Só nos últimos cinco anos, o “braço futebolístico” do PCFR alcançou dois títulos de campeão e dois de vice-campeão, numa história de sucesso que não vincula os atletas ao marxismo-leninismo e por onde já passaram portugueses e brasileiros, segundo Arkadi Beli, presidente do emblema há 15 anos.
“Nos primeiros anos do século, realizavam-se torneios de futsal de equipas de partidos políticos, equipas totalmente amadoras. Foram um êxito, as pessoas gostavam e enchiam os pavilhões. O próprio [Gennadi, secretário-geral do PCFR] Ziuganov era presença assídua”, conta à agência Lusa Arkadi Beli, de 51 anos,
Depois, a formação do partido entrou no campeonato de Moscovo, que venceu em 2006, 2007 e 2008, segundo o líder do clube que fazia parte desta equipa enquanto frequentava a Faculdade de Filologia da Universidade de Lomossonov.
Entretanto, visto o interesse demonstrado, a equipa do PCFR passou a ser profissional e inscreveu-se no campeonato da II divisão, em 2009: “E começámos a evoluir”, relata Arkadi.
Ao mesmo tempo, a secção desportiva do PCFR passou a acarinhar outras modalidades, como o basquetebol, o voleibol e também a natação infantil, de frequência gratuita para as famílias de modestos rendimentos e criou filiais em 45 regiões da Rússia.
“Todos os anos, organizamos torneios consagrados a essas equipas, torneios que captam muitos assistentes e têm honras de transmissão televisiva”, descreve o presidente do clube.
Aos jogadores não é exigida militância no PCFR, “de modo algum”, ainda que “alguns são realmente membros do partido, mas por sua livre vontade” e haja quem “participe em campanhas partidárias, exceto nas de natureza eleitoral”.
O “adepto mais entusiasta”, segundo Arkadi Beli, é a segunda figura do partido, Ivan Melnikov, que é também vice-presidente da Duma (parlamento), e que “conhece todos os jogadores e está a par de tudo o que acontece” no clube.
“O partido, embora dedicando-se prioritariamente à política, faz-se representar nos nossos jogos. Por vezes, dá-nos sugestões, que poderemos acatar ou não”, observa.
O PCFR, sucessor do antigo Partido Comunista da União Soviética [PCUS), é a segunda maior força partidária no país, tendo eleito 57 deputados para a Duma nas legislativas realizadas em 2021, embora a larga distância da vasta maioria da Rússia Unida, que alcançou 324 dos 450 assentos parlamentares.
Nas presidenciais realizadas em março passado, e às quais vários candidatos foram impedidos de concorrer, o PCFR indicou deputado Nikolay Kharitonov, de 75 anos, que ficou em segundo lugar, recolhendo apenas 4,3% dos votos, contra 88,4% do líder do Kremlin.
No PCFR atuam jogadores estrangeiros, nomeadamente quatro brasileiros, mas só três podem entrar em campo, e parecem bem adaptados com famílias constituídas e filhos russos.
“Já tivemos atletas portugueses e espanhóis, mas quando o cenário político se complicou, com as sanções e tudo o mais, deixaram o nosso país”, recorda o dirigente, referindo-se às restrições internacionais impostas e Moscovo no seguimento da invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022.
Arkadi Beli lamenta que a sua equipa, que foi campeã pela última vez na temporada de 2022/23, não tenha podido alinhar na Liga dos Campeões da UEFA, já como resultado da exclusão das formações russas das competições europeias e mundiais após a ofensiva na Ucrânia.
“Resta-nos a consolação de termos defrontado o Barcelona, embora no tempo complicado da [pandemia] covid, com o pavilhão totalmente vazio, o que retira muito interesse à competição”, comenta
Os embates internacionais mais de 30 anos após o desaparecimento da União Soviética e do PCUS podem ainda provocar estranheza quando entra em campo uma equipa chamada Partido Comunista, segundo o presidente do clube.
Recorda a propósito um episódio, que situa apenas como tendo ocorrido num país de língua inglesa, em que o problema da designação foi contornado com a retirada do símbolo universal da foice e do martelo do emblema do clube e mantido o kapa para a palavra Comunista e não o cê como é grafado na maioria das línguas.
O objetivo da equipa a curto prazo é, “uma vez mais, lutar pelo título de campeão, no campeonato que recentemente conheceu as primeiras jornadas, e erguer a taça” que na última temporada foi entregue à gigante energética estatal Gazprom.
“Mas agora temos dois ou três jogadores muito fortes”, entusiasma-se Arkadi, afirmando que o clube “tem consciência das obrigações sociais a que está sujeito”, mas sem esquecer este objetivo.
O presidente do PCFR deixa ainda palavras para Portugal: “Respeito muito o desporto português, visitei o vosso país mais do que uma vez, tenho amigos a residir em Portugal e somos amigos de clubes portugueses, nomeadamente do Sporting, onde atuam dois russos”.
Espera que as adversidades colocadas pela situação internacional e isolamento desportivo da Rússia sejam ultrapassados.
“Desejo francamente que todos nos empenhemos para ultrapassar as complicações que não nos impedem de conviver. Pelo nosso lado, esperamos voltar a competir, em breve, nas arenas internacionais”, afirmou.
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