar no bolso, com os adversários longe de o ameaçarem.
Mas, de repente, a medalha de ouro ameaçou fugir: o italiano Andrea Dallavalle fez o salto a sua vida, marcou 17,64m e passou para a frente. Só que Pichardo não tinha terminado. O português nascido em Cuba tinha abdicado do quinto ensaio e estava 'fresco' para o sexto e último salto, no qual fez 17,91m, garantindo o segundo título mundial ao ar livre da carreira e oferecendo a segunda medalha de ouro a Portugal em Tóquio (só por uma vez no passado, em 1995, em Gotemburgo, Portugal tinha ganhou duas medalhas de ouro numa mesma edição).
Duplantis voltou a elevar a fasquia
Se Pichardo salto mais longe do que toda a gente, Mondo Duplantis, igual a si mesmo, saltou mais alto do que alguém alguma vez tinha saltado, voltando a quebrar o seu recorde do mundo no salto com vara e mostrando estar num mundo à parte naquela especialidade.
A conquista da medalha de ouro era, já se sabia, quase uma formalidade. E foi, apesar de o grego também ter superado os 6,00.
Garantido o ouro, Duplantis pediu de imediato que a fasquia fosse colocada nos 6,30 m, para bater o recorde do mundo. Nas duas primeiras tentativas, não conseguiu. Mas, à terceira, o sueco fez história: pela 14ª vez na carreira, bateu um recorde mundial. Foi o único recorde do mundo batido em Tóquio, nestes Mundiais.
Uma maratona...decidida ao sprint
"É uma maratona, não um sprint". É uma daquelas 'frases feitas' que muitas vezes se usam no dia a dia, como lição de vida.
Mas nestes Campeonatos do Mundo de Atletismo de Tóquio 2025, a chegada da maratona masculina foi mesmo ao sprint, com Alphonce Simbu, da Tanzânia, a cruzar a linha de meta apenas 0,03 segundos à frente do alemão Amanal Petros. Incrivelmente, a diferença foi mais curta do que a da final dos 100m masculinos, realizada no dia anterior, terminou com uma diferença de 0,05 entre o primeiro e o segundo classificado.
A vitória de Simbu teve ainda outro dado histórico: para além de ser a diferença mais curta de sempre numa chegada de uma maratona em Mundiais de Atletismo, foi também a primeira medalha de ouro da Tanzânia num campeonato mundial.
Feriado no Botsuana depois da vitória nos 4x400m
Os 4x400 metros masculinos foram outra das especialidades a dar que falar em Tóquio. E Portugal também lá esteve, quebrando o recorde nacional e chegando à final.
Numa final corrida debaixo de uma chuva torrencial, houve surpresa, com o Botsuana a vencer grande estilo, superando os favoritos EUA e conquistando o ouro e tornando-se no primeiro país africano a vencer o evento.
E o governo do país rapidamente decidiu assinalar a ocasião, declarando um feriado nacional.
Noah Lyles falha nos 100m, mas não perdoa nos 200m
Amado por uns, odiado por outros, pela sua irreverência e pela forma como se costuma dizer superior aos rivais, Noah Lyles começou por ter uma lição de humildade nestes Mundiais de Tóquio, ao falhar as medalhas nos 100 metros, terminando no quarto lugar.
Mas naquela que é a sua especialidade, os 200 metros, respondeu à altura e não vacilou. A meio da final dos 200 metros masculinos, Lyles até parecia em apuros, com três adversários a parecerem estar à sua frente. Mas a Lyles acelerou e voltou mesmo para casa com mais um ouro para a sua coleção, igualando Usain Bolt como os únicos homens da história a conquistarem quatro títulos consecutivos nos 200m.
Depois, foi também Lyles a fazer o último percurso da estafeta dos EUA na final dos 4x100m, arrecadando mais um ouro.
Caio Bonfim ganhou os 20km marcha...mas não sabia
O brasileiro Caio Bonfim - que a nível de clubes representa o Benfica - sagrou-se campeão do Mundo nos 20 km marcha, à frente do chinês Zhaozhao Wang e do espanhol Paul McGrath.
Uma grande vitória, é certo, mas a razão pela qual deu que falar foi outra. É que quando cruzou a meta, Caio Bonfim nem sabia que tinha ganho. O japonês Toshikazu Yamanishi,que liderava a prova, foi penalizado em dois minutos por irregularidades, e acabou em 28.º lugar.
"Nem sabia que estava na luta pela medalha de ouro. Olhei para o ecrã gigante e reparei que estava em primeiro. Olhei para o lado, e o Yamanishi não estava lá. Pensei 'Meu Deus, vou ser campeão do mundo'. Agora, sou campeão do mundo", contou o brasileiro. E ainda bem que ganhou, para bem do seu casamento: "A minha aliança caiu, ao terceiro quilómetro, e eu pensei 'Acho que a minha esposa só vai perdoar-me se eu conseguir o ouro'.
Melissa Jefferson-Wooden subiu ao trono da velocidade feminina...na despedida da antiga rainha
Melissa Jefferson-Wooden tornou-se apenas a segunda mulher a conquistar uma 'tripla' na velocidade em Campeonatos do Mundo. A sprinter norte-americana de 24 anos conquistou o ouro nos 100m, nos 200m e ajudou a estafeta dos EUA a vencer os 4x100m.
E - o destino tem destas coisas - Melissa conseguiu esse feito na edição dos Mundiais em que a outra atleta que o havia logrado se despediu: a jamaicana Shelly-Ann Fraser-Pryce, de 38 anos, disse adeus às pistas com uma medalha - de prata - pela Jamaica nos 4x100m.
Melissa Jefferson-Wooden afirmou-se então como a nova rainha do atletismo de velocidade, no adeus da antiga dona da coroa, e a dúvida agora é - depois das impressionantes marcasa conseguidas em Tóquio - saber se vai ser capaz de bater os lendários recordes da compatriota Florence Griffith-Joyner, que duram desde a década de 1980.
Jamaica retoma domínio nos 100m masculinos...mas falha na estafeta
Há nova anos que a Jamaica não conquistava um título importante nos 100m masculinos.
Desde que Usain Bolt conquistou o ouro nos Jogos Olímpicos Rio 2016, nenhum jamaicano lhe havia seguido os passos...até Oblique Seville, agora, em Tóquio. Seville, que tinha a fama de falhar nos momentos decisivos (e pôs-se a jeito, com uma má partida nas eliminatórias), desta vez não falhou.
E atrás de Seville ficou Kishane Thompson, numa dobradinha que mostra que a Jamaica está mesmo de ao topo.
Beatrice Chebet prova que Paris não foi por acaso
Em Paris, no verão passado, Beatrice Chebet mostrou que o Quénia continua a mandar na média e longa distância, ao conquistar a primeira dobradinha olímpica de 10 mil e 5.000m feminina para o seu país.
Agora, em Tóquio, Chebet mostrou que não foi por acaso e repetiu a 'gracinha', vencendo novamente os 5.000m e os 10.000m.
Nas mulheres o Quénia 'limpou' mesmo todas as medalhas de ouro nas provas de meia e longa distância (com vitórias também nos 800m, 1.500m, 3.000m obstáculos e maratona, pra além das vitórias de Chebet). Nos homens, contudo, esteve longe de ser assim, com os triunfos nos 3.00m obstáculos, nos 5.000m e nos 10 mil metros a não sorrirem a atletas nem quenianos, nem africanos, mas sim, respetivamente, a um neozelandês, a um norte-americano e a um francês. Só a maratona, vencida por Simbu, da Tanzânia, foi vencida por um africano, no que toca a longas distâncias no masculino.
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