João Matias e Diogo Narciso estão unidos na missão de qualificar a seleção portuguesa masculina de ciclismo de pista para Paris2024, sobrepondo o interesse nacional inclusive ao sonho de estarem nuns Jogos Olímpicos.
“Não poderemos estar todos nos Jogos, isso é certo”, dispara o mais ‘veterano’ dos ‘pistards’ portugueses, a quem coube, juntamente com Narciso e Iúri Leitão (Caja Rural), representar Portugal nas duas últimas Taças das Nações de Pista, em Jacarta (Indonésia) e no Cairo (Egito).
O ciclista da Tavfer-Ovos Matinados-Mortágua, de 31 anos, está “a trabalhar para pôr Portugal nos Jogos” Olímpicos, independentemente de ser ou não um dos escolhidos para Paris2024.
“Se for convocado, ficarei orgulhoso. Se não for convocado, orgulhoso tenho que estar, porque penso que, do grupo que temos, todos merecemos ir aos Jogos. Por isso, quem vá, vai ser justo, quem não for, se calhar vai ser um bocado injusto, mas o que é que se pode fazer? A vida nem sempre é justa, não há lugar para todos, há lugares limitados e temos que aceitar isso. Infelizmente, os Jogos Olímpicos são assim e é assim que tem que se viver”, resumiu, pragmático.
Com Portugal a poder levar dois – no máximo, três – representantes caso se qualifique para as disciplinas de Madison e omnium, alguém ficará de fora, com Diogo Narciso a partir do princípio que será um deles.
“É muito importante para nós estar no patamar dos Jogos Olímpicos e eu poder estar integrado nesse projeto é sempre muito bom. Em 2024, em princípio, não vou lá estar, mas quem sabe em 2028 possa estar. E o que eu mais quero agora é contribuir para que a nossa seleção esteja presente [em Paris2024]”, vincou o ‘miúdo’ da Credibom-LA Alumínios-Marcos Car.
Aos 21 anos, Narciso é, juntamente com o colega Rodrigo Caixas, um ‘novato’ na seleção de pista, ao contrário dos experientes Matias, Leitão e gémeos Rui e Ivo Oliveira (UAE Emirates), mas parece ter assimilado na perfeição o espírito de família que se vive no grupo “excelente” e de “amigos”, como o descreve o ciclista da Tavfer-Ovos Matinados-Mortágua.
“Queremos sempre que a nossa nação esteja presente e que possa fazer o melhor resultado possível e, sem dúvida, eu acho que temos uma seleção muito forte e que vamos estar lá no omnium e no Madison e também com a Tata [Maria Martins] no omnium feminino. É dar tudo sempre para a nossa seleção para termos os melhores resultados possíveis”, defendeu o jovem que acredita que Portugal vai “conseguir a qualificação sem problemas”.
Mais cauteloso, Matias pensa que “o trabalho está a ser bem feito” e a seleção nacional masculina está bem encaminhada para ir pela primeira vez aos Jogos – ‘Tata’ Martins esteve em Tóquio2020 -, mas ressalva que todos os ‘pistards’ lusos têm de pensar que “o pior, às vezes, pode acontecer”.
“Mas quero acreditar que com o grupo que temos, sem azares ou sem muitos azares, penso que estaremos nos Jogos, temos de estar”, completou.
Quem muito tem ajudado à missão dos dois corredores são as respetivas equipas, com ambos a enaltecerem a importância do apoio e da compreensão das suas ‘chefias’.
“Nem sempre é fácil estar numa equipa de estrada e eles darem-me a liberdade de estar fora com a seleção para correr a pista. Estou-lhes muito grato, porque isto é um objetivo pessoal e penso que passou a ser também um objetivo da equipa ter uma atleta que está ao serviço da seleção […]. Penso que, se calhar, a equipa da Tavfer-Ovos Matinados-Mortágua também vê aqui uma possibilidade de ter algum destaque na pista e penso que isto é bom”, analisou Matias, que iniciou a Volta ao Alentejo, que hoje termina, com “apenas quatro dias de corrida de estrada”, o que é “um bocado pouco”.
Também Narciso, que se prepara para concluir hoje a sua segunda ‘Alentejana’, assume que é “sempre bom ter uma equipa que também entende os objetivos na pista”.
“E eu sempre fui claro com eles, que queria estar bem na pista e queria ter resultados na pista e eles sempre me puseram à vontade para isso. É bom que eles compreendam e que me ajudem também nesse sentido”, rematou.
Para o jovem da Credibom-LA Alumínios-Marcos Car, há uma mudança de mentalidades em curso no ciclismo nacional.
“Cada vez há mais gente em Portugal a ver pista, mas lá fora a pista é um espetáculo. Vamos a países como a Inglaterra, como a França, e vemos velódromos cheios e gente a vibrar com aquilo e a pista é, sem dúvida, um espetáculo. E só quem vê ao vivo, entende”, garantiu.
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