O antigo ciclista Vasco Costa é um dos médicos oficiais da 78.ª edição da Volta a Portugal em bicicleta, a experiência de pelotão facilita o trabalho, numa corrida atípica e recheada de quedas.
“Tem sido uma Volta atípica. Por norma, o pelotão está mais nervoso nos primeiros dias, porque atinge velocidade mais alta, os corredores estão com mais força, mas espero que normalize entretanto, quando as equipas começarem a controlar mais a corrida com a definição das posições na geral”, afirmou Vasco Costa, que, aos 33 anos, cumpre a sua quinta Volta.
A atipicidade da corrida é justificada pelo clínico com a abundância de quedas, que já afetaram, por exemplo, os chefes de fila do Sporting-Tavira, Rinaldo Nocentini, e da Rádio Popular-Boavista, Rui Sousa, que continuam na corrida, ao contrário do dinamarquês Frederik Zeuner (Christina Jewelry), cuja indicação médica ditou o seu abandono.
“O corredor tinha um golpe muito profundo e muito sangrante na asa do nariz, que nós não conseguíamos estancar. Sugerir a desistência é a última coisa que fazemos e apenas quando não conseguimos resolver no momento a situações ou porque suspeitamos que é algo mais grave”, explicou.
Feito o diagnóstico e esgotadas as tentativas de cura, um dos dois médicos da Volta explica o sucedido e tenta um acordo com o diretor desportivo da equipa do acidentado para o encaminhamento para uma unidade de saúde.
“Temos de gerir várias coisas, porque sempre que transportamos um atleta ao hospital ficamos sem uma ambulância e se uma corrida ficar sem as três que seguem na caravana tem de ser imediatamente interrompida”, referiu, ressalvando que tal nunca ocorreu numa prova em que trabalhasse.
Este exercício de gestão de meios levou Zeuner ao hospital de Braga, apesar de Guimarães ficar mais próximo, para que a ambulância pudesse acompanhar a parte final da etapa, e para que o corredor ficasse mais perto do local onde a equipa estava alojada nesse dia.
A Volta a Portugal emprega meios diferentes das outras provas nacionais e que são alterados em função do perfil da etapa, como é o caso da de hoje, com a subida à Senhora da Graça, em Mondim de Basto. Além das três ambulâncias, a caravana conta com dois carros médicos e dois enfermeiros, normalmente um no carro médico que segue na frente e outro na ambulância da retaguarda – é este enfermeiro que acompanha o acidentado ao hospital.
“A experiência que tinha do pelotão é muito importante, se a medicina desportiva é diferente da clínica geral, acho também que um médico de ciclismo é muito diferente dos restantes desportos. Aliás, acho que mais nenhum desporto obriga à assistência em andamento”, sublinhou Vasco Costa, acrescentando que os restantes elementos da sua equipa têm mais experiência de provas, mas não como praticantes.
O médico vai entretanto abandonar a Volta a Portugal, para “concretizar o sonho” de estar nos Jogos Olímpicos, integrando a organização, após a decisão “na brincadeira” de avançar para uma candidatura. Foi aceite e Vasco Costa segue para o Rio2016 juntamente com o motorista e um enfermeiro.
“Formamos uma equipa dinâmica, acho que foram fatores tidos em conta pela organização, e, claro, é a oportunidade de concretizar o sonho de estar no maior evento desportivo, algo que não consegui como atleta. Não deixamos a prova de maior carisma do país de ânimo leve, mas temos plena confiança na equipa que fica. O pelotão fica bem entregue”, rematou.
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