Inês Henriques espera terminar no domingo a prova de 50 km marcha dos Mundiais de atletismo, em Londres, à frente de concorrentes masculinos e melhorar o recorde mundial, que conseguiu em janeiro.

Para a estreia da distância para mulheres na competição organizada pela Associação Internacional das Federações de Atletismo (IAAF) estão apenas inscritas sete mulheres, pelo que a prova vai decorrer em conjunto com a masculina, com partida marcada para as 07:45 horas.

"Acho que vai ser giro, porque vamos estar no meio dos homens, poderemos conseguir acompanhar algum homem. É uma competição conjunta, mas depois temos a nossa classificação à parte. Espero que algum homem fique atrás de mim", disse a recordista mundial.

Inês Henriques estabeleceu o recorde do mundo de 50 km marcha em 14 de janeiro, ao cumprir a distância em 4:08.25 horas, em Porto de Mós, Leiria.

O treinador da atleta, Jorge Miguel, revelou que a meta desta participação será reduzir o tempo para 4:06 horas, mas Henriques sublinhou a importância de fazer a prova sem pressa.

"Vou manter ritmo que temos estipulado e mesmo que alguma atleta vá mais rápido, eu não vou poder ir. Há coisas que não se podem fazer, mesmo que o corpo diga que pode, depois paguei caro em Porto de Mós. Os últimos 5 km foram muito duros" lembrou Henriques.

A atleta de Rio Maior conta que começou a preparar-se para esta distância ainda antes de ser confirmada pela IAAF nos Campeonatos Mundiais, o que só aconteceu no dia 23 de julho.

"No ano passado, já tinha feito uma preparação, tinha feito 30 km. Eu sou uma atleta que nunca está a dever quilómetros ao treinador. Todas as vezes que as coisas correram mal, foi pelo excesso, nunca pelo défice", explicou.

O treinador concorda, descrevendo a pupila como uma "atleta trabalhadora. Não sendo um talento natural, é um talento pela força de vontade. Ao longo destes anos, acumulou muitos quilómetros".

Durante a carreira, a marchadora disputou provas de 20 km, mas na sombra de outras atletas e sem pódios internacionais.

O desafio feito por Jorge Miguel para mudar para esta distância foi aceite em poucas horas e a adaptação principal foi reduzir a intensidade do passo.

"É ter paciência e como eu gosto de marchar, ok, vamos marchar 20 quilómetros, 25, 28, 30, 40? e verdadeiramente, a preparação para este Mundial não custou muito porque eu estava a fazer o que gosto", garantiu.

Inês Henriques é, por natureza, impaciente: não gosta de estar desocupada, passou dez anos sem gozar férias e isso reflete-se no desporto, mas para esta prova precisou de aprender a controlar o impulso e reduzir a velocidade para conseguir aguentar a distância.

"Eu, como atleta, gosto de poder andar mais rápido, gosto de ser eu a mandar no meu corpo e não o meu corpo a mandar em mim. Nos 50, tenho de ser eu a comandar, mas tenho de ouvir o meu corpo e tenho de manter os ritmos" refere.

Aos 37 anos, confessa que é um "sonho fantástico" ter um recorde mundial, uma motivação para continuar uma carreira que no ano passado ponderou abandonar para tornar-se enfermeira.

Atualmente, o sonho é continuar a competir internacionalmente até aos Jogos Olímpicos Tóquo2020.

"O objetivo que temos, se o corpo permitir, se continuar a ter um bom nível e prazer no que estou a fazer, é ir a Tóquio e depois terminar no Grande Prémio de Rio Maior em 2021. Terminar na minha cidade com a minha gente, acho que tem todo o sentido", anunciou.