João Almeida, o fã da ‘corsa rosa’, e Ruben Guerreiro, o “caça etapas”, apoiaram-se mutuamente na Volta a Itália e hoje mostraram-se esperançados de que os seus feitos possam inspirar uma nova vaga de ciclistas portugueses.
Embora em equipas diferentes, foram muitos os momentos em que os (tele)espetadores puderam presenciar o apoio de Ruben Guerreiro (Education First) a João Almeida (Deceuninck-QuickStep) na defesa da camisola rosa que o jovem de A-dos-Francos envergou durante 15 dias.
“A minha corrida acabava mais cedo e pensava ‘vamos lá vestir a camisola de Portugal’. Os meus diretores não levavam a mal e eu tentava dar um incentivo ao João. Em tom de brincadeira, […] houve dias e dias – quantos foram? 10? -, em que nos juntávamos à partida e eu dizia-lhe ‘amanhã aqui à mesma hora’”, revelou o sempre bem-disposto ciclista da Education First, arrancando gargalhadas àqueles que estiveram presentes na conferência de imprensa dos dois portugueses, na chegada a Portugal.
Mais contido, Almeida recordou que, no final da nona etapa, vencida por Guerreiro, na véspera do primeiro dia de descanso, quando chegaram ao pódio, o compatriota o avisou: “terça-feira à mesma hora”.
“Depois falhei eu. Depois recuperei a camisola e perguntei se tinhas saudades”, brincou o ciclista do Montijo, de 26 anos, para rápida resposta do mais jovem: “Não tinha passado um dia e já estava a chorar por ele”.
A boa relação dos dois ajudou-os ao longo das duras três semanas da ‘corsa rosa’, com Almeida a dizer que falavam, comunicam e tentavam motivar-se diariamente, até porque eram os dois únicos portugueses em prova e tudo o que pudessem alcançar seria bom para o país.
E foi precisamente para Portugal e para o ciclismo português que pendeu a ‘conversa’, com ambos a assumirem ainda não terem tido noção do verdadeiro impacto nacional das suas exibições, por terem estado tão concentrados na corrida.
“Ficámos mesmo muito contentes de haver ciclismo, em Portugal e no estrangeiro […]. Esse foi o primeiro passo. Depois, esta questão toda [da pandemia de covid-19] deu-nos tempo para pensarmos bem no que queríamos e agarrar as oportunidades. Penso que foi uma motivação extra. Como nós, há mais talentos por aí no ciclismo. Temos o Rui [Costa], que ainda não está terminado, o nosso campeão, e jovens como o André Carvalho, que assinou agora pela Cofidis, e é outro português no WorldTour”, analisou Guerreiro.
O ‘rei da montanha’ do Giro respondia assim a uma questão sobre a influência que o desempenho dos portugueses em Itália pode ter na modalidade, recordando que, quando Rui Costa foi campeão do mundo, em 2013, se lembra de pensar: “Um dia também gostava de ser campeão do mundo”.
“Dá-nos uma motivação extra e esperamos que os jovens estejam de olho em nós e noutros corredores portugueses e que tenham sorte, que também é preciso”, completou, enquanto o quarto classificado da ‘corsa rosa’ admitiu que ficaria “muito orgulhoso” se os miúdos que estão a dar as primeiras pedaladas olhassem para si como uma inspiração.
Questionados sobre o futuro nas grandes Voltas, quer Almeida, quer Guerreiro foram cautelosos. “Sou um caça etapas, não penso muito na geral ainda. Gostava de ter a oportunidade das clássicas nas Ardenas”, disse o mais velho dos dois, com o mais novo a notar que as corridas de três semanas são “muito duras”.
“Em três semanas, todos os dias temos de estar bem física e psicologicamente. Tanto eu como o Ruben demonstrámos bastante responsabilidade. Claramente temos muito de trabalhar. No ciclismo, ninguém está para brincadeiras, o nível está muito elevado, e todos querem ganhar”, defendeu.
Aquele que é já o melhor português de sempre no Giro afastou ainda a hipótese de estar, a curto prazo, a lutar pela geral na Volta a França.
“Por enquanto, não. Gosto do Giro, é a minha grande Volta favorita. Mas vamos continuando a aprender, tentar descobrir-me a mim próprio. Sonho um dia terminar a Volta a França, qualquer corredor o sonha. Mas, pessoalmente, gosto mais do Giro”, concluiu.
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