A Bielorrússia não apresentou os mesmos argumentos financeiros do Azerbaijão para uma opulenta cerimónia de abertura, mas venceu pela sua aposta na alma e história do seu povo, maravilhando o planeta com a prata da casa.
Sem estrelas internacionais e cobrar valores proibitivos para ‘aparecer’ – em Baku, Lady Gaga embolsou quase dois milhões para cantar ‘imagine’ de John Lennon em atuação de cinco minutos -, a organização de Minsk2019 esmerou-se e presenteou sexta-feira o mundo com um espetáculo de elevada qualidade artística, e com a pompa que o evento merece.
As estrelas foram poetas, sobretudo estes e as suas célebres palavras, reis, desportistas, músicos, o quotidiano e o povo que tem moldado a história deste país, dos mais fechados e misteriosos com quotidiano dos menos conhecidos Europa.
Ao vivo, foram 22.000 os privilegiados a assistir, mas as imagens deste espetáculo multimédia de 2:42 horas foram transmitidas em 148 países, numa mensagem que chegou a muitos milhões, sem o ‘show-off’ de Baku, mas com mais alma.
Um palco gigante redondo e com oito mega-projetores foi o centro de boa parte do espetáculo com muita dança, música e cor, que fez pulsar os corações dos bielorrussos, munidos de uma pulseira que dava luz sempre que a mão batia no peito, em várias manifestações de amor à pátria.
E foi de sentimentos de união e partilha que António Guterres, presidente das Nações Unidas (ONU), falou em curto vídeo exibido, no qual destacou o desporto como um agente privilegiado para o “respeito, paz e amizade” entre os povos.
Apelou à consideração pela diferença entre as pessoas, formulou o desejo de “não deixar ninguém para trás” e assumiu que o desporto “pode ser um meio para a paz e próspero futuro que todos desejamos”.
De Portugal, era a bandeira que desfilou no 38.º lugar, empunhada por Marcos Freitas, jogador de ténis de mesa, que há quatro anos conquistou a medalha de ouro por equipas, juntamente com Tiago Apolónia e João Geraldo.
São 4.000 os atletas a competir em Minsk2019, menos dois mil do que em Baku2015, que construiu de raiz um estádio olímpico para 70.000 pessoas – o do Dínamo Minsk foi renovado e tem menos de um terço da capacidade – que vão competirem 15 desportos e 23 disciplinas, em 200 eventos com direito da medalha, ‘supervisionados’ pelo entusiasmo de 8.000 voluntários.
O controverso presidente do país, Alexander Lukashenko, em funções desde 1994, falou de “vitórias brilhantes” e prometeu que o mundo se vai encantar com a “terra hospitaleira" que dirige.
Elogiou o caráter dos seus conterrâneos, falou de amizade, respeito, tolerância e prometeu “dar tudo isso” a quem de alguma forma está em Minsk pelos II Jogos Europeus, “um evento que une nações”.
A tocha, que a 03 de maio partiu de Roma, andou pela mão de 450 pessoas ao longo de 7.700 quilómetros e sexta-feira alimentou a chama, com o derradeiro testemunho a ser protagonizado por sete antigos campeões olímpicos do país, ‘disparando’ foguetes ao mesmo tempo até a pira, igual à dos Jogos de Moscovo1980, inflamar em quentes tons de laranja.
No fim, missão mais do que cumprida pelos 1.300 que trabalharam na organização da cerimónia de abertura, que contou com mais de 500 artistas (usaram mais de 1200 trajes) e mais de 700 voluntários.
Com 9,5 milhões de habitantes, dois dos quais na capital Minsk, que ombreia com muitas cidades da Europa em termos de modernidade e imponência dos seus edifícios, a Bielorrússia levantou o véu da sua intimidade, despertando o interesse por uma nação com muito por descobrir.
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