Os Estados Unidos anunciaram hoje que não vão transferir a verba prevista para a Agência Mundial Antidopagem (AMA), uma decisão “plenamente” apoiada pela Usada, no seguimento da ilibação de 23 nadadores chineses por aquele organismo.

“Foi anunciado hoje que o Gabinete da Política Nacional de Controlo de Drogas reteve a sua contribuição de 3,6 milhões de dólares [3,4 milhões de euros], relativa a 2024, para a AMA. A Usada apoia plenamente esta decisão, a única possível para proteger o direito dos desportistas e uma competição justa”, indica a agência antidopagem norte-americana, em comunicado.

O anúncio da Usada representa mais um episódio no conflito que opõe os Estados Unidos à AMA, colocada em causa na primavera de 2024 depois de ter sido conhecido que 23 nadadores chineses deram positivo por trimetazidina antes dos Jogos Olímpicos Tóquio2020 – disputados em 2021 devido à pandemia de covid-19 –, mas não foram castigados.

“Infelizmente, os atuais dirigentes da AMA não deixaram outra opção aos Estados Unidos após terem recusado responder a solicitações bastante razoáveis, nomeadamente uma auditoria independente às atividades da AMA, de modo a alcançar a transparência e responsabilidade necessárias para assegurar que o organismo está apto para proteger os atletas”, lê-se no texto, assinado pelo presidente da Usada, Travis Tygart.

Esta não é a primeira vez os Estados Unidos recusam transferir a verba prevista para a entidade que combate a dopagem a nível mundial, tendo o mesmo acontecido quando o sistema de dopagem estatal na Rússia foi conhecido, recorda o comunicado.

“O não pagamento da contribuição de 2024 não terá qualquer impacto no direito dos atletas dos Estados Unidos de competirem no país ou em todo o mundo”, garante.

O relatório de um procurador independente concluiu em julho que a AMA “não favoreceu” a China nos casos de doping de 23 nadadores antes de Tóquio2020.

Em abril, a televisão alemã ARD e o New York Times revelaram este caso, com a agência norte-americana a criticar a AMA, que alegou a inexistência de “provas credíveis” contra os visados.

De acordo com a investigação, 23 dos melhores nadadores chineses testaram positivo no início de 2021 a trimetazidina, substância proibida desde 2014 por melhorar a circulação sanguínea e que já foi detetada no nadador chinês Sun Yang e na jovem patinadora russa Kamila Valieva.

Desses 23 nadadores reportados, 13 competiram em Tóquio2020, sendo que três conquistaram medalhas de ouro: Zhang Yufei, nos 200 metros mariposa e nos 4x200 livres, Wang Shun, nos 200 estilos, e Yang Junxuan, nos 4x200 livres.

Na altura, o Ministério de Segurança Pública da China realizou uma investigação a estes testes positivos, sendo que em março de 2021 um relatório da Agência Antidopagem Chinesa concluiu pela existência de contaminação alimentar.

Não houve qualquer suspensão provisória dos nadadores entre os testes positivos e a apresentação deste relatório.

Notificada em junho de 2021, a AMA não conseguiu enviar os seus investigadores para a China devido a restrições sanitárias ligadas à pandemia de covid-19, mas consultou especialistas independentes e recolheu “informações científicas adicionais sobre a trimetazidina”.

Nesse sentido, concluiu que não foi “capaz de refutar a possibilidade de contaminação como fonte de trimetazidina”, pelo que se absteve tanto de recorrer da falta de sanções aos atletas como de comunicar o caso.