De Espanha, diz o ditado, "nem bons ventos, nem bons casamentos”. A lógica secular da relação ibérica pode, contudo, inverter e trazer boas novas. Tudo depende do vento que sopre de Madrid. E um “azar” na capital espanhola pode, e de que maneira, se transformar na “sorte” do que acontece no Estoril. Expliquemos.

A 10.ª edição do Millennium Estoril Open, este ano despromovido de ATP 250 para Challenger 175, decorre de 26 de abril a 4 de maio.

Três dias antes do início do maior torneio de ténis português, começa o Mutua Madrid Open ATP 1000, disputado em terra batida desde 2009 e, por inerência, concorrente direto do pó de tijolo que assenta no Clube de Ténis do Estoril.

Ora, a coincidência de datas entre o Masters 1000 de Madrid (23 de abril a 4 de maio) e o Estoril pode roubar ou fornecer de bandeja grandes nomes ao quadro principal do torneio português. Tem a palavra a bola da capital espanhola.

Nuno Borges, Jaime Faria e João Fonseca entre capitais ibéricas

João Fonseca, o mediático jogador brasileiro de 18 anos, número 59 do ranking ATP, e os portugueses Nuno Borges (43.º) e Jaime Faria (99.º), este último wildcard do torneio e a recuperar de lesão, estão nesse pêndulo de inscritos.

“Não quero que corra mal a ninguém, mas sei que um torneio de ténis é ingrato, porque a cada ronda metade perde. Vimos isso em Monte Carlo, uma data de estrelas que perderam a primeira ronda”, sublinhou aos jornalistas João Zilhão,diretor do Millennium Estoril Open (217 mil euros em prémios monetários).

“Muitos e bons jogadores vão perder na quarta, na quinta, na sexta, no sábado e no domingo em Madrid...e depois vou ter muito de telefonemas. A decisão de quem é que ajudo é que vai ser a mais importante”, disse à margem da conferência de imprensa que decorreu na Nova SBE, em Carcavelos.

Apresentação da 10.ª edição do Millennium Estoril Open
Apresentação da 10.ª edição do Millennium Estoril Open Apresentação da 10.ª edição do Millennium Estoril Open créditos: FERNANDO CORREIA

Questionado sobre se a boa campanha do português Nuno Borges ou da estrela brasileira no court e nas redes sociais, João Fonseca na capital espanhola, desviando-os da rota do Estoril, poderia roubar mediatismo ao torneio luso, João Zilhão não se mostrou incomodado.

“É bater palmas a eles, desejar-lhes boa sorte e contar vê-los em 2026 como ATP 250”, sublinhou. “Não estou preocupado com isso. Sei que vamos ter um grande quadro, com grandes nomes”, assegura.

“Temos algumas indefinições, acontece todas as semanas em torneios do ATP. Lesões, jogadores que não podem ir. Lembro-me de há dois anos dei um wildcard (convite) ao (Stan) Wawrinka, tinha as ruas todas em Portugal com a Wawrinka, e depois não veio”, recordou. “Acontece muito no ténis”, reforçou.

À margem das incertezas, deixou escapar um desejo de ver alguns jogadores apanharem a boleia do convite da organização, caso fiquem por terra nas primeiras rondas em Madrid.

“Acho que o (Bem) Shelton é um grande nome, o (Frances) Tiafoe é outro grande nome, o (Grigor) Dimitrov, o (Matteo) Berrettini, há grandes nomes que estão fora do top 10 e que podem vir a engrandecer o quadro”, ressalvou.

“Tenho vários nomes e tenho os agentes a ligarem-me. Mas não posso dizer os nomes de quem gostava que perdesse em Madrid”, confessou. “Nem posso pagar cachets este ano”, frisou ainda.

O sonho de uma vitória portuguesa. Nuno Borges ou Jaime Faria

Sortes e azares à parte, para a 10 edição do Estoril Open, torneio que já conheceu 9 campeões diferentes, João Zilhão deixa ainda expresso um sonho. “Ver um português a ganhá-lo novamente. Foi talvez um dos momentos mais marcantes da minha vida, quando o João Sousa se atira para trás, quando venceu a edição de 2018. Adorava voltar a viver esse momento, com o Nuno, com o Jaime, ou outro jogador português, mas, obviamente, estes são os dois que estão, neste momento, no quadro principal”, apontou.

Em relação ao convite feito ao Jaime Faria, a recuperar de lesão, justificou. “Falei com a equipa dele, ele diz que vai estar bom para jogar. Se não estiver bom, depois devolve o wildcard e joga outro. Não vai jogar lesionado”, dá a garantia.

“Pelo ranking e pelo tudo o que fez, é mais do que merecido. Não hesitei um milissegundo em dar ao Jaime”, reforçou. Estava inscrito, não entrou, porque o quadro está fortíssimo, fechou no 83.º do mundo”, assinalou. Jaime merece. Não houve muitos jogadores a subirem 400 lugares o ano passado, e é, claramente, o segundo melhor português da atualidade e um tipo extraordinário”, finalizou.

Sob o lema “Esta nossa Terra”

Ainda a depender do que se passará no Masters 1000 de Madrid, os 28 jogadores do quadro principal de singulares (19 com acesso direto e três wildcards da organização), de 10 nacionalidades, espelham uma combinação entre veterania credenciada e juventude prometedora.

Entre estes, sobressaem Lerner Tien, Alex Michelsen, Kei Nishikori, “o melhor tenista japonês e asiático de todos os tempos” Roberto Bautista-Agut, ex-top-10 e “dois vice-campeões, como Miomir Kecmanovic e Pedro Martinez”, enumerou João Zilhão.

20 mil euros num super tie-break

A edição 10 do Estoril Open trará um “pre-qualifying”, de 26 a 27 de abril, em que seis jogadores disputam um wildcard”, anunciou o diretor do torneio.

Uma das novidades é o Cascais Super Shootout, com oito tenistas escolhidos por João Zilhão que vão disputar encontros até 10 pontos. “Oito jogadores presentes no torneio e inscritos”, reforçou. O vencedor engrossa a conta bancária em 20 mil euros.

Por fim, ainda antes do arranque do quadro principal, o lado social do evento entre em campo com o Celebrity Pro-Am que oporá duas celebridades portuguesas contra dois tenistas já retirados.