Portugal tem dito sempre presente em fases finais de Europeus e Mundiais de futsal, tem sido esse o padrão dos últimos anos. E nesse padrão cabe também as derrotas na hora das grandes decisões, o que tem impedido a seleção de dar o passo seguinte para alcançar um grande título.
Uma das discussões do momento passa pela renovação do núcleo duro da seleção, uma mudança de geração. Os atletas que nos últimos anos levaram Portugal a dar um salto qualitativo na modalidade começam a atingir uma idade de respeito, e a ascensão de novos valores tem resultado num processo algo moroso.
Em entrevista ao SAPO Desporto, o jogador de futsal Ricardinho defende que essa renovação não pode acontecer a qualquer preço, até porque defende que muitos dos jovens jogadores ainda não têm a competitividade necessária para estar nas grandes decisões, e dá o seu próprio exemplo.
«Eu digo sempre a mesma coisa. Eu quando estava no Miramar não estava minimamente preparado para chegar ao Benfica e jogar a um alto nível. Eu precisei de quase dois anos para despontar no Benfica. E tu queres chamar-me um jogador, com todo o respeito que tenho pelos clubes e campeonatos, dos Leões de Porto Salvo ou de outro clube mais pequeno para jogar com regularidade na seleção? Olhemos para o Nandinho do Modicus, que é um grande amigo que tenho, e que foi o melhor marcador do campeonato no ano passado. Ele foi connosco ao Mundia de futsal em 2012, chegou lá e reconheceu que o nível era muito elevado, tendo em conta o que ele estava habituado. É a mesma coisa que mudar de um Renault Clio para um Ferrari», começou por dizer.
O internacional português considera que um jogador não se prepara «num mês de estágio» e que este necessita de experimentar uma equipa com um nível de exigência e de trabalho elevado para que possa realmente evoluir.
Outro dos problemas que Portugal tem enfrentado diz respeito à barreira psicológica que se ergue em encontros com a Itália, Espanha e Rússia ou Brasil. A seleção lusa já consegue lutar durante o jogo de igual para igual com as grandes potências, porém na hora H os resultados não têm aparecido.
Ricardinho repete nesta entrevista um pensamento que já expressa há alguns anos: é necessária uma mudança de mentalidade.
«Na minha opinião, nós precisamos de ter jogadores mais competitivos e de mudar a nossa mentalidade. Se jogamos contra equipas com a Eslovénia, Eslováquia, sabemos que somos superiores e queremos provar isso em campo. Já quando defrontamos Itália, Espanha ou Rússia, parece que vamos para dentro de campo com a ideia de que vamos perder. Temos de mudar a nossa postura», atirou.
Inevitável é a pergunta de por que é que essa mudança ainda não aconteceu. O jogador português tem dificuldades em encontrar uma resposta.
«Não te consigo dizer. É um trabalho psicológico que cabe a cada jogador. Há momentos de jogo mais difíceis, em que é necessário concentração total e isso implica que os jogadores tenham tido vários jogos competitivos durante a época. Já estive na Rússia, agora em Espanha e existe uma mentalidade vencedora. Nós temos jogadores com qualidade, treinadores com qualidade, mas o que faz a diferença é acreditar no que fazemos», explica.
Portugal tem em janeiro de 2014 uma oportunidade de provar que algo mudou, tem a oportunidade de mostrar no próximo Europeu de futsal, que decorre na Bélgica, de que está na altura de começar a estar nas grandes decisões, e ganhá-las.
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